“Muito choro e desespero. Passei 3 meses tentando amamentar meu prematuro”

Tamires Matos conta como sofreu para conseguir chegar ao aleitamento exclusivo, mesmo depois de seu bebê passar os primeiros dias de vida na UTI

Por Vanessa Gomes
Atualizado em 1 ago 2022, 13h16 - Publicado em 1 ago 2022, 13h10
mãe com avental e touca de hospital amamentando bebê no colo
Tamires com Lucas, ainda na UTI (Foto/Arquivo Pessoal)
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Amamentar é um dos maiores presentes que uma mãe pode dar a um filho – e os efeitos duram a vida toda. Porém, esqueça as fotos lindas das redes sociais. A amamentação nem sempre é fácil. Aliás, na grande maioria das vezes, é desafiadora. Por isso, ao longo deste Agosto Dourado, como é conhecido o mês dedicado à conscientização sobre o aleitamento materno, traremos relatos de mulheres que passaram por dificuldades, mas, com informação e apoio, conseguiram chegar lá!

A seguir, conheça a história de Tamires Matos, de 28 anos. Ela conta como conseguiu chegar ao aleitamento exclusivo após seu bebê, que nasceu prematuro, passar os primeiros dias na UTI. A mãe pegou Lucas no colo depois de doze dias. Parece pouco, mas, para a amamentação, significa muito.

“Descobri minha gravidez enquanto estava em um programa de residência multiprofissional de Praia Grande, no litoral sul de São Paulo. Nesse programa, eu atuava como fisioterapeuta da atenção básica e atendia de bebês a idosos; em recuperação e prevenção de saúde.

Meu contato com o mundo materno iniciou-se nesta especialização. Junto com meus colegas profissionais, organizei rodas de conversa para grávidas, puérperas e mães.

Durante a gestação, li muitos livros sobre amamentação e pós-parto, porém, nunca tinha focado na possibilidade de prematuridade. Afinal, nunca achamos que vai acontecer com a gente, não é?

Os meses foram um pouco conturbados, devido às mudanças rápidas que estavam acontecendo na minha vida, além da carga horária cansativa na fisioterapia. Com 26 semanas, comecei a fazer exames mais específicos, por conta de algumas alterações detectadas nos ultrassons. Com 32 semanas, já estava com um dedo de dilatação e, na maternidade, tomei um medicamento para estimular o desenvolvimento precoce dos pulmões do meu filho, pois já havia a suspeita de um parto prematuro.

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Com 33 semanas, fui afastada do trabalho por ordens médicas e, depois de três dias de repouso, comecei a sentir dor de cabeça. Ao chegar à maternidade, constatou-se que eu estava com pressão alta. Após cerca de trinta minutos de atendimento, tive uma convulsão. Então, recobrei a consciência por alguns minutos e… Convulsão novamente. A obstetra correu comigo e com meu marido para a sala de parto. Os médicos me estabilizaram, fizeram uma cesárea de emergência e Lucas nasceu com 1,900 kg.

Apesar de ser fisioterapeuta e de ter estagiado por seis meses em uma UTI neonatal, nada nos prepara para isso. Ver meu filho internado ali não foi nada fácil. Fiquei na UTI pós-cesárea por dois dias também. Ainda no hospital, lembro que tentava fazer ‘acordos’ com os médicos para ser liberada o quanto antes, sabendo da importância de estar em casa. Tive alta cinco dias depois. E foi aí que começou uma nova etapa do desafio: a difícil tarefa de ordenhar meu leite.

Só conheci o Lucas quatro dias após o parto. Portanto, ele já tomava leite artificial. No sétimo dia de vida, meu bebê sofreu uma infecção hospitalar e foi necessário interromper o consumo de qualquer leite por mais sete dias.

Para quem não sabe, a rotina de uma mãe de UTI, basicamente, resume-se a visitar o bebê e ordenhar o leite – o tempo todo. Comecei extraindo manualmente, porque achava que doía menos, de três em três horas. Depois, acabei comprando uma bomba extratora.

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Eu seguia ordenhando de três em três horas, além de ir visitar o Lucas sempre. Tudo isso enquanto ainda tentava me recuperar da cesárea. Não foi nada fácil. O estado emocional conta muito para a produção de leite materno e, como o meu estava abalado, usei muitos métodos para o aumento dela.

Consegui segurar meu filho no colo apenas quando ele tinha doze dias de vida. Só com 16 dias comecei a amamentá-lo diretamente no seio. Ele pegou muito bem e, a partir de então, quis estimular ao máximo que ele ficasse na mama, com livre demanda, ainda dentro do hospital.

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À esquerda, Tamires com Lucas na UTI. À direita, ela o marido e o filho deixando a maternidade (Fotos/Arquivo Pessoal)

Depois de 23 dias, Lucas recebeu alta. Fui para casa com ele no colo – e com muita insegurança. Tive ajuda profissional e, ainda assim, foi difícil. Lucas tomava um leite artificial específico e eu não tinha leite suficiente para nutri-lo com a amamentação exclusiva.

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Durante o processo de tentar aumentar a produção, tive candidíase mamária, mastite e ducto entupido. Tudo isso me causou muita dor. Fiz relactação [quando o bebê mama a fórmula, sugando uma sonda, presa ao peito da mãe, para estimular a sucção], translactação [a mesma técnica, mas com leite materno ordenhado], usei colher dosadora, copinho, seringa, métodos para aumentar a produção de leite (chás, extratos, medicamentos), mudei a alimentação, mudei a rotina e, finalmente, depois de três meses de muita luta, consegui chegar à amamentação exclusiva.

Foi muito choro, muito desespero, mas tive minha mãe e meu marido me apoiando e não me permitindo desistir. Foram três meses tentando amamentá-lo. O leite materno tem inúmeros benefícios, principalmente para os bebês prematuros e, justamente por isso, me cobrei tanto para fazer dar certo.

Durante o crescimento do Lucas, fui me especializando em consultoria de amamentação. Hoje, me tornei uma, graças a todo meu sofrimento no passado e também por querer contribuir para o aumento do vínculo entre mães e bebês, além da promoção do aleitamento. Lá atrás, tive ajuda e quero disseminar isso. Minha pouca experiência prévia à maternidade me permitiu ter consciência do quanto era importante o desenvolvimento do meu filho –  e do quanto o leite materno contribui para isso.

O Lucas está com 2 anos e 11 meses. Mamou até os 2 anos e 6 meses, quando teve um processo de desmame gentil, e é uma criança saudável, feliz e com o desenvolvimento motor em dia.”

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Tamires Matos, 28 anos, fisioterapeuta e consultora de amamentação, Praia Grande (SP)

Dicas para amamentar bebês prematuros

Amamentar prematuros não é uma tarefa simples porque, como são bebês que, geralmente, precisam ganhar peso e se desenvolver rapidamente, a nutrição é primordial. Soma-se a isso o fato de a mãe não estar relaxada para amamentar como e quantas vezes quiser. A rotina de ordenha e de visitas à UTI neonatal é exaustiva e, tudo isso, quando você ainda está se recuperando de um parto vaginal ou, ainda mais complicado, de uma cesárea. A seguir, Tamires, desta vez como consultora de aleitamento, selecionou as principais dicas para quem está passando por isso:

– É cansativo, mas realizar ordenhas, pelo menos de três em três horas, faz toda a diferença. Como a amamentação em livre demanda provavelmente não será possível, é dessa forma que a produção será mantida. O corpo da mulher entende que esse leite está sendo ejetado e que precisa produzir mais.

– O ideal é que a lactante compreenda como funcionam os mecanismos da amamentação e da produção. A dica aqui é se informar e buscar ajuda de pediatras amigos da amamentação, consultoras, enfermeiras e também nos bancos de leite humanos.

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– Enquanto o bebê ainda está na UTI, é importante conversar com os médicos e enfermeiros para traçar estratégias sobre quando e como a criança pode ser amamentada. O leite, sempre que possível, deve ser oferecido em copinhos ou colherzinhas, evitando o uso de mamadeiras.

– Alguns bebês podem ter dificuldade de sucção no início. Neste caso, o conselho é que a mãe tente ordenhar um pouco antes de oferecer o seio, para reduzir o fluxo de leite.

– O contato pele a pele deve acontecer sempre que possível. Na UTI, pode ser realizado o método canguru, que é a junção de uma série de estratégias (incluindo muito colo e amamentação) para o cuidado com o prematuro e a família.

– Acompanhar de perto o crescimento e o ganho de peso junto ao pediatra.

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