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Internação de bebês por desnutrição atinge maior nível em 13 anos

Levantamento aponta que a hospitalização de recém-nascidos vem crescendo no Brasil, com os piores índices em 2021 e 2022

Por Isabelle Aradzenka
Atualizado em 31 out 2022, 09h55 - Publicado em 27 out 2022, 16h29

Desde 2016, o índice de hospitalização por desnutrição entre bebês menores de 1 ano vem subindo no Brasil. A pior marca registrada foi em 2021, durante o segundo ano de pandemia no país, contando com 113 internações para cada 100 mil nascidos vivos.

Um levantamento do Observatório de Saúde da Infância (Observa Infância) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – divulgado na última quarta-feira (26) -, mostrou que as internações diárias continuam crescendo, com um aumento de 7% no número de recém-nascidos hospitalizados por desnutrição neste ano.

Em 2021, todos os dias cerca de 8 bebês com menos de 1 ano eram internados no Sistema Único de Saúde (SUS) devido a deficiências nutricionais, totalizando 2.979 hospitalizações no decorrer do ano inteiro. Em 2022, a rede de saúde já registrou o marco único de 2.115 internações até 30 de agosto.

Entre 2020 e 2021, a região Sul foi a única que registrou queda no índice de hospitalização por desnutrição. Em contrapartida, o Centro-Oeste verificou o maior aumento do índice no país (30%). Ainda assim, a pior taxa de internação de recém-nascidos por deficiência nutricional se encontrou no Nordeste do Brasil, com 171 internações para cada 100 mil nascidos vivos (51% acima da taxa nacional).

O relatório também identificou que bebês negros corresponderam à maioria das hospitalizações por desnutrição entre janeiro de 2018 e agosto de 2022 no SUS. “Ainda precisamos melhorar a identificação por raça e cor nos sistemas. Mas já é possível afirmar que temos uma proporção maior de crianças pretas e pardas internadas por desnutrição”, disse Cristiano Boccolini, coordenador do Observa Infância, em nota à Agência Fiocruz de Notícias.

O que levou ao aumento?

Para o coordenador do Observatório, fatores como a alta no preço dos alimentos, o aumento da informalidade no trabalho e a redução de renda das famílias contribuem para a diminuição do aleitamento materno e, portanto, para o crescimento das taxas de internações de recém-nascidos por deficiência nutricional.

“Às vezes, a mulher não dispõe da licença-maternidade de 4 meses, férias ou de nenhuma rede de proteção que ampare ela a manter a amamentação. Assim, acaba tendo que comprar leites ou fórmulas“, explicou o pesquisador à Agência Brasil.

Infecções como pneumonias e diarreias também podem agravar ou instalar um quadro de desnutrição, explica Cristiano. “O acesso ao saneamento básico e à água potável não vem melhorando no país. Então, essas crianças estão em contato com esgoto a céu aberto ou água em condições inadequadas para consumo, e isso expõe elas a infecções”, completa.

Internação de bebês por desnutrição no Brasil atinge maior nível em 2022
(Towfiqu Photography/Getty Images)

Perigos da hospitalização

Enquanto a tendência de internações por deficiência nutricional é crescente entre bebês com menos de 1 ano no Brasil, a taxa de mortalidade pela mesma causa nessa faixa etária registrou uma queda constante desde 2009.

No entanto, o coordenador reitera que a criança que já tratou uma desnutrição que a levaria a óbito pode carregar prejuízos permanentes ao longo da vida, devido a uma carência nutricional em um momento importante para a formação do organismo.

As consequências a médio e longo prazo são praticamente irreversíveis. Elas têm um impacto considerável na capacidade cognitiva dessa criança. E mais à frente, na idade adulta, ela pode ser levada a desenvolver doenças como hipertensão, diabetes e até obesidade”, alerta Boccolini.

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