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5 passos para uma educação antirracista

Olhar para questões étnico-raciais é um ponto chave para garantir o bem-estar e o acesso aos direitos de todas as crianças

Por Bárbara Poerner (Ilustração: Anamaria Sabino)
Atualizado em 12 Maio 2023, 19h16 - Publicado em 12 Maio 2023, 16h32
Colagem com foto branco e preta de crianças e outras ilustrações de tons terrosos
 (Ilustração: Anamaria Sabino / Foto: Fat Camera/Getty Images)
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O racismo é uma realidade ainda constante e estrutural no Brasil, que atravessa famílias dos mais variados perfis. Apesar disso, é possível cada um de nós exercer seu papel na educação étnico-racial, promovendo práticas antirracistas que contribuem para a garantia do bem-estar na infância e na adolescência.  

A pedagoga Viviana Santiago, que atua há anos na promoção dos direitos de crianças e adolescentes com a perspectiva racializada, explica que a educação antirracista é aquela orientada para as relações étnico-raciais, com “um forte componente de enfrentamento ao racismo, para não [deixá-lo] se reproduzir e, de fato, promover uma convivência baseada no respeito e no acesso aos direitos”. 

Para a historiadora e pedagoga Sarah Carolina, isso começa na coletividade. “Família, escola, amigos… Toda a comunidade que permeia as relações da criança precisa estar atenta para que a mensagem seja única: que racismo é crime e não pode ser tolerado em hipótese alguma“, explica ela, que é mãe solo de três filhos e criadora de conteúdos no perfil de Instagram Maternagem Preta.  

A partir da conversa com as duas especialistas, listamos algumas práticas que contribuem para a educação antirracista e podem fazer parte da agenda de pais e cuidadores.

1. Incentive o cumprimento da lei 10.639/03

Ela estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Em 2023, completa 20 anos de existência, no entanto Sarah acredita que houve pouco avanço em sua implementação e muitas instituições de ensino estão longe de ter, de fato, um currículo que abrace a identidade de todas as crianças. “Seja por pouco investimento em formação continuada dos professores ou nos cursos de licenciatura, mas também pelo conformismo de quem sempre protagonizou as narrativas (a branquitude) e que, por isso, não sente necessidade de mudar a educação como ela é hoje”, diz.

É justamente essa realidade que faz a historiadora e pedagoga defender o engajamento de toda a comunidade escolar para cobrar a aplicação da lei. Ela lembra ainda o quanto é preciso termos mais profissionais pretos e pardos integrando os quadros docentes. 

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Para Viviana, falta entender que a lei não é uma opção: “as escolas precisam compreender que é um compromisso e um dever da educação brasileira promover o acesso às histórias e às culturas afro-brasileira e africana, por que isso diz respeito a um repertório cultural que é um direito de todos os estudantes”. A pedagoga também concorda que existe relutância para a implementação das diretrizes, algo que pode estar relacionado com a criminalização implicada nos estudos de religiões de matriz africana.

Embora existam diferentes níveis de aprendizado e múltiplas infâncias, Sarah Carolina afirma que é possível contemplar a todos. “Desde a educação infantil, em que conseguimos trazer brinquedos afirmativos, trabalhar com culinária e contação de histórias da África, ou na alfabetização feita a partir de palavras da nossa língua que têm origem africana. Outra opção é ensinar Geometria a partir do desenho das tranças nagô e Geografia problematizando o tráfico negreiro. Tudo é uma questão de um olhar apurado”, afirma.

“Um ensino que valoriza as várias existências e que referencie positivamente a população negra é benéfico para toda a sociedade, pois conhecer histórias africanas promove outra construção da subjetividade de pessoas negras, além de romper com a visão hierarquizada que pessoas brancas têm da cultura negra, saindo do solipsismo branco, isto é, deixar de apenas ver humanidade entre seus iguais. Mais ainda, são ações que diminuem as desigualdades.”
Djamila Ribeiro em Pequeno Manual Antirracista (Companhia das Letras)

Colagem de duas meninas andando de mãos dadas.
(Ilustração: Anamaria Sabino / Foto: Fat Camera/Getty Images)

2. Lembre-se: o assunto também diz respeito a famílias brancas

Viviana Santiago ressalta que o processo antirracista se refere a todas as pessoas. Logo, também é preciso trabalhar os conceitos de branquitude com os pequenos e seus familiares. Isso significa ir além de mostrar e exaltar a cultura negra, mas observar quais valores são ensinados para as crianças e pensar como elas recebem a educação sobre si mesmas. 

Pesquisar é outro ponto fundamental. “Quem se propõe a ser antirracista precisa exercitar a busca por conhecimento independente, pois assumir que uma pessoa preta vai tutelar o seu letramento racial também é racismo”, comenta Sarah. Isso envolve agir, não se omitir e se posicionar.

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3. Não fuja das conversas difíceis

Falar de tais temas, às vezes, pode ser desafiador. Mas Sarah aconselha que os adultos não poupem as crianças de conversas difíceis. “Tem que assumir que o racismo existe”, diz.

Dialogar sobre o assunto, de forma sincera e aberta, é um dos melhores caminhos. Isso tende a ajudar, também, no desenvolvimento do senso crítico que está sendo construído por meninos e meninas, para que eles possam, por exemplo, se posicionar caso presenciem uma situação de discriminação racial.

4. Valorize, consuma e compartilhe conteúdos

Um passo importante para a historiadora e pedagoga é “valorizar a cultura e a história afro-brasileira, mostrando o quanto ela é presente na vida de todos”. A partir disso, selecionamos livros, filmes e podcasts que podem ajudar nessa missão: 

PARA LER

Omo-oba: Histórias de Princesas e Príncipes (Kiusam de Oliveira – Companhia das Letrinhas)
O livro narra contos sobre orixás femininas, divindades da mitologia iorubá, com toda sua força e poder.

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As Brincadeiras Africanas de Weza (Coletivo Luderê Afro Lúdico e Sheila Perina – Editora Kitembo)
A protagonista, Weza, descobre países do continente africano e suas respectivas brincadeiras, algumas milenares. 

PARA OUVIR

Calunguinha
No podcast, o personagem homônimo viaja pelos mares, passando por Congo, Pernambuco, Bahia e Palmares. Cada um dos 12 episódios traz um convidado especial, como Lázaro Ramos, Luedji Luna, Margareth Menezes e Yuri Marçal. 

Deixa que Eu Conto
Voltado para crianças em processo de alfabetização. Existe uma temporada inteira que destaca histórias, brincadeiras e músicas da cultura negra no Brasil e promove o enfrentamento ao racismo.

PARA ASSISTIR

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Hair Love
O curta-metragem de animação ganhou o Oscar da categoria em 2020 por sua emocionante narrativa sobre paternidade negra, autoestima e aceitação.

Colagem com duas meninas, uma de frente com a outra, sorrindo e com as testas encostadas
(Ilustração: Anamaria Sabino / Foto: Fat Camera/Getty Images)

5. Inclua a educação étnico-racial no cotidiano

Enxergue a representatividade e o antirracismo genuinamente como algo do dia-a-dia. “Infelizmente, a maioria das famílias, principalmente brancas, pensam em consumo: livros com personagens pretos ou bonecas pretas. Sim, isso é muito importante, mas a cultura preta não pode assumir papel de mercadoria na vida das crianças”, comenta Sarah.

A dona do perfil Maternagem Preta chama a atenção para a necessidade de que essas compras sejam feitas com intencionalidade. A questão fundamental, segundo ela, é garantir a representatividade e a convivência com pessoas pretas em todos os espaços. “Se está fácil, não é antirracismo. Se está cômodo, não é antirracismo. Se está confortável, precisa se movimentar. Esse deve ser um lembrete permanente para não desanimar. É um caminho difícil, mas que precisa ser trilhado para que pessoas pretas não caminhem nele sozinhas”, finaliza.

PRIMEIRA EDIÇÃO DA REVISTA DIGITAL BEBÊ

Para celebrar o mês das mães, Bebê acaba de lançar o primeiro número de sua revista digital. A publicação será trimestral e repleta de conteúdos incríveis sobre gravidez, parentalidade, educação dos filhos, saúde e muito mais.

Como parte desse momento especial, nossa matéria de capa traz uma linda entrevista com Morgana Secco, mãe de Alice, a menina famosa por falar as palavras difíceis, e da pequena Julia. A conversa aborda temas como a exposição nas redes sociais, a maternidade, e os caminhos que ela e o marido, Luiz Schiller, encontram para ajudar as filhas a criar suas próprias histórias.

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Além desta reportagem a importância da educação antirracista, a edição conta ainda com uma matéria sobre  os cuidados essenciais com os recém-nascidos no inverno e um relato emocionante de parto natural aos 44 anos. Por fim, Tainá Goulart estreia a coluna Diálogos de uma Mãe Solo, e você encontra também um guia cheio de dicas para escolher sua babá eletrônica (com opções de compra).

A edição número 1 da revista digital de Bebê está disponível no GoRead, acesse aqui!

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