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Meu filho morde e bate em outras crianças. Por que? O que fazer?

Empurrões, tapas, mordidas e beliscões são formas de comunicação da criança pequena. Mas há como ensiná-la a se expressar de outra maneira

Por Isabelle Aradzenka
Atualizado em 13 jan 2023, 17h38 - Publicado em 13 jan 2023, 15h27

Até que a criança aprenda a se comunicar oralmente, situações envolvendo mordidas e agressões podem acontecer com maior frequência. É natural que alguns pequenos deem tapas, empurrões, chutes ou mordam as pessoas do seu convívio. “São os primeiros diálogos deles com o mundo. Ao fazer isso, a criança está querendo comunicar algo”, explica Ana Paula Detzel, coordenadora de Ensino Infantil do Colégio Marista Santa Maria.

A intensidade do comportamento irá depender da maturidade do pequeno. Para uma criança de até dois anos, é mais comum que se tenha este tipo de atitude. Afinal, ela não consegue falar e nem perceber o que ela está sentindo, quanto menos expressar. Com três ou quatro anos, espera-se que o pequeno comece a se comunicar através da fala, de expressões corporais e faciais, ao invés de partir para a agressão. “Essa é uma idade em que ela já deveria deixar de morder ou bater nos outros”, diz Danielle Admoni, psiquiatra geral da Infância e Adolescência e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Mordidas e empurrões têm a ver com raiva e agressividade?

De certa forma, sim. Mas este comportamento não indica apenas raiva. “Às vezes, a criança é contrariada, não gosta de alguma situação ou alguém pega algo seu. Ela irá ficar chateada e, por ser muito imatura, esse é o jeito que encontra para lidar com a ocasião”, explica a psiquiatra. O pequeno também pode estar sentindo euforia ou necessidade de demonstrar afeto. Por não saber se expressar de outra maneira, acaba reagindo de uma forma socialmente considerada agressiva.

“Devemos lembrar que o desenvolvimento sensorial e físico (como a dentição) das crianças acontece nos primeiros anos de vida. Com isso, percebemos que mordidas, empurrões e beliscões são recursos para demonstrar descontentamento, frustração ou necessidade fisiológica”, complementa Ana Paula.

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Situações de conflito

São nas primeiras experiências de vida em sociedade da criança que as atitudes agressivas podem aparecer. Disputas por brinquedos ou pela atenção dos adultos são alguns exemplos. É normal que conflitos ou frustrações surjam através da interação entre crianças da mesma idade.

“Crianças bem pequenas estão em pleno amadurecimento cognitivo, social, emocional, sensorial, motor. Tudo ao seu redor é novo e é esperado que elas explorem e investiguem as novidades. Essa interação também acontece pela região oral. Por isso, levam tudo à boca e as mordidas fazem parte do processo”, explica.

Crianças brincando em sala de aula
(Rawpixel/Getty Images)

O papel do adulto

Diante de comportamentos agressivos, o papel do adulto é ser um porta-voz da criança. “Para o pequeno, essas atitudes são aprendizagens. Ela age assim porque ainda não aprendeu a utilizar outros recursos. Cabe aos pais a responsabilidade de orientar, conversar e reforçar que não nos relacionamos batendo, agredindo ou mordendo”, orienta Ana Paula.

O adulto é responsável por fazer o que a criança não consegue. Nomear os sentimentos que o filho não é capaz de expressar e o que poderia ser feito de forma diferente. “Sempre devemos nos abaixar à altura da criança para falar com ela. Olhe nos olhos e dialogue de uma maneira calma, sem gritar, bater ou ‘surtar’. Nomeie a situação e aponte os resultados das atitudes do pequeno. É importante que ele veja o que causou no outro, sem brigar”, diz Danielle.

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Acolher e orientar seu filho a pedir desculpas é um aprendizado para as duas crianças envolvidas na situação. Quem pede desculpas tem a oportunidade de repensar sobre as atitudes e buscar outras formas de demonstrar o descontentamento. Aquele que recebe o pedido de perdão também aprenderá que todos são passíveis de erros e as situações podem ser corrigidas. “O adulto precisa incentivar a criança a criar repertório para que saiba demonstrar seus sentimentos e emoções. O diálogo é a peça-chave”, explica a coordenadora.

Como falar com crianças entre 1 e 3 anos

“Esta faixa etária precisa de clareza e constância”, diz Ana Paula. O adulto deve salientar orientações e regras, explicando que agredir e machucar não é permitido. Gravuras, imagens e símbolos que indiquem boas possibilidades de resolução também são eficientes. “Por exemplo, fotos de crianças se abraçando, andando de mãos dadas ou conversando. Sempre com ‘mensagens de ações positivas’ para que isso fique reforçado”, indica.

Como falar com crianças entre 3 e 6 anos

Crianças um pouquinho maiores seguem as mesmas necessidades. Com elas, podem ser construídas listagens do que são regras e combinados. Também é interessante utilizar histórias infantis e livros de literatura com frequência. “É possível fazer guias, cartazes e cadernos com ideias de soluções para os conflitos e deixar com as crianças para que pesquisem e utilizem sempre que quiserem”, explica Ana Paula.

Filho-conversando-com-a-mãe

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O papel da escola

É na escola que a maioria das crianças inicia o convívio social e a instituição deve ser parceira da família. Ou seja, mantendo o canal de comunicação aberto, contando sobre os comportamentos apresentados e sugerindo possibilidades de resoluções.

Além disso, os juízes dos conflitos serão os professores e auxiliares. É importante que os profissionais consigam ajudar a criança a lidar com a situação, acompanhar os diálogos e fornecer um espaço para ela expressar suas emoções coletivas e individuais. “Ela precisa sentir que pode dialogar, ser ouvida e respeitada. ‘Emocionômetros’ e outros elementos permitem que ela expresse o que sente”, conta Ana Paula.

Incentivando a criança a expressar suas emoções

As situações de agressividade entre crianças pequenas são consideradas naturais no desenvolvimento, mas não podem ser ignoradas e pedem acompanhamento e orientação contínuos. “Para aprender a expressar suas emoções, o pequeno precisa de um lar seguro, onde tenha suas necessidades atendidas”, afirma Danielle.

Isso não quer dizer que seu filho poderá fazer tudo o que quer, mas que precisa se sentir seguro e tranquilo para se desenvolver. Saber que ele pode contar com os pais, que eles irão orientar, cuidar e acolher. “O diálogo, a troca, a argumentação e a contra argumentação são habilidades a serem desenvolvidas durante toda a vida”, lembra Ana Paula.

Porém, se os comportamentos se repetirem com frequência mesmo após mediações, será necessária uma maior atenção. Nesses casos, o indicado é que as famílias procurem ajuda especializada para lidar com a criança.

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