Os vermes são animais invertebrados que encontramos na terra, nas plantas, nos vegetais e nos rios. “Os mais conhecidos são aqueles chamados de parasitas. Eles se instalam no nosso organismo quando os ingerimos ou quando ingerimos suas ovas,” explica a farmacêutica Paula Molari Abdo, especialista em Atenção Farmacêutica pela Universidade de São Paulo (USP) e membro da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH). O quadro é conhecido como verminose – infecção causada por algum tipo destes parasitas.
Como os vermes são transmitidos através de água e alimentos contaminados, é normal que as crianças acabem se infectando após o início da introdução alimentar. “Não é uma doença comum antes dos 6 meses, quando o bebê ainda está em aleitamento materno”, afirma o pediatra Paulo Telles. Ainda assim, as verminoses podem aparecer desde cedo, sendo mais prevalentes em idade escolar (de 7 anos a 14 anos).
Por colocarem muito as mãos e objetos na boca, os mais jovens tendem a se infectar mais do que os adultos. “Infelizmente, as parasitoses afetam 36% da população brasileira, com uma prevalência de 55% entre as crianças”, diz o médico. Os sintomas das doenças podem variar. Dores abdominais, náuseas, vômitos, coceira na região anal, irritabilidade, diarreia e falta de sono ou apetite costumam ser as queixas mais frequentes.
Nesses casos, é indicado o uso de vermífugos. Eles são medicações para eliminar os vermes e desparasitar a criança. “De diferentes maneiras, os vermífugos evitam que o parasita se fixe na parede intestinal, matam ou inibem a sua reprodução”, explica Paula. O uso dos remédios varia para cada tipo de verme e pela idade do paciente. A seguir, respondemos as principais dúvidas sobre o medicamento no público infantil.
A criança precisa tomar vermífugo todo ano?
Essa é uma prática que acabou sendo adotada de forma rotineira décadas atrás, quando tínhamos condições de saneamento piores no país. “Por isso, até hoje, muita gente ainda acaba medicando o filho todo ano”, explica o pediatra. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o tratamento contínuo com o remédio seja feito em regiões onde as taxas da doença e de reinfecção são altas.
“Nas áreas onde há desnutrição leve ou moderada e parasitas disseminados, bem como exames de laboratório inexistentes ou de difícil acesso, se faz o uso regular das substâncias. Os agentes públicos, juntamente com as equipes médicas, podem determinar a melhor prevenção”, explica a farmacêutica.
Portanto, a frequência de uso dos vermífugos vai depender da situação da cidade e das condições de saneamento do local de moradia. “Se existir alto risco de contaminação, o pediatra pode prescrever o vermífugo duas vezes ao ano, sem realizar exames”, diz Paulo. Em áreas de risco moderado, o indicado é uma vez ao ano. E em regiões de baixo risco, deve-se realizar exames de fezes e iniciar o tratamento apenas se for detectado algum verme.
Tudo depende de fatores que o pediatra deve avaliar. “Alguns adotam a conduta de prescrever a cada seis meses, conforme avaliam hábitos e ambientes em que a criança está exposta. A recomendação é não tomar qualquer medida sem consultar um médico”, orienta a farmacêutica.
Vermífugo é indicado depois de uma viagem?
Quanto piores forem as condições de saneamento e de higiene do ambiente que a criança frequenta, maior será a taxa de contaminação. As infecções são mais comuns em países em desenvolvimento. Hábitos de brincadeiras na terra, rios e nas plantas também expõem o pequeno.
Por isso, ao voltar de viagem é muito importante consultar o pediatra para obter uma prescrição de forma adequada. “Normalmente ele avalia se ocorreu alguma visita a locais que não tem higiene e condições sanitárias adequadas, se há sintomas, se houve diagnóstico da doença em algum familiar e outros aspectos antes de indicar qualquer medicamento”, diz Paula.
Vermífugo ajuda no ganho de peso da criança?
O remédio isolado não altera o status nutricional da criança. No entanto, uma infecção por vermes pode ser muito maléfica. Se existem condições adversas no ambiente, a prevenção com vermífugos pode sim contribuir positivamente. “Durante a infestação dos vermes, a criança sofre anemia, diarreia e mudança da absorção dos nutrientes. Sem dúvidas, o tratamento vai melhorar o apetite e restabelecer o seu crescimento adequado”, explica o pediatra.
Existe uma melhor maneira de dar vermífugo à criança?
Isso depende da idade do pequeno e do tipo de verme contraído. Normalmente, líquidos são mais bem aceitos para crianças. Para os menores, o xarope é a melhor opção devido ao risco de engasgo. Nos adolescentes, o comprimido funciona muito bem. “É importante lembrar que todos os membros da família devem ser tratados ao mesmo tempo. Um paciente pode estar assintomático e causar uma reinfecção na criança”, alerta Paula.
O vermífugo é a melhor maneira de prevenir verminose?
Não se recomenda mais o uso profilático (ou seja, preventivo) dos vermífugos. “Não existe um remédio que trate absolutamente todas as verminoses e a criança pode se infectar após o término do tratamento”, diz o pediatra. Tomá-lo regularmente previne doenças em algumas regiões, mas o mais recomendado é proteger o seu filho através de medidas de higiene. Por exemplo:
- Lavar as mãos antes das refeições e após usar o banheiro;
- lavar frutas e legumes;
- usar sapatos em locais onde não há saneamento e que animais têm acesso;
- usar água filtrada ou fervida na higienização dos alimentos;
- proteger os alimentos de insetos;
- não oferecer às crianças comidas cruas, defumadas ou mal cozidas;
- vacinar e tratar os animais de estimação, além de recolher as suas fezes;
- manter as unhas das crianças curtas e limpas;
- não compartilhar roupas íntimas;
- trocar pijamas e roupas de cama regularmente.
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