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Os maiores mitos e verdades sobre enjoos na gravidez

Especialistas respondem às dúvidas mais frequentes e explicam as causas dos enjoos e náuseas durante a gestação.

Por Ketlyn Araujo
4 abr 2021, 10h00

Os enjoos são um dos principais sinais indicativos de uma gravidez, e muita gente, inclusive, só descobre a gestação quando faz o teste de farmácia ou exame de sangue após sentir as náuseas e outros sintomas.

Há, porém, muita desinformação sobre a questão dos enjoos. Até quando é normal senti-los? Toda grávida vai, necessariamente, ficar enjoada? Quando as náuseas passam de algo natural e viram sinal de preocupação?

Para responder a essas e outras dúvidas comuns, conversamos com Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra dos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein; Igor Padovesi, ginecologista e obstetra da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital Albert Einstein; e Renato Kalil, ginecologista e obstetra, e listamos, a seguir, os maiores mitos e verdades sobre enjoos e gravidez.

1. Os enjoos acontecem, principalmente, durante o primeiro trimestre de gestação

VERDADE. A fase mais comum para se ter enjoos quando está grávida, considerando a contagem de semanas de gravidez a partir do primeiro dia da última menstruação, é o primeiro trimestre. Os enjoos podem surgir desde a primeira semana de gestação e durar até por volta da 12ª semana. Na maioria dos casos, eles aparecem a partir da oitava semana, e tendem a melhorar bastante nas 13ª e 14ª semanas. O mais raro mesmo é que os enjoos durem até o fim da gestação, mas essa possibilidade também existe.

2. Toda grávida fica enjoada

MITO. Igor Padovesi explica que, apesar da maioria das grávidas apresentarem os enjoos como uma queixa em maior ou menor grau – principalmente no primeiro trimestre – isso não quer dizer que toda gestante irá sentir as náuseas. Fato é que os enjoos fazem parte dos sintomas do início da gestação, que podem se manifestar em gestantes de diferentes formas: algumas não vão enjoar, outras vão sentir náuseas de maneira leve, sem vômitos, e há as que vão apresentar um quadro mais grave, com risco de internação.

Junto com os enjoos, no começo da gravidez são comuns, ainda, indisposição, sonolência, sensação de falta de energia e cansaço, perda de apetite, aversão por alguns alimentos, dor e sensibilidade nas mamas e sensação de cólica – que, novamente, não são uma regra.

3. A principal causa dos enjoos na gravidez é emocional

MITO. A principal causa das náuseas na gestação, explicam os médicos, não é emocional, mas sim hormonal. São os hormônios que vão sendo produzidos e aumentam expressivamente quando a mulher engravida, principalmente a progesterona e o Beta-HCG, que desencadeiam os sintomas no início da gestação. De maneira simples, quanto mais alto o HCG, maior a probabilidade de náuseas e vômitos.

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“O enjoo é desencadeado por uma região no cérebro que recebe o nome de ‘centro do vômito’, e é nele que ocorrem as interações neurológicas que fazem com que o reflexo de vomitar ocorra. Essa região se torna mais sensível durante o início da gestação, acreditamos que pela elevação do hormônio Beta-HCG”, completa Alexandre Pupo.

O médico reforça que, a partir de um determinado ponto de concentração de Beta-HCG, que ocorre por volta da sétima ou oitava semana de gravidez, o centro do vômito apresenta essa sensibilidade, o que faz com que a gestante fique nauseada com mais facilidade e, eventualmente, venha a vomitar.

4. Enjoos são sinal de que a gravidez não vai bem

MITO. Como já explicamos, de uma maneira geral enjoos e náuseas, quando surgem no início da gravidez e desaparecem por volta das 13 semanas (algumas vezes durando por 15 semanas), são algo completamente normal. Alguns estudos, pontuam os médicos, consideram inclusive os enjoos dessa forma um indicativo de gravidez saudável, hormonalmente bem sustentada e com menos riscos de perda gestacional: isso porque quando a perda, mais comum no primeiro trimestre, acontece, o nível dos hormônios cai muito rapidamente – ou seja, o Beta-HCG abaixa e a mulher melhora dos enjoos de forma abrupta.

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Sintomas mais intensos, como episódios frequentes de vômitos, que fazem com que a gestante perca nutrientes importantes e a impeçam de se alimentar de maneira correta, causando desidratação, porém, são sinais preocupantes.

“A êmese gravídica (nome dado aos enjoos) é normal e costuma passar com o avanço da gravidez. Quando a gestante apresenta enjoos e vômitos intratáveis, com frequência e intensidade excessivas, temos um quadro de hiperêmese gravídica”, afirma Renato Kalil.

A condição, que compromete o estado materno, gera um quadro que vem acompanhado por perda de peso, desidratação e fraqueza, já que os vômitos em excesso resultam no chamado distúrbio hidroeletrolítico, com perdas expressivas de cloro, potássio e outros nutrientes no organismo. É comum, portanto, que seja necessária internação de um a dois dias dessas gestantes diagnosticadas com a hiperêmese gravídica, a fim de que haja uma reposição nos eletrólitos e os vômitos sejam controlados.

5. Fatores emocionais e estilo de vida podem piorar os enjoos na gravidez

VERDADE. Apesar de a principal causa dos enjoos na gestação ser hormonal (como pontuamos no item 3), fatores psicológicos, emocionais e relacionados ao estilo de vida da gestante podem contribuir para que a condição fique mais ou menos intensificada. Não à toa, os enjoos são mais comuns na primeira gestação do que nas posteriores, já que o “medo do desconhecido” faz com que a grávida sinta mais ansiedade, inseguranças e até medo de perdas gestacionais.

Dessa forma, uma gestante tranquila, com alimentação e exames em dia, que realize atividade física moderada e recomendada pelo médico, com apoio psicológico correto e maior estabilidade, é claro, vai apresentar menor probabilidade de sofrer com os enjoos. Já aquelas que vivem sob estresse emocional, enfrentam problemas graves no círculo familiar e social e não conseguem manter uma vida mais saudável, podem sentir as náuseas com mais intensidade.

Quando a sensação de enjoo surgir, é importante que a grávida evite alguns hábitos corriqueiros, mas que fazem diferença, como andar de carro, ler livros ou ficar rolando a tela do celular. Deixar a visão descansar e permitir que o corpo repouse são essenciais para que a náusea melhore. Já medicamentos só devem ser ministrados mediante recomendação médica.

6. Ficar muitas horas sem comer é capaz de amenizar os sintomas de enjoos na gestação

Enjoo

MITO. Na verdade, passar longos períodos sem ingerir nenhum alimento, e não investir em uma alimentação saudável e balanceada podem piorar – e muito – os enjoos na gestação. É por isso que grávidas, além de consumirem alimentos ricos em fibras, bem como frutas, verduras e legumes, que vão contribuir para uma boa formação do feto, devem fracionar as refeições, comendo porções menores a cada duas ou três horas e de seis a oito vezes ao dia, a fim de melhorar a sensação de náusea.

Entre os alimentos recomendados para quem sofre com os enjoos estão os secos, como frutas secas e nozes em pequenas quantidades, os cítricos, como o limão, e os azedos e gelados, que auxiliam a amenizar a sensação de náusea. Vinagre e gengibre são fortes aliados, esse último podendo ser consumido em forma de sucos ou águas saborizadas, acompanhado por frutas como o próprio limão, laranja, abacaxi e melancia, por exemplo.

É importante que a gestante respeite esse momento mais sensível na alimentação, consumindo o que o corpo dela aceita nessa fase. Mais uma vez, evite ficar com o estômago vazio por muitas horas, e passe longe de alimentos gordurosos e muito condimentados. Com relação aos casos graves, pode ser necessário o uso complementar de medicamentos, sempre prescritos pelo médico.

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7. Os enjoos costumam ir embora espontaneamente

VERDADE. A essa altura você já percebeu que, de fato, os sintomas relacionados a enjoos e náuseas em gestantes que os apresentam tendem a sumir naturalmente ao final do primeiro trimestre da gravidez. Isso ocorre porque, após esse período (entre a 12ª e 13ª semanas), começa a formação da placenta, o que faz com que outros hormônios assumam o controle da gravidez e, por conta disso, náusea e sensibilidade vão embora.

8. Gestantes que estão grávidas de gêmeos têm mais chances de desenvolverem enjoos

VERDADE. É sabido que em gestações de múltiplos – de gêmeos, trigêmeos e por aí vai – o risco de a grávida apresentar um quadro recorrente de enjoos e náuseas, inclusive contribuindo para a hiperêmese gravídica, costuma ser mais comum. Isso ocorre porque as quantidades de HCG, pela necessidade de formação de dois ou mais fetos, também aumentam, bem como os demais hormônios que causam o enjoo.

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