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É verdade que consumir a placenta no pós-parto traz benefícios para saúde?

Ainda com poucos estudos referentes ao assunto, especialistas explicam por que a placentofagia pode ser prejudicial para mãe e bebê.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 18 Maio 2021, 18h56 - Publicado em 18 Maio 2021, 18h38
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 (Victoria Daud/Bebê.com.br)
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De tempos em tempos, assuntos polêmicos que rondam a maternidade voltam a surgir, especialmente nas redes sociais. Desta vez, quem retomou a discussão se ingerir a placenta após o parto faz bem para a saúde foi Fernanda Lima. No programa ‘Bem Juntinhos’, que apresenta junto com o marido Rodrigo Hilbert, no GNT, ela mostrou um vídeo em que os dois aparecem consumindo um pedaço do órgão gestacional após o nascimento da caçula, em 2019.

O caso levou a internet a rememorar outras famosas que também aderiram à prática, nomeada de placentofagia, como Bela Gil e as irmãs Kardashians, e retomou o questionamento que sempre ronda o assunto: é verdade que ingerir a placenta após o parto traz mesmo benefícios para a saúde da mulher?

Do ponto de vista médico, a resposta é não. O motivo para a conclusão tão direta é que, até hoje, não existem evidências científicas que comprovem os possíveis benefícios associados ao consumo da placenta.

Por que o consumo da placenta é defendido?

A obstetra Krisley Christiane de Castro Almeida, do Hospital Sofia Feldman, explica que a placentofagia não é uma prática recente. No Egito Antigo, mulheres comiam a placenta para esconder o nascimento de um bebê ou saciar a fome. No Oriente, a técnica é associada à tradicional medicina chinesa para tratamentos relacionados à fertilidade e também de doenças imunológicas. Já no Ocidente, ela chega por volta da década de 70 como símbolo de celebração da chegada da criança e também como uma forma de prevenir enfermidades.

De acordo com o que se propagou ao longo dos anos, mulheres adeptas à placentofagia defendem que o consumo do órgão gestacional é capaz de evitar a depressão pós-parto e reduzir as dores físicas do período, aumentar a produção de leite e até mesmo ser fonte de nutrientes, como ferro e vitaminas.

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“As pessoas imaginam que, por ter sido um órgão que nutriu o bebê por nove meses, toda essa deposição de nutrientes fique na placenta e isso seja passado para a mulher quando ela a come. O que também se acredita muito é que, pela placenta ser um órgão de ação hormonal muito forte, ingeri-la seria uma maneira de suprir essa falta hormonal que ocorre no pós-parto, mas não há comprovações disso”, enfatiza Andrea Grieco, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade Pro Matre.

A especialista ainda detalha que, diferente do caso de Fernanda Lima em que a placenta estava crua, algumas mulheres a consomem em cápsulas desidratadas. Neste cenário, as tendências são ainda menores de possíveis benefícios, já que tudo o que passa pelo processo de desidratação perde nutrientes.

Desta maneira, Andrea lembra que vitaminas prescritas durante a gestação e também após o nascimento do bebê, junto a uma alimentação equilibrada, sejam mais efetivas para manter a saúde física da mãe do que o consumo da placenta em si. Vale ressaltar que não estão em questão aqui as crenças ou alegações individuais, ok?

Há também defesas da prática por estarem ligadas à preservação da saúde mental, em que o consumo do órgão gestacional poderia trazer autoconfiança e a mulher estaria blindada de qualquer descompasso emocional. O que, em alguns casos, só piora o estado emocional da mãe, já que ela sente que não poderia (ou não deveria) apresentar tristeza ou melancolia já que consumiu o órgão que a protegeria disso.

Por isso, a obstetra defende que a família sempre opte por focar em uma rede de apoio possível, com divisões de tarefas, acolhimento emocional e, em casos necessários, que incentive a puérpera a procurar por orientação médica especializada.

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Mas a prática pode ser prejudicial? 

Assim como não existem estudos suficientes que comprovem os benefícios de consumir a placenta após o parto, também não existem pesquisas que apontem com clareza os malefícios da ingestão. Mas Krisley explica que há uma margem de possibilidade de infecção diante da perspectiva médica.

“Existe um potencial risco de contaminação através da ingestão de placentas cruas ou que não foram devidamente processadas com possível transmissão de patógenos não eliminados do material biológico. Assim, centros de controle de doenças recomendam que a placentofagia seja desencorajada até que tenham estudos comprovando sua segurança clínica”, defende a médica.

O posicionamento da obstetra da Maternidade Sofia Fieldman é semelhante a uma das conclusões mais enfáticas sobre o assunto, demonstrada em 2017. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Cornell, em Nova York, revisaram ensaios de placentofagia registrados anteriormente e perceberam que o consumo do órgão gestacional não trazia benefícios para a figura materna.

O resultado publicado no período científico American Journal of Obstetrics and Gynecology concluiu que se a placenta não for esterilizada da maneira correta após ser expelida no parto, ela pode acabar sendo um meio de transmissão para vírus como o da HIV, zika e também da hepatite.

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Mais tarde, esta conclusão alinhou-se com um comunicado do Centro de Controle e Prevenção a Doenças dos Estados Unidos (CDC), em que confirmava-se que já havia um caso de bebê infectado mediante consumo da placenta materna e, assim, a prática não deveria ser incentivada até que mais estudos fossem realizados.

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