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Será que você usa o “não” com seu filho do melhor jeito?

Sim, é importante usá-lo desde cedo. Entenda quais são as funções do termo e veja os pontos de atenção para aplicá-lo sem pesar na dose

Por Vanessa Gomes
9 jul 2022, 14h00

Não pode mexer nisso! Não sobe aí. Não! Não! Nãããão! Você sabe quantas vezes repete a palavra “não” para o seu filho? E quando foi a primeira vez que você disse isso a ele? É um termo curto, incisivo, fácil e muito frequente no vocabulário de todo mundo, sobretudo dos pais. E é uma palavra importante, porque está relacionada a limites. É com o “não” que você vai mostrar para a criança que ela não pode colocar o dedinho na tomada ou que não deve morder ou bater no amiguinho. Isso para ficar apenas no começo da história…

O “não” começa tão cedo que talvez seja a primeira palavra dita por alguns bebês, logo no início do desenvolvimento da fala. Antes mesmo de verbalizarem, os pais usam gestos, como balançar a cabeça ou mexer o indicador, mostrando a negativa. As crianças logo aprendem isso – ainda bem!

“O ‘não’ para as crianças é extremamente relevante, porque faz parte do processo da primeira formação do indivíduo”, explica a psicóloga infantil Dheine Brenda, da clínica Bangalô (PE). “Quando os pais têm o hábito de dizer ‘não’ para as crianças, claro que, no momento correto para isso, elas também estão sendo preparadas para o mundo de forma mais completa. Além disso, o ‘não’ na infância é também uma forma de ajudar a criança a entender que não é possível ter tudo no exato momento em que quer e que algumas coisas são mais difíceis de serem conquistadas”, ressalta.

No início, gestos e a repetição de palavras. Conforme os filhos crescem, vão questionando mais. É o famoso: “Mas por que não?”. Errados não estão! Essa etapa também faz parte do desenvolvimento dos pequenos e do relacionamento com os pais e com os outros adultos. “Com o decorrer do tempo, a criança vai exigir explicações melhores e mais compreensíveis”, diz a psicóloga Flavianna Cesarino, de Juiz de Fora (MG).

Mas o “não” também pode atrapalhar, caso seja utilizado de maneira errada ou até em abundância. “O exagero diz mais sobre os pais do que sobre a criança. Por isso, é importante que esses pais busquem psicoterapia, para cuidar da sua criança interna, de suas inseguranças e medos. Assim, conseguirão ajudar os filhos a ter uma relação melhor com eles”, diz Flavianna. “Esse excesso pode passar insegurança para a criança, fazendo com que ela se torne uma pessoa medrosa, que vai sempre depender do outro para fazer algo”, explica a especialista.

Segundo ela, isso também pode gerar uma confusão na cabeça do pequeno. Como ele vai confiar nos pais, se eles não confiam nele? “Seu filho também pode começar a mentir e a manipular, a partir do momento em que percebe que está tudo bem. O que não pode acontecer é os pais descobrirem”, aponta.

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Como, então, não deixar de dizer, mas também não cometer esses excessos prejudiciais ou até aplicar a palavra de maneiras pouco eficientes? Com ajuda das especialistas, listamos 8 pontos de atenção ao usar o “não”:

1. Não – Explicação acompanha?

Sim, a explicação deve vir junto, sempre que possível. Já imaginou estar entrando em um supermercado para fazer compras e o segurança simplesmente gritar: “Não”? Não o quê? Não ando? Não entro? Não toco em nada? Quando a negativa vem sem uma instrução específica ou complemento, pode ser confuso para a criança entender o que você quer dizer. “Com o passar do tempo, ela continua com a compreensão do que é o ‘não’, mas passa a precisar entender os motivos de ter recebido aquela resposta. É aí que entra o diálogo com os pais, quando o essencial é que eles comecem a explicar porque estão dizendo ‘não’, porque o filho não pode fazer determinadas coisas”, explica Dheine.

mulher, sentada ao lado de uma menina, conversa com a criança
(Michael H/Getty Images)

2. Não – Ofereça alternativa

Isso vale, sobretudo, para bebês e crianças pequenas. Geralmente, dizer “não” significa muito pouco para elas. Pelo menos, assim, a palavra sozinha. Então, se seu filho puxa o rabo do gato, por exemplo, você pode dizer “não” e mostrar como acariciar o bichinho. Quando o bebê está fazendo algo que pode machucá-lo, como se aproximar de um forno quente, você pode dizer “não”, mas indicar algum outro lugar para o qual ele possa ir, algo com o qual possa brincar em segurança.

3. Não – Evite os excessos

Às vezes, o “não” é tão automático, que repetimos mais do que o necessário. Falamos “não” para tudo, sem refletir. “Quando os pais privam extremamente a criança por medo ou insegurança deles, ela pode ser prejudicada por não ter sua própria experiência em relação a certas coisas e acontecimentos”, diz Dheine.

4. Não e o tempo de qualidade

“Se você só dá atenção quando a criança está fazendo algo que não pode, ela vai continuar com esse comportamento para ser notada”, aponta Flavianna. Analise seu dia e avalie se você tem separado um tempo de qualidade para, de fato, ficar com seus filhos sem distrações, sem celular, sem e-mail. “Parece óbvio, né? Mas é o que mais se observa”, diz a especialista.

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5. Não – Vamos chegar a uma solução juntos?

À medida que a criança cresce, é legal sugerir que ela pense junto em uma alternativa, em vez de oferecer somente o “não”. Se, para você, não é possível que seu filho vá à festa de um amiguinho, porque já há outro compromisso, que tal fazê-lo propor algo que possa ser tão legal quanto? Um outro passeio? Convidar o colega para passar um dia em casa? O fato de a criança participar da elaboração das soluções – lógico, quando isso é possível e negociável – pode tornar a experiência um aprendizado, e menos estressante.

6. Não – E tudo bem ficar frustrado

A frustração faz parte do desenvolvimento e o “não” pode ser uma grande fonte para isso. Quando seu filho pede algo que, por qualquer motivo, precisa ser negado, talvez doa mais em você ver o quanto ele ficará decepcionado do que a própria decepção dele. Mas, acredite: por mais difícil que possa parecer, faz parte. Aos poucos, a criança vai compreender.

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7. Não – Sem mudar de ideia

Falar “não” e voltar atrás quando a criança chora ou demonstra que está contrariada pode atrapalhar. Afinal, se você foi capaz de mudar de ideia só porque a manifestação de seu filho estava incomodando, talvez a negativa não fosse tão necessária assim.

8. O “não” ditatorial

O “não” nem sempre é negociável, como já mencionamos. No entanto, o diálogo tende a ser muito benéfico. A troca de ideias e a argumentação, principalmente conforme seu filho cresce, pode, perfeitamente, fazer você mudar de ideia, dependendo da situação. Ouvir é mais importante do que ter razão.

Em certas situações, o “não” é inegociável. Em outras, não.

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