Sarampo: o que é, sintomas e tratamento
Saiba mais detalhes sobre a doença infecciosa conhecida pelas erupções cutâneas que se espalham pelo corpo
Em 2016, o Brasil havia recebido a certificação de erradicação do sarampo pela Organização Panamericana de Saúde. No entanto – em decorrência de significativas quedas vacinais – em 2018, o vírus voltou a circular. E, no ano seguinte, o país perdeu esse tão importante certificado, marcando um grande retrocesso na luta contra a doença. Desde então, os casos vêm oscilando, inclusive com ocorrência de novos surtos.
Entre 2018 a 2022, foram registrados aqui 39.046 casos de sarampo. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, em conjunto com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, um relatório alertando sobre o aumento de 50% dos óbitos pelo vírus entre 2016 e 2019. A boa notícia é que sarampo tem prevenção: vacina. E, aliada à informação, ela é a chave para conter a disseminação da doença.
O que é sarampo e quem ele atinge?
O sarampo é uma doença causada pelo vírus Morbillivirus, e é altamente contagiosa. A transmissão ocorre por via aérea, ou seja, quando o doente tosse, fala, espirra ou respira próximo de outros indivíduos. Pode acometer pessoas não-vacinadas em qualquer idade. Porém, é mais comum em crianças pequenas principalmente porque, nos primeiros anos de vida, o sistema imunológico ainda está se desenvolvendo.
A aplicação da primeira dose da vacina contra o sarampo acontece aos 12 meses de vida. Por isso, é preciso ter cuidado redobrado com crianças com menos de 1 ano, pois elas são o grupo mais vulnerável aos vírus.
“Crianças com imunidade reduzida ou com problemas de saúde crônicos têm mais risco não só de pegar a doença como de apresentar quadros graves. As doenças imunológicas conferem risco altíssimo para complicações graves associadas ao sarampo. Nestas, estão inclusas as leucemias e outros cânceres, imunodeficiências, além dos transplantados”, afirma Anna Bohn, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Sintomas do sarampo
“Os sintomas típicos do sarampo são febre com vermelhão no corpo – o exantema – acompanhados de tosse, conjuntivite e coriza“, afirma Renato Kfouri, pediatra e infectologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, e Presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Kfouri explica que, geralmente, o primeiro sintoma a aparecer é a febre alta, juntamente com a conjuntivite e uma prostração (fadiga, fraqueza). Depois de dois ou três dias, podem surgir pequenas manchas brancas dentro da boca, as chamadas manchas de Koplik. “Elas são muito particulares do quadro, podendo ajudar os pais a suspeitar da doença”, ressalta Anna.
Os sinais que costumam se manifestar em seguida são as erupções cutâneas características do sarampo. Elas geralmente começam no rosto e se espalham até pescoço, tronco, braços e pernas. A duração dos sintomas é, em média, de sete dias nos quadros mais habituais, mas pode se estender em situações graves por 30 dias ou mais.
Paulo Telles, médico pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), alerta: “Os pais devem ficar atentos, porque o sarampo normalmente começa com sinais semelhantes aos de outras doenças virais, como gripe“.
Diagnóstico do sarampo
O diagnóstico do sarampo é clínico, ou seja, se dá por meio da avaliação dos sintomas e de exames físicos. Mas pode ser confirmado com exames laboratoriais, analisando a saliva ou o sangue, para detectar a presença do vírus ou de anticorpos específicos de fase aguda.
“Exames de sangue costumam ser coletados em cenários de suspeita de complicações, em quadros muito prolongados ou em quadros clínicos atípicos, quando há outras possibilidades diagnósticas”, explica Anna Bohn.
Tratamento do sarampo
Não existe nenhum antiviral aprovado e efetivo para curar o sarampo. Isso significa que não há tratamento específico para a doença. Nesse caso, as medidas devem estar voltadas para conter e mitigar os sintomas. Por exemplo, remédios para dor e febre e medicamentos para complicações bacterianas (como otite e pneumonia), quando pertinentes. Paulo Telles recomenda manter a criança em repouso, bem hidratada e descansada.
“Em geral, em caso confirmados, a reposição da vitamina A é indicada, pois melhora a imunidade especificamente para o tratamento do sarampo. E, claro, a criança precisa ser monitorada para que, em casos de piora, seja levada a um médico”, diz Kfouri.
De acordo com Anna Bohn, a deficiência de vitamina A pode agravar o quadro e é comum haver uma queda importante dessa substância durante a infecção. “Assim, a suplementação pode diminuir o risco de complicações e de maior gravidade”, ressalta.
O sinais de alerta para complicações do sarampo
Paulo Telles explica que os sinais de alerta são indícios de agravamento da doença, como dor de ouvido, falta de ar, respiração ofegante, desidratação, alteração do nível de consciência, irritabilidade – e sintomas neurológicos, que são raros, como sonolência exagerada e crises convulsivas.
O médico ainda afirma que as complicações mais comuns e menos preocupantes são infecção de ouvido e diarreia. Já as mais graves e menos comuns incluem pneumonia (atinge 1 em cada 20 crianças com sarampo) e encefalite (1 em cada 1000), que pode levar a crises convulsivas, surdez, e até sequelas cognitivas.
“Pelo menos uma complicação ocorre em 30% dos casos de sarampo, fazendo com que esta doença seja preocupante para a população pediátrica principalmente”, alerta Bohn.
Vacina: a melhor forma de prevenção
“Manter a vacinação em dia é a medida preventiva mais importante e eficaz. Isso faz com que aumente muito o número de pessoas com imunidade contra o sarampo. E, quanto maior essa proteção, maior a chance de interrupção completa de transmissão do vírus. Essa imunização é capaz de proteger inclusive aqueles indivíduos não-vacinados, algo conhecido como imunização de rebanho – mas que só é possível com taxas de vacinação entre 85 e 95%”, explica a médica.
Ela também destaca que, quando há o contato com alguém doente, a chance de infecção de uma pessoa não imunizada gira em torno de 90%, devido à alta infectividade do vírus. Máscaras habituais não protegem o indivíduo de forma eficaz, pois a transmissão é feita por meio de gotículas, sendo necessária a máscara N95.
Paulo Telles completa: “Sabemos que, infelizmente, de uma a três crianças em cada 1000 que se infectam pelo sarampo morrem, por isso é tão importante manter a vacinação em dia, além de evitar a circulação do vírus, permitindo sua erradicação”.
É importante ressaltar que, para minimizar a transmissão e a infecção do vírus, é de suma importância não enviar os filhos doentes à escola e comunicar se houver uma suspeita de sarampo, para que outros pais mantenham atenção aos possíveis sintomas.
Além disso, “em surtos, um reforço a mais com vacina de sarampo pode ser indicado para todos os contactantes de um caso confirmado ou para indivíduos que morem na área”, diz a pediatra.
Quando vacinar a criança contra o sarampo?
- Dose zero: devido ao aumento de casos de sarampo em alguns estados, todas as crianças de 6 meses a menos 1 ano devem ser vacinadas (dose extra).
- Primeira dose: aos 12 meses.
- Segunda dose: aos 15 meses.
As sociedades brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm) explicam que podem ser usadas a vacina SCR (Tríplice Viral: caxumba, sarampo e rubéola) ou a combinada SCR-V (Tetraviral: caxumba, sarampo e rubéola e varicela).
“Em São Paulo, desde 2019, é preconizada uma dose aos 6 meses, chamada dose zero. Ela foi introduzida no calendário após o último surto de sarampo, na tentativa de aumentar os títulos de imunização e, consequentemente, aumentar a imunidade de rebanho e conter o surto”, pontua Anna Bohn.
Sarampo: mitos e verdades
Segundo Paulo Telles, a principal mentira sobre doença é a relação da vacina de sarampo com autismo: “Apesar de já ter sido desmentido, comprovado que o estudo que fez essa associação era fraudado, e da revista que o publicou ter feito uma retratação, os efeitos ainda assustam e afetam a vacinação pelo mundo. A orientação segue sendo a de que a vacina é totalmente segura e eficaz, e é a melhor forma de proteger seu filho(a) e toda a sociedade”, afirma.
Anna Bohn destaca como mito a ideia de que a contaminação só ocorre se houver contato direto com alguém doente. A pediatra alerta que é possível pegar sarampo em espaços públicos também. Além disso, explica: “Existe a crença de que, por ser uma doença viral, não teriam riscos de gravidade. Sabemos que o sarampo não só apresenta sérias complicações na fase aguda, como doenças pulmonares e neurológicas muito graves, com risco de óbito, mas também complicações a longo prazo.”
Renato Kfouri lembra ainda de afirmações equivocadas sobre a vacina não ser indicada para quem é alérgico a ovo. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) afirma que a grande maioria das crianças com história de reação anafilática a ovo não tem reações adversas à vacina. Inclusive, não há contraindicação ao uso da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola).