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O que fazer quando a criança engasga – de acordo com a idade

Não é recomendado que os pais coloquem a mão na boca dos bebês, mas façam a clássica manobra de Heimlich.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 4 nov 2020, 17h55 - Publicado em 4 nov 2020, 17h47

Em sua grande maioria, o engasgo é inofensivo tanto para adultos quanto para crianças. Entretanto, casos mais graves podem surgir, como o do pequeno Gabriel Magalhães de Souza, filho de um ano de Ana Gabrieli de Souza. O bebê engasgou com um pedaço de uva, permaneceu 17 dias na UTI do Hospital Gpaci, em Sorocaba (SP), mas não resistiu. 

O caso de Gabriel entristeceu o país em outubro e é um lembrete de que é preciso estar preparado para reagir de prontidão e de maneira correta quando os menores engasgarem. Como explica a pediatra Lílian Cristina Moreira, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e certificada no curso Pediatric Advanced Life Support (PALS), o engasgo é definido como um erro ou falha no processo de deglutição.

“O alimento, ao invés de descer pela parte posterior (o esôfago), acaba descendo pelos orifícios da frente, pelo espaço glótico. Ele compreende a valécula (como se fosse a tampa de entrada da laringe), a traqueia, primeira parte da via inferior, que se divide nos dois brônquios que destrincham para os pulmões correspondentes”, detalha Lílian.

Sendo assim, na descida do alimento, é esperado que esta “tampinha” faça o movimento automático de fechar para que a comida não vá para a parte respiratória do corpo. Caso contrário, há o engasgo que acarreta em diferentes sinais, como a tosse.

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Os sinais de que a criança está engasgado

Junto com a tentativa dificultosa de tossir ao sentir o alimento ou objeto dentro de si, Lílian explica que os maiores podem tentar falar ou apontar para a região em que estão sentindo o desconforto, além de chorar e ter ânsia de vômito.

Só que caso a comida ou o item não seja expelido e acabe sendo broncoaspirado, Saramira Cardoso Bohadana, coordenadora do Programa Aerodigestivo do Sabará Hospital Infantil, pontua que a criança pode acabar sem ar e ficando roxa. “Ela aspira o corpo estranho e, em vez de ir para o esôfago, vai para a traqueia obstruindo a respiração”, detalha.

Saramira esclarece que isso acontece principalmente com alimentos, como amendoim e pipoca, e por isso eles não são recomendados para os menores de dois anos. Mas também pode ocorrer a broncoaspiração com brinquedos pequenos. Neste caso, a especialista faz uma ressalva para aqueles que funcionam a bateria: “Ela é muito arriscada porque oxida e fura a mucosa do esôfago ou da traqueia”.

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Para os bebês menores de 1 ano

Ao perceber que o pequeno está engasgado, o primeiro alerta é para os pais não se desesperarem usando os dedos para tentar tirar o alimento ou o objeto de dentro de seu boca, caso ele não seja grande e visto com clareza. A atitude pode acabar piorando a situação, empurrando-o ainda mais para dentro do bebê.

A pediatra Lílian explica que o recomendado a fazer é a clássica manobra Heimlich, criada pelo médico estadunidense Henry Heimlich. Com ela, os menores de um ano devem ser colocados no antebraço dos pais, com a barriga virada para baixo e a preocupação de que o bumbum esteja mais alto que a cabeça. “Para justamente a gravidade ajudar a fazer com que o alimento ou o objeto desça”, pontua a médica.

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Em seguida, o adulto deve posicionar os dedos indicador e médio na gengiva do bebê – e não apenas nos lábios – para abrir sua boca e começar o movimento. “Com a parte logo depois do punho, você vai dar cinco pancadas secas entre a cintura e as escápulas (os ossos das costas), de baixo para cima, para fazer o tórax dele vibrar”, detalha a especialista.

(RossHelen/Getty Images)

O objetivo dessa manobra é simular uma tosse com ar residual no corpo do bebê, a fim de que ele consiga expelir o alimento com as batidas ritmadas em suas costas. Vale ressaltar que elas precisam ser equilibradas, sem machucar a criança, mas impactantes o suficiente para surtirem efeito.

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Após as cinco primeiras batidas, os pais devem verificar se o objeto caiu em suas mãos e desvirar o filho para ver se ele desengasgou. “Se não, volte, repita a manobra rapidamente e vire-o novamente. Se o objeto não saiu, você tem que fazer uma massagem cardíaca no bebê”, pontua a médica.

“De barriga para cima, posicione os dedos médio e anelar na altura do externo (ossos do peito que une as costela) da criança, em ângulo de 90° graus em relação ao peito dela. E faça, pelo menos, cinco compressões cardíacas, bem rápidas”, explica Lílian.

(RossHelen/Getty Images)

A pediatra elucida que esses estímulos servem tanto para expulsar o que está obstruindo as vias respiratórias da criança, quanto para manter o seu coração batendo mesmo que ela esteja com uma parada respiratória prolongada pelo engasgo. Caso seja necessário todo este processo, é importante que outro adulto esteja ligando para a emergência.

Para os maiores de 1 ano

Pensando nas crianças que já não conseguem mais ser encaixadas no antebraço dos pais e ultrapassaram o primeiro ano de vida, outra manobra precisa ser aplicada. Mas ela traz o mesmo objetivo: usar o ar residual do corpo para simular uma tosse e expelir o alimento ou objeto entalado.

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“Você abraça a criança por trás, e a contorna abaixo das costelas com os braços. Em seguida, coloca uma mão, com o punho cerrado, bem abaixo do externo dela (popularmente conhecido como boca do estômago). Com a outra mão por cima, você faz um movimento em que comprime a região para dentro e para cima”, especifica a pediatra. Ao fazer isso uma ou duas vezes, o problema tende a ser solucionado. E se surgir qualquer dúvida – se o objeto foi empurrado pra fora ou se a criança ficou com algum órgão lesionado pelo engasgo – vale sempre procurar o pediatra ou o pronto-atendimento o mais rápido possível.

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