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Quero ser doadora de leite. Como funciona e por onde começar?

A doação de leite materno abraça os cuidados com a vida e o tratamento de bebês prematuros. Se este é o desejo por aí, saiba por onde começar a ser doadora!

Por Isabelle Aradzenka
20 Maio 2022, 17h20
Bebê prematuro sendo alimentado com leite
 (Arrow/Getty Images)
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“Doe leite materno e receba a gratidão de uma vida”: é esse o tema da Campanha Nacional de Doação de Leite Humano, promovida pelo Ministério da Saúde, neste ano. A proposta faz parte da comemoração do Dia Mundial de Doação de Leite Humano – que ocorre em 19 de maio -, a fim de ampliar a coleta do alimento no sistema público do país.

Tal como dita bem a frase, a oferta de leite humano significa muito mais do que o ato de doação por si próprio, e ampara toda a rede de cuidados com bebês prematuros e de baixo peso internados em unidades neonatais. “Os bancos de leite são destinados especialmente aos bebês que estão internados. Geralmente, são crianças prematuras que não têm condições de saúde para serem amamentadas no peito da mãe”, explica Kelly Pereira Coca, professora e coordenadora do Banco de Leite Humano da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A importância da doação

“As crianças prematuras ainda não têm maturidade de sucção e deglutição, portanto, não iniciarão a alimentação via oral, mas sim através de sonda em volumes muito pequenos”, esclarece Maria Mercedes Sakagawa, coordenadora do banco de leite do Hospital e Maternidade Santa Joana.

A mãe doadora, portanto, pode ser a que retira o leite para o seu próprio filho que está internado ou aquela que concede um excedente do alimento para os bancos de leite. “Geralmente, as mulheres que não podem extrair o seu próprio leite e doar para o filho prematuro são as que têm alguma questão de saúde relacionada a doenças infectocontagiosas”, explica Maria Mercedes.

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Além disso, a extração do leite de mães de bebês prematuros estimula a produção do próprio alimento, que vai contribuir para uma boa quantidade do produto para quando o bebê puder, de fato, ser amamentado. “Nós estimulamos as mães de prematuros a extrair o alimento, por que o que estimula a produção do leite é a sucção do bebê. Como a criança não pode sugar, quem vai fazer esse papel é o esvaziamento da mama”, completa a coordenadora.

Bebê-prematuro-fazendo-contato-pele-a-pele-com-a-mae
(Jill Lehmann Photography/Getty Images)

Quem pode fazer a doação para o sistema público?

Só na rede pública do Brasil, há 225 bancos de leite espalhados por todos os estados. No entanto, hoje eles abastecem apenas 55% da necessidade do país, de acordo com o Ministério da Saúde. É nítida, portanto, a primordialidade de trazer mais e mais doadoras para o abastecimento dos bancos públicos.

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Kelly esclarece que, para ser uma doadora, a mulher precisa estar em fase de lactação e “amamentando” o seu filho internado em uma unidade neonatal. Isso quer dizer que o banco não aceita doações externas? Claro que não, mas antes de receber o leite “de fora” da unidade, a mãe precisa passar por um processo de orientação.

“É muito comum as mães nos procurarem quando estão deixando de amamentar o seu próprio bebê e desejam doar o leite. Nesse caso, primeiramente, a gente tem uma preocupação de proteger a amamentação e a saúde dela e da criança. Assim, passamos por um processo de entendimento das necessidades da família, voltado para a proteção do aleitamento dela”, completa Kelly.

Caso a mulher tenha passado pela orientação com a equipe do banco e esteja amamentando tranquilamente – com a percepção de um excedente de leite que ela possa retirar e oferecer -, a doação é muito bem-vinda. Lembrando que as condições de saúde da futura doadora também devem estar nos conformes:

  • A lactante não pode ter restrições de medicação, que contraindiquem a amamentação.
  • É necessário apresentar todas as sorologias negativas.
  • Estar em estado pleno de saúde.

Da extração à triagem

Para começar a triagem, é simples: a mãe pode manifestar o interesse de doação no banco de leite na região mais próxima a ela. Depois de passar pela avaliação, a mulher poderá ser aprovada e considerada apta para doação.

A partir daí, ela prossegue para a fase de extração do leite materno. “A mãe não necessariamente precisa ir até uma unidade de banco ou posto de coleta para retirar o leite”, informa a professora. A lactante pode fazer a retirada do alimento em casa, seguindo as orientações que serão passadas pelo posto e com ajuda de frascos de vidro esterilizados.

“Em geral, os bancos organizam as regiões em que atuam e, dependendo da localização da mãe, ele faz a coleta do leite em domicílio. Poucos postos não têm essa possiblidade, devido à estrutura e apoio financeiro, então as doadoras precisam transportar o leite até o banco”, completa Kelly.

A extração do leite pode ser feita manualmente ou através das bombas extratoras (seguindo a decisão materna). Os cuidados são simples para a retirada em casa:

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  • Lave bem as mãos.
  • Procure um lugar limpo e calmo para extrair.
  • Utilize uma touca de proteção nos fios de cabelo, cubra o rosto e procure não falar durante a extração.

“Se ela irá utilizar a bomba, é preciso esterilizar toda vez – a fim de evitar contaminação”, completa a coordenadora. A quantidade mínima para doação é de um frasquinho de 200ml. Já o prazo de validade entre a momento da extração do leite e o transporte até o banco é de quinze dias (com o alimento congelado).

Há um período máximo de quinze dias entre a coleta e o processamento do leite, que, ao chegar no posto, passará pela pasteurização (processo de esterilização térmica) e um rigoroso controle de qualidade. Depois de aprovado, o produto tem até seis meses para ser distribuído para os bebês internados no respectivo hospital”, exemplifica Kelly.

Bebê deitado no plano de fundo. À frente, duas mamadeiras com bomba extratora cheias de leite
(Jamie Grill/Getty Images)

Guardar o leite: é possível?

Posso doar o leite que estava congelado por alguns meses na minha geladeira? A resposta pode ser um pouco desalentadora para as mães que guardaram alguma quantidade do alimento em casa, mas nesse caso a doação não é possível.

“A regra estabelecida pela rede nacional é de quinze dias para o leite ser processado. O prazo se aplica desde a hora em que mãe retira o leite, armazena em sua casa e o posto busca os frascos para tratamento”, alerta Kelly.

E a doação em maternidades privadas?

Maria Mercedes explica que as mães que são direcionadas para a UTI neonatal da sua maternidade vão receber toda a orientação de como ela precisará fazer a extração do seu leite. Ela poderá fazer a retirada nas salas de coleta do hospital e, se o bebê já estiver se alimentando, o leite começará a ser oferecido pela equipe. “Se a criança não estiver recebendo a alimentação, cuidaremos do alimento em nosso banco”, completa a coordenadora do banco de leite do Hospital e Maternidade Santa Joana.

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Quando a mãe e o bebê recebem alta e vão embora da maternidade, o leite materno excedente pode ser – mediante autorização formal e comprovação do bom estado de saúde – classificado para doação ao banco de leite interno, que será destinado aos filhos das mulheres que são impedidas de fazer a retirada do próprio leite.

O melhor alimento para os prematuros e de baixo peso é o leite humano. Se não for da mãe, é o leite materno do banco. Assim, essa criança consegue desde as primeiras alimentações ingerir exclusivamente o alimento natural e isso contribui muito para o desenvolvimento e ganho de peso do bebê”, completa Maria.

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