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Golden hour: o que é a “hora dourada” do parto?

Termo representa oportunidade de ouro para fortalecer vínculos, diminuir riscos para a saúde do bebê e estabelecer a amamentação com sucesso.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 5 fev 2020, 10h26 - Publicado em 23 jan 2020, 15h26

A primeira hora de vida do bebê é tão importante para seu futuro que é conhecida como hora dourada ou hora mágica. Durante esse período, o contato pele a pele deve ser estimulado o mais cedo possível, segundo a Organização Mundial de Saúde e diversas outras entidades. Ele facilita a amamentação, diminui a mortalidade e traz muitos benefícios para mãe e bebê.

“Antes o bebê nascia e o médico já o levava para longe da mãe para avaliar, pesar e fazer outros procedimentos que até são necessários, mas na maioria dos casos podem esperar”, comenta Rossiclei Pinheiro, pediatra do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

“No contato, o bebê sente o cheiro da mãe, sente seu calor, e a proximidade ajuda a completar a formação do vínculo entre eles que começou na gestação”, emenda Rossiclei. Depois do parto, o ideal é colocar o filho imediatamente na altura do abdômen ou mais próximo do peito da mulher, e isso pode ser feito inclusive em partos cesariana.

Menos riscos para o pequeno

Quando nasce, ele passa por uma mudança brusca de temperatura – do útero quentinho à temperatura ambiente. Assim, pode haver hipotermia, um quadro perigoso, evitável com o calor da pele da mãe.

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“Além disso, o contato faz com que o bebê tenha uma estabilização mais rápida de outros parâmetros, como frequência cardíaca e glicemia”, destaca Mônica Carceles Fráguas, pediatra neonatologista e coordenadora do Berçário da Maternidade Pro Matre Paulista.

“Os estudos mostram que recém-nascidos que passam por esse processo são mais saudáveis, têm menos risco de infecções e mais chances de serem amamentados exclusivamente durante os seis primeiros meses de vida”, explica Mônica.

Benefícios da golden hour na amamentação

Logo quando nasce, o bebê chora e fica bem agitado. Quando é colocado no colo da mãe, vai se acalmando até que fique mais ativo poucos minutos depois. “A tendência nesse momento é que ele procure o peito da mãe”, conta Mônica. Esse primeiro contato imediato com o seio é precioso porque depois ele entrará em um período mais sonolento, onde as mamadas ficarão mais difíceis.

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Não necessariamente ele conseguirá mamar de fato (e a ideia nem é forçar que isso aconteça), mas só a proximidade, a busca e as tentativas de sugar já desencadeiam a liberação de prolactina, o hormônio por trás da produção do leite materno, cujos níveis caem logo depois do parto.

Ao evitar o combo criança “sonolenta” e prolactina baixa, fica mais fácil de estabelecer a amamentação pelos próximos dias e meses. Este é um dos principais trunfos da hora dourada.

Benefícios para a mãe

Outra baita vantagem de amamentar na primeira hora de vida é que o ato libera ocitocina no corpo da mãe. “Este hormônio ajuda na recuperação do útero para seu tamanho normal”, destaca Rossiclei.

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A ocitocina também está ligada à redução do estresse. O que talvez ajude a explicar outras benesses associadas ao contato pele a pele imediato. “Ele pode diminuir a possibilidade de abandono materno e inclusive depressão pós-parto”, diz a médica da SBP.

Como é feito

Simples. Logo que o bebê nasce, não importa se de cesárea ou parto normal, ele já é colocado em contato com a mãe. Isso só não pode ocorrer se ele estiver com dificuldade respiratória, hipotônico (quando o corpo fica mais molinho). Algumas malformações também exigem cuidados imediatos.

“Mas 9 entre 10 bebês nascem bem e podem fazer o pele a pele sem problemas”, aponta Rossiclei. Se for necessário fazer alguma intervenção rápida para cumprir protocolos como colocar a pulseirinha do hospital, é possível aproximar os dois até dez minutos depois do nascimento, com os mesmos benefícios.

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Mesmo prematuros estão liberados para curtir a hora dourada, desde que tenham nascido depois da 34ª semana e estejam aparentemente bem no nascimento. Neste caso, o pediatra vai fazendo a avaliação enquanto ele está com a mãe.

Como parte desta abordagem, os médicos também demoram um pouco para clampear o cordão umbilical, entre um e três minutos. “Isso é importante para reduzir o risco de anemia do lactente, que costuma ocorrer no terceiro mês de vida”, destaca Mônica.

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A hora dourada é respeitada nos hospitais?

Nos últimos anos cresceu muito o conhecimento dos médicos sobre a importância deste período. “Em 2000, menos de 20% das crianças mamava na primeira hora de vida, e hoje nas instituições públicas e hospitais amigos da criança este índice chega a 80%”, celebra Rossiclei. Ainda falta, contudo, expandir o trabalho para chegar aos 100%. “Em instituições privadas, este índice provavelmente fica abaixo dos 50%”, completa.

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