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Estes 4 dilemas sobre amamentação precisam ser considerados com carinho

O aleitamento materno pode ser natural, mas isso não significa que ele não é uma construção diária que precisa de dedicação para dar certo.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 19 ago 2020, 19h22 - Publicado em 6 ago 2020, 18h18

Antes mesmo da chegada do bebê, as consultas com especialistas e a busca na internet são regadas de tentativas de prever como será o processo da amamentação. Isto ajuda a aplacar a insegurança e, pouco a pouco, ir trocando os medos por informações sobre o assunto.

Para iniciarmos o mês do Agosto Dourado, instituído em 2017 com o intuito de conscientizar a população sobre o leite materno como um alimento de ouro para o bebê, conversamos com especialistas no assunto para expandirmos as nuances que existem no processo do aleitamento materno.

1) Não se acostume com a dor na hora de amamentar

A amamentação é uma experiência única para cada mulher, o que acaba exigindo cuidados específicos em cada caso para que dê certo. Neste cenário, não é incomum que algumas lactantes cheguem a conclusão que o processo dela é o de sentir dor em todas as mamadas e que isso significa que o bebê está sendo alimentando corretamente.

Mas o que explica a pediatra Marisa Aprile, consultora internacional em lactação e membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, é que a realidade deveria ser exatamente oposta. “Não é natural sentir dor ao amamentar, e quando acontece é porque algo não está bem e precisamos descobrir o que é”, detalha a especialista.

Marisa explica que a dor durante o aleitamento materno está ligada diretamente a pega do bebê. O primeiro motivo que pode fazer com que ela esteja incorreta é o ingurgitamento mamário ainda na maternidade, em que os seios estão se preparando para a descida do leite, ficando inchados e mais rígidos.

“Para o bebê pegar uma mama ingurgitada, a mãe tem que massageá-la e fazer pequenos movimentos de extração do leite mesmo que não saia para que ela fique macia”, explica a médica.

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Sem os estímulos adequados, os seios ficam esticados e o bebê, ao tentar abocanhar toda a aréola, acaba machucando a mãe. Imagine o seio como sendo uma maçã que, ao ser mordida por alguém sem dentes, acaba escorregando. Isso leva o recém-nascido a segurar apenas o bico dos seios para tentar mamar e acaba machucando-o. O mesmo processo acontece quando a mãe produz muito leite e as mamas ficam esticadas.

Mais um motivo que pode levar à fissura dos seios da mãe é a língua presa do bebê. Ela é a responsável pela extração do leite ao fazer o movimento de ondulação, que comprime a aréola no fundo da boca. Entretanto, quando o bebê não consegue colocá-la para fora para sugar a região correta, ele acaba mordendo o mamilo, causando dor na mãe.

Duas outras razões para a fissura dos bicos podem ser o mal posicionamento da criança em relação ao corpo da mãe ou o fato da mulher não esperar que o recém-nascido abra bem a boca, com a língua para fora, para lhe oferecer o peito.

2) Não é automático: A pega correta precisa ser trabalhada

Com a dor da amamentação ligada diretamente com a pega do bebê, o primeiro passo para diminuí-la é corrigir o que está acontecendo de errado no processo da criança sugar o leite. E não por acaso, subidas e descidas serão vividas até que a mãe consiga entender como funciona melhor para ela.

Para escolher qual posição para amamentar, especialistas indicam que a mãe deve optar por aquela que se sente mais confortável. Entretanto, a mais tradicional é a que a barriga do bebê fica voltada para a da mãe, com o seu rosto reto virado em direção à mama.

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Na experiência da enfermeira obstetra Cinthia Calsinski, ela aconselha mães a encaixarem o bumbum do bebê na dobra do braço (parte em que normalmente o sangue é colhido) e com a mão segurarem a cabeça do filho. Dessa forma, ela consegue controlar todo o corpo do bebê, evitando que ele fique muito para cima ou para baixo. “As pessoas pensam que é o bebê quem pega o seio da mãe. Mas, na verdade, é a mãe quem encaixa o filho“, completa.

(Vasilyevalara/Getty Images)

No momento de levar a mama até o bebê, a enfermeira explica que é melhor segurá-la em “C” em vez de fazer uma tesoura com os dedos. Assim, a aréola e o mamilo são projetados para a frente, evitando que o bebê segure apenas o bico dos seios.

“A posição de tesoura também pode bloquear alguns ductos lactíferos, o que pode acabar empedrando a mama ou criando pequenos nódulos ao fazer essa pequena compreensão”, reforça a especialista.

Para saber se a pega está correta, Cinthia pontua que, além da dor, é preciso que a mãe preste atenção se a mama está esvaziando conforme o filho suga o leite, se os fluxos de xixi e cocô dele estão normais e se está acontecendo o ganho de peso esperado.

3) Rede de apoio não é balela

Com questões tão particulares a cada mulher, amamentar pode parecer uma jornada solitária por ninguém entender o que está acontecendo. E é verdade, apenas a mãe e o bebê conseguem sentir na pele o que tem sido todo o processo.

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Entretanto, ter uma rede de apoio neste momento é importante para que se crie um ambiente estável ao redor da mulher que está amamentando 24 horas por dia. O primeiro suporte essencial é dos profissionais que prestam atendimento a ela.

“A equipe de saúde tem que estar preparada para entender que essa mulher terá dificuldades, dúvidas, momentos de inseguranças e ela tem que ser equipada para isso. É preciso explicar a pega correta, a livre demanda, como lidar com a fissura inicialmente, usar o leite na própria mama (que é cicatrizante, antibactericida) e evitar objetos, como bicos de silicone, que prejudicam o aleitamento”, explica Silvia Regina Piza, presidente da CNE de Aleitamento Materno da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Silvia também reforça que é importante profissionais da saúde não se esquecerem de que prestar informações e auxílio à lactantes tende a fazer com que o processo seja menos difícil e mais prático. Entretanto, isso não anula como é necessário respeitar que cada mulher tem o seu limite e poder de decisão.

Já no âmbito familiar, a divisão de tarefas continua a ser uma discussão inegociável para que o aleitamento materno possa acontecer. Ainda que a oferta do leite acabe sendo possível apenas pela via materna, outras tarefas podem ser realizadas pelo seu parceiro ou parceira.

Trocar a fralda, dar banho, fazer dormir, oferecer água constantemente para a mãe assim como lembrá-la de comer um almoço ou jantar gostoso são formas de ser a rede de apoio que esta mulher precisa.

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4) E mesmo atenta a tudo isso, a amamentação pode não dar certo

Só que mesmo com toda a dedicação para fazer com que o aleitamento materno aconteça, especialmente exclusivo até os seis meses do bebê, o cenário pode ser aquele que as mães mais temem: o de não conseguir dar continuidade.

Como lembra a presidente da CNE da Febrasgo, os motivos que levam ao desmame precoce são diversos – ainda mais se levarmos em consideração os contextos social, cultural e econômico do país, onde mulheres vivem dupla ou até mesmo tripla jornada para conseguirem sustentar a casa.

A desigualdade social junto com a falta de informações e posteriormente o impedimento de dar continuidade à amamentação pelos traumas mamários (em especial a dor) fazem com que mães sofram por sentirem que são menos capazes ou até mesmo que falharam com os filhos.

Entretanto, Silvia reforça que a mulher que não consegue amamentar consegue construir o laço afetivo de outras formas. “Para a criança, amamentar significa afeto, mas ele não é necessariamente transmitido apenas pelo aleitamento materno. Ele é passado de várias maneiras, como contato pele a pele, atenção, respiração, batida do coração…”, detalha a especialista.

Esses atos podem parecer pequenos, mas são essenciais para manter a conexão da mãe com o bebê, especialmente porque é ela a figura que o filho conhece tão bem após nove meses dentro da barriga. Ele sabe quem você é e isso não se perde!

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