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Afinal, qual a diferença entre doula, parteira e obstetriz?

Conheça as particularidades de cada profissão e saiba qual é o melhor tipo de acompanhamento para você durante a gestação e o parto.

Por Ketlyn Araujo
19 nov 2021, 17h04
Saiba como aliviar o desconforto dos gases na gravidez
Saiba como aliviar o desconforto dos gases na gravidez (AsiaVision/Getty Images)
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Do descobrimento da gravidez até o pós-parto e o puerpério, gestantes e puérperas têm de lidar com as mais diferentes decisões (e imprevistos) relacionados à maternidade, que vão desde o agendamento de exames de rotina e cuidados com o corpo e a mente, até escolhas relacionadas ao tipo e local de parto desejados.

Mesmo com planejamento, muitas dessas decisões e medidas a serem tomadas só são passíveis de serem feitas com segurança graças ao acompanhamento profissional de qualidade, que pode ir além do ginecologista, obstetra e da equipe médica regular. É comum, seja por escolha ou necessidade, por exemplo, que gestantes contem também com o apoio das doulas e obstetrizes (também chamadas atualmente de ‘parteiras urbanas’).

Mas será que você sabe quais as diferenças entre as profissionais e, mais ainda, quais os benefícios de contar com o auxílio prestado por elas? Para sanar suas dúvidas, conversamos com Marianna Muradas, doula e instrutora GentleBirth; Natália Rea, obstetriz e sócia da Casa Moara, espaço de apoio ao parto humanizado; e Mariana Betioli, obstetriz e fundadora da Inciclo.

Qual o papel da doula?

Capacitada para facilitar o apoio emocional e promover toda uma curadoria de informações para a transição da família com a chegada do bebê, a doula dá suporte físico e mental no momento do parto, além de apoiar a gestante durante o pós-parto imediato e o puerpério.

“As doulas possuem as mais diversas formações universitárias, pois a formação como aqui no Brasil é um curso livre. Temos doulas que acompanham a gestação e o parto, outras de pós-parto, doulas de adoção e até as de cuidados paliativos de pacientes no fim da vida”, explica Marianna.

A especialista diz, ainda, que na chamada doulagem de parto, esta pessoa não é responsável pela parte técnica de cuidados. Ou seja, ela não performa nenhum tipo de exame, avaliação ou procedimento médico, não estando autorizada a fazer exame de toque, aferir pressão arterial ou checar os batimentos cardíacos do feto.

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Por que contar com uma doula?

Não existe uma recomendação específica para que a gestante recorra aos serviços da doula, mas este tipo de profissional está capacitado para acompanhar todas as vias de parto e todos os estilos de pessoas. A doula, reforça Marianna, não está ao seu lado – e do seu parceiro (a) – para julgar as suas escolhas, mas sim para fazer com que você não se sinta sozinha durante o percurso da gravidez e pós-parto.

Assim, como informado, a doula pode prestar serviço desde a gestação, auxiliando também na educação perinatal, ao tirar dúvidas, prestar curadoria sobre profissionais e itens de enxoval e, principalmente, acolher sentimentos e angústias. “Ter uma doula significa menor risco de intervenções cesáreas desnecessárias, menor duração do tempo de trabalho de parto e apoio e suporte emocional contínuo, em todas as vias de parto”, corrobora.

E quanto custa ter este acompanhamento personalizado? Segundo Marianna, eles variam de profissional para profissional, e levam em conta os serviços prestados. “Eu trabalho através de uma contribuição consciente, de modo que cada família opta por um valor dentro de um leque disponível, de acordo com as possibilidades dela, e também facilito o pagamento no modelo que for mais acessível”, exemplifica ela, que enxerga a relação entre a doula e a família como algo profundo e potente.

Por conta disso, Marianna recomenda pesquisa e bastante conversa antes de eleger a profissional que vai te acompanhar nesta jornada: buscar uma pessoa que tenha a ver com você e suas necessidades é chave para um parto e pós-parto benéficos e menos preocupantes.

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Existe diferença entre parteira e obstetriz?

Sim e não. Para ficar menos confuso, vale dizer que toda obstetriz é considerada uma parteira, mas que nem toda parteira é, necessariamente, uma obstetriz.

“A grande dúvida em relação à parteira é o fato de ser uma profissão muito antiga. Ou seja, antes, e ainda hoje no interior do país e zonas rurais, as parteiras aprendem pela tradição, desde pequenas, com outras mais experientes”, explica Natália, que continua: “Mas hoje em dia contamos com ‘parteiras’ formadas através de cursos universitários, é como vem sendo chamada a obstetriz em grandes cidades do Brasil. Através de uma graduação que dura 4 anos e meio, ela aprende sobre a saúde da mulher, com ênfase na gestação, parto e puerpério”.

Ou seja, ainda existem mulheres que atuam como parteiras sem terem feito curso superior, mas esta é a principal diferença entre as parteiras de antigamente e a obstetriz de hoje.

O que faz a obstetriz?

Mariana Betioli afirma que a obstetriz acompanha a gestante desde o início da gestação, nas consultas pré-natais, além de fazer o atendimento durante o parto e o pós-parto. Dessa maneira, a profissional oferece assistência integral e humanizada à mulher e ao recém-nascido, sendo capacitada para acompanhar todo o parto normal e fazer as intervenções necessárias.

“A obstetriz é especialista em parto normal, é um atendimento focado na promoção da saúde, no cuidado e, também, no apoio emocional. Para nós, a gestação e o parto são olhados como processos fisiológicos e naturais do nosso corpo, grande parte da nossa formação é pensada para agir nas mais diversas emergências obstétricas, embora o foco principal seja evitar que elas aconteçam, identificar quando algo não vai bem e agir antes que isso vire um problema. Já o médico (obstetra) tem sua formação com foco na doença, na intervenção pela cura”, enfatiza.

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Natália diz que, quando há intenção de que o parto seja normal, seguramente a equipe vai contar com uma parteira (ou obstetriz), o que faz total diferença para a segurança da gestante: é ela quem vai até a casa da grávida para ter certeza de que aquele é o momento de ir para a maternidade, evitando, assim, internações precoces. Além disso, a obstetriz é responsável por avaliar o bem-estar do bebê durante o nascimento, garantindo um parto normal seguro, e por dar suporte físico e emocional em conjunto com a doula.

Quando o acompanhamento com a obstetriz é recomendado?

Conforme já explicado por Natália, o acompanhamento com a parteira ou obstetriz é fundamental para qualquer gestante que almeja o parto normal, sendo a gestação de risco ou não. Ela diz, também, que nas gestações de baixo risco, a gravidez e o parto podem ser acompanhados somente pela obstetriz (o que acontece no SUS, nas casas de parto e nos partos domiciliares), sem a necessidade de o obstetra estar presente.

“Em uma gestação de baixo risco quase não é necessário intervir, o foco deve estar em avaliar se clinicamente a mãe e o bebê estão bem e seguir oferecendo suporte e apoio para a mulher. As obstetrizes têm exatamente essa especialidade, de avaliar a saúde, intervir o mínimo necessário e apoiar a gestante”, salienta Mariana.

Já em gestações de alto risco ou para quem deseja ter o parto em um hospital particular, a presença da parteira ou obstetriz pode, igualmente, ser solicitada, junto do obstetra. Nesses casos, a profissional permanece realizando todas as suas funções já conhecidas, além de auxiliar na primeira hora de vida do bebê, a chamada ‘golden hour’, onde acontece, entre outras coisas, a primeira mamada do recém-nascido.

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“No caso de partos hospitalares, os obstetras não fazem o acompanhamento do parto, esse trabalho é feito pela equipe de enfermeiros de plantão – o obstetra orienta a equipe e atua praticamente só na hora do nascimento. Já a mulher que tem uma obstetriz trabalhando junto com o médico, tem a possibilidade de receber esse suporte e acompanhamento exclusivo de uma pessoa que vai estar somente com ela durante todo o trabalho de parto”, explica a profissional, contando que, no geral, a mãe faz algumas consultas durante o pré-natal também com a obstetriz para criar um vínculo antes do parto. 

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Quando falamos sobre custos, contar com o apoio profissional de uma parteira ou obstetriz, assim como acontece com a doula, varia bastante de acordo com a cidade na qual você vive, equipe e serviços prestados. Natália informa que o custo de uma parteira urbana varia, em média, entre 3 e 5 mil reais e, segundo Mariana, o custo de uma obstetriz costuma ser menor que o de um obstetra. 

“Muitas das complicações do parto estão associadas a intervenções desnecessárias, feitas rotineiramente sem uma avaliação mais cuidadosa e sem respeito à fisiologia natural do parto. Se é uma gestação de baixo risco, o ideal é acompanhar e dar suporte, mas intervir o mínimo possível para evitar essas complicações”, declara ela.

Mariana ainda indica que existe uma questão cultural. “No Brasil, o acompanhamento da gestação e do parto ainda é muito centrado na figura do médico, e o parto visto como uma emergência, e não como um processo natural. Em vários países europeus, por exemplo, a maioria dos partos são acompanhados por obstetrizes, e podemos notar que nos países mais desenvolvidos, em que as taxas de mortalidade materna e fetal são mais baixas, as obstetrizes estão mais presentes no acompanhamento da gestação e do parto”.

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