9 maiores mitos e verdades sobre congelamento de óvulos
Congelar os óvulos valeria a pena para você? Antes de considerar o procedimento, atente-se àquilo que é real – e às fake news – quando falamos sobre o tema.
Maior dedicação à carreira, impossibilidade de encontrar um parceiro ou parceira para ter filhos, escolha pela maternidade solo, diagnóstico de doenças como câncer e endometriose, dúvidas sobre o futuro do planeta e da sociedade… São muitos os motivos capazes de fazer alguém optar pelo congelamento de óvulos, e é sabido que a pandemia de coronavírus foi mais um fator incentivador para que mulheres decidissem pelo adiamento da maternidade por meio do procedimento.
Mesmo com um maior interesse de parte da população em idade reprodutiva de congelar os óvulos, o processo continua gerando diversas dúvidas e o tema, infelizmente, ainda não é tão abordado fora das clínicas de reprodução humana. É preciso tomar cuidado, ainda, para não se submeter a um tratamento complexo sem toda a informação necessária sobre ele. Por isso, dedique-se a sanar todas suas questões com os especialistas antes de decidir se o investimento cabe ou não no seu orçamento, desejos e estilo de vida.
Para te ajudar a descomplicar, conversamos com as profissionais Carolina Curci, ginecologista obstetra especialista em reprodução humana; Karen Rocha De Pauw, ginecologista e obstetra do Dr.consulta; e Luciana Delamuta, ginecologista e obstetra pela Universidade de São Paulo (USP), e solucionamos a seguir, os 9 maiores mitos e verdades sobre congelamento de óvulos.
1. Congelar os óvulos é um procedimento invasivo
Verdade. Apesar de simples, todo o procedimento de congelamento de óvulos pode ser considerado invasivo, já que a captação dos óvulos é feita em laboratório através da vagina, por meio de aspiração folicular. Carolina explica que esta etapa se assemelha a um ultrassom transvaginal, com adição da agulha responsável por aspirar os folículos.
“O procedimento consiste na estimulação dos ovários com hormônios injetáveis, que a própria paciente aplica como se fossem injeções de insulina, para que ocorra o crescimento dos folículos, ou seja, as estruturas que contêm os óvulos. Esse crescimento é acompanhado com o ultrassom transvaginal e, quando a maioria dos folículos atinge tamanho adequado, é administrada uma nova medicação, em dose única, para amadurecer esses óvulos”, complementa Luciana.
A profissional acrescenta que, por volta de 35 horas depois da administração do medicamento, é realizada a coleta. “Isso é feito via vaginal, guiado por ultrassom, e a paciente não sente dor alguma, pois é realizada uma sedação leve, como a que é feita nos exames de endoscopia. O procedimento dura, em média, 15 minutos, e é realizado na própria clínica de reprodução ou em hospital, com alta no mesmo dia, cerca de duas horas depois”, diz ela.
2. Existem muitas contraindicações
Mito. As médicas concordam ao dizer que são raras as ocasiões nas quais o congelamento de óvulos não é recomendado, mas estar com os exames ginecológicos e de rotina em dia costuma ajudar bastante. Geralmente, explica Karen, essa contraindicação ocorre apenas quando a mulher já entrou na menopausa ou em casos muito específicos de doenças em tratamento – que podem piorar com o uso das medicações parte do processo-, e também quando uma IST é diagnosticada. Neste caso, ela é primeiro tratada e, só depois, o procedimento é realizado.
Por outro lado, existem várias recomendações para o congelamento de óvulos. “É uma forma de preservação da fertilidade, pois sabemos que as mulheres nascem com um número pré-definido de óvulos, e este número vai diminuindo a cada dia que passa”, explica a obstetra.
Pacientes com câncer e que serão submetidas à quimioterapia e radioterapia também podem ter sua reserva de óvulos drasticamente reduzida pelos tratamentos, entrando até mesmo em menopausa precocemente. Nesses casos, a depender da idade dela, do tipo de tratamento oncológico e também do seu desejo reprodutivo, é indicado o congelamento de óvulos antes de iniciar o tratamento.
Além disso, também pode ser indicada a preservação da fertilidade para pacientes que realizarão alguma cirurgia que pode comprometer a reserva do seu ovário, como em pacientes com endometriose que vão operar um cisto ovariano.
“Atualmente, no entanto, o que mais vemos são os casos de ‘preservação social da fertilidade’ – as mulheres estão cada vez mais cientes da redução de sua fertilidade com o passar do tempo, e optam pelo congelamento de óvulos quando não têm planos de engravidar no futuro próximo”, exemplifica Luciana.
3. Há um limite de idade para o congelamento de óvulos
Mito. Não existe um limite de idade, mas quanto mais jovem for o óvulo, melhor. Isso porque, depois que entramos na menopausa já não há mais como realizar a coleta.
Para Carolina, é preciso entender a fisiologia folicular da mulher. “Quando o indivíduo biologicamente feminino ainda é um ‘feto’, dentro da barriga da mãe, apresenta a maior quantidade de folículos de toda a sua existência (de 6 a 7 milhões, por volta das 20 semanas de vida). Após o nascimento e a infância, durante a menacme (período reprodutivo da mulher), a menina tem por volta de 500 mil folículos. Aos 32 anos ocorre a primeira queda, sendo a próxima aos 35 e, depois, aos 37 anos”, ensina.
Portanto, conclui a ginecologista, a idade materna é sempre um fator determinante de reprodução – ou seja, quanto mais jovem a paciente, maior a chance de ela ter uma boa reserva ovariana, o que gera mais tranquilidade para a paciente. Logo, a taxa de sucesso do procedimento é representada pela quantidade de óvulos capazes de serem extraídos.
4. Os óvulos congelados não possuem prazo de validade
Verdade. “O que sabemos é que ocorre uma pequena perda de quantidade com o descongelamento. Em geral, os embriões são muito mais resistentes ao descongelamento do que os óvulos, mas não existe um limite de tempo para que a paciente mantenha seus óvulos congelados”, assume Luciana.
Carolina acrescenta que, com o passar do tempo e avanço da ciência, as técnicas de congelamento de óvulos também se atualizam – a vitrificação, por exemplo, é conhecida por garantir maiores taxas de sucesso no momento do descongelamento dos óvulos.
Caso a pessoa mude de ideia sobre a maternidade ou engravide naturalmente e decida que não quer mais usar os óvulos congelados, é ela quem resolve qual será o destino final deles.
Entre as possibilidades, estão a doação dos óvulos para casais em tratamento de infertilidade, para pesquisa científica ou o descarte. Para a doação, porém, é necessária uma triagem, que vai descartar alterações cromossômicas e qualquer outro problema de saúde.
5. Através do congelamento, é possível ‘prever’ as características do bebê
Mito. O congelamento de óvulos não está ligado, de maneira nenhuma, a previsões em relação às características do bebê, mas sim ao aumento das chances da pessoa conseguir engravidar no momento em que ela considerar mais oportuno, e levando em conta o material genético dela.
Durante a fertilização in vitro é possível, por exemplo, saber se o embrião possui alguma doença cromossômica ou se está bem formado, mas não como ele será fisicamente.
“Os óvulos são apenas maternos, ou seja, para que tenhamos um bebê eles precisarão ser fecundados com o espermatozoide paterno. Além disso, não possuímos nenhuma tecnologia para avaliar o material genético do óvulo sem que ele acabe sendo destruído no processo. Mesmo quando se trata de embriões, a análise genética não é capaz de identificar nenhuma característica específica do indivíduo, como cor da pele ou dos olhos, por exemplo”, corrobora Luciana.
6. A gestação decorrente do congelamento pode ser diferente da gravidez espontânea
Verdade. As profissionais explicam que, de uma maneira geral, gestações decorrentes de técnicas de reprodução assistida apresentam maior incidência de algumas complicações obstétricas quando comparadas a gestações naturais. Existe um aumento de risco para alterações na pressão arterial durante a gravidez (pré-eclâmpsia, por exemplo), além de prematuridade e baixo peso ao nascer.
“Isso tudo pode acontecer devido ao ambiente hormonal diferente nas gestações oriundas de reprodução assistida quando comparadas a gestações espontâneas. No entanto, é importante ressaltar que a média de idade das pacientes que engravidam após o tratamento de reprodução assistida costuma ser maior do que a das pacientes que engravidam naturalmente, e a idade avançada por si só também aumenta algumas complicações obstétricas”, finaliza.
Carolina recomenda, então, que gestações de FIV sejam feitas com pré-natal de alto risco, responsável por avaliar reposições de vitaminas necessárias, comorbidades existentes e a programação metabólica fetal.
7. O congelamento garante o sucesso da gravidez
Mito. A ideia de que, caso a pessoa decida por preservar o material, sempre vão existir chances de gestação, é uma das maiores desinformações sobre congelamento de óvulos. Isso não é verdade, diz a ginecologista, de modo que tudo depende, como citado, da idade da mulher, da data de congelamento e do número de óvulos congelados. O procedimento é, sim, uma alternativa viável, mas não garante sucesso absoluto.
É importante ressaltar também, que congelar os óvulos não garante, necessariamente, uma gestação saudável. Isso varia igualmente de pessoa para pessoa, e de acordo com as circunstâncias daquele momento.
8. O processo de congelamento de óvulos dura menos de um mês
Verdade. No geral, as pacientes acreditam que o tratamento requer muito mais tempo do que ele realmente necessita, opina Luciana, que explica que a partir do início da estimulação dos ovários, todo o processo de congelamento de óvulos costuma durar, em média, de 12 a 14 dias.
Ela reforça, ainda, que não é necessário parar todas as suas atividades durante o tratamento, e que as visitas à clínica para realizar ultrassom se resumem a duas ou três.
“No dia do procedimento é orientado repouso, mas a partir do dia seguinte as atividades podem ser retomadas, com exceção de exercícios físicos e relações sexuais, que pedimos para aguardar mais alguns dias por segurança. Também não acontecem mudanças importantes no corpo durante o processo, então não tem como as pessoas simplesmente perceberem que a paciente está realizando o tratamento, caso ela não deseje contar sobre ele”, informa a médica.
9. A longo prazo, o congelamento de óvulos compensa financeiramente
Verdade. Na opinião de Carolina, o maior mito sobre o congelamento de óvulos tem a ver com a questão dos custos, já que se ouve muito por aí que o procedimento é caro.
“É claro que, no melhor dos mundos, congelar os óvulos deveria ser algo passível de ser feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de maneira acessível para todos. Porém, pode ser que você considere caro o valor gasto hoje com o congelamento de óvulos, mas caso isso não seja feito e, mais para a frente, você decidir que quer ser mãe e não tiver os óvulos, o tratamento com óvulos doados é três vezes mais caro, por exemplo”, finaliza ela.