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FIV, método ROPA, inseminação: como casais de mulheres podem engravidar

Lésbicas podem recorrer a tratamentos de reprodução assistida para ter um filho biológico. Conheça as opções disponíveis e o que dizem os médicos.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 22 jan 2020, 11h02 - Publicado em 21 jan 2020, 17h20

Desde 2015, o Conselho Federal de Medicina autoriza procedimentos de reprodução assistida para casais de mulheres, e os ginecologistas notam o aumento da procura delas nos consultórios e clínicas dedicados ao assunto. 

Mesmo assim, lésbicas ainda têm dificuldade para encontrar informações confiáveis sobre o assunto na internet, como relata Marcela Tiboni, mãe de gêmeos com sua mulher Melanie, em entrevista recente ao Bebê.com.br. 

Pensando nisso, fomos atrás dos principais métodos disponíveis hoje no Brasil. Confira! 

As possibilidades da fertilização in vitro (FIV) 

É considerada a técnica com maior taxa de sucesso. “Os índices de gravidez são maiores do que os dos casais heterossexuais que buscam tratamento, pois estamos falando de duas pessoas potencialmente férteis”, comenta Caio Parente Barbosa, ginecologista do Instituto Ideia Fértil de Saúde Reprodutiva. 

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Na FIV, a ovulação da mulher é estimulada durante um período específico com injeções de hormônio. Quando os óvulos atingem o tamanho adequado, são extraídos e inseminados artificialmente por espermatozoides de um doador anônimo. Depois de alguns dias numa incubadora artificial, os óvulos fertilizados são transferidos para o útero da mulher.

Para as lésbicas, há algumas opções a partir daí. Na mais simples, uma das parceiras pode gestar seu próprio óvulo. Outra possibilidade é implementar o óvulo de uma no útero da outra. Este processo é chamado de gestação compartilhada ou método ROPA. 

Gestação compartilhada 

Neste cenário, as duas mulheres passam por uma bateria de exames que avaliam a capacidade reprodutiva, anatomia uterina e decidem quem será a doadora do óvulo e quem irá gestar. Além das questões reprodutivas, fatores como idade e doenças crônicas como diabetes ajudam na escolha. 

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“Podemos ainda estimular a ovulação das duas e fertilizar os óvulos de ambas com o sêmen do mesmo doador, assim as duas engravidam simultaneamente”, comenta Gustavo Teles, ginecologista e obstetra especializado em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva.  

Só não dá para gerar um bebê com o material genético das duas mães. Contudo, uma técnica permite retirar o óvulo das duas e fazer o processo sem saber quem é a dona, desde que ambas estejam aptas fisiologicamente tanto para fornecer quanto para gestar.  

“O único inconveniente é que, se a criança ficar doente, a informação genética pode ser importante, aí será preciso fazer exames mais tarde, depois que ela nascer”, explica Parente. 

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Inseminação artificial 

Nesta técnica não se retira os óvulos, pois a inseminação é feita diretamente no útero de uma das mulheres. Primeiro, ela passa por um processo semelhante de estimulação, com uma dosagem menor de hormônios — é possível esperar o ciclo natural da mulher, mas as taxas de sucesso são maiores com a intervenção, que é segura para a saúde. 

No período adequado, é feita a introdução do sêmen doado diretamente no útero da mulher. “É indolor e não necessita de ambiente cirúrgico, pode ser feito no ambulatório”, comenta Arnaldo Cambiaghi, ginecologista-obstetra diretor do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia. 

Como é mais simples que a FIV, seu custo também é menor, na faixa dos três mil reais. O contraponto é a taxa de sucesso menor, já que é preciso esperar a natureza agir naturalmente. Se não der certo, será preciso pagar pelo processo todo de novo. 

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A escolha do doador 

Pela lei, o doador deve ser anônimo, mas as futuras mães podem escolher traços físicos e comportamentais, como cor dos olhos, cabelos, estatura, profissão e hobbies. Há bancos de sêmen nacionais — mais acessíveis, mas com poucas opções disponíveis, o que pode dificultar a escolha por um doador com as características desejadas. 

Nesse caso, dá para recorrer ao banco internacional, geralmente dos Estados Unidos, onde um número ligeiramente maior de informações sobre o homem é disponibilizada. 

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Como fica o registro da criança? 

Em cidades menores, lésbicas ainda podem encontrar obstruções da justiça e empecilhos colocados pelos próprios cartórios para fazer o registro, mas ele é permitido pelo governo federal desde 2017. Ou seja, independentemente da origem do material genético, é possível registrar a criança no nome das duas mães. “Antigamente uma das duas acabava ficando de fora do processo, mas hoje o Conselho Nacional de Justiça já normatizou a conduta”, comenta Parente. 

Se você deseja engravidar 

Para manter a saúde tanto do óvulo quanto do útero, é fundamental se cuidar e manter um estilo de vida saudável. “O conjunto de hábitos como elevado consumo alcoólico, tabagismo, sedentarismo e consumo alimentar inadequado pode prejudicar a fertilidade feminina”, aponta Cambiaghi. 

Outro ponto importante é a idade. A partir dos 35 anos, na chamada gravidez tardia, há mais riscos de problemas no óvulo que comprometem a gestação. Se o casal quer ter filhos, mas não agora, pode considerar congelar os óvulos para utilizar mais para frente. 

Custo alto 

Vale destacar que técnicas de reprodução assistida não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde e não são cobertas pela rede privada. Feito no particular, o processo todo pode custar de 15 a 40 mil reais, dependendo da quantidade de procedimentos a serem feitos. Uma opção para baratear esse custo é fazer uma doação de óvulos, processo intermediado pela clínica. Para isso, a doadora deve ter menos de 35 anos de idade. 

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