Mamalgesia: o que é e como colocar a técnica em prática
Recomendada pela OMS, entenda o que é a chamada ‘mamalgesia’, uma maneira de acalmar a criança no momento da vacinação através da amamentação.
Importante desde os primeiros meses de vida, a imunização infantil está em pauta por conta da queda da cobertura vacinal em tempos pandêmicos, além da iminência da aplicação da dose contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade.
Mas além do coronavírus e da carteirinha de imunização completa, outro tema dentro do universo da vacinação infantil voltou a ser discutido. Muitas mães têm dialogado, dentro e fora da internet, sobre a chamada ‘mamalgesia’ que, em suma, é o ato de amamentar o filho no momento em que a vacina é dada.
A prática, indicada como benéfica pelos especialistas, pode servir como alternativa para distrair o bebê da dor da aaplicação e, em crianças maiores com amamentação prolongada, trabalhar o medo das agulhas.
Não faz a dor desaparecer, mas ameniza o desconforto
Patrícia Terrível, pediatra, neonatologista e membro do departamento de aleitamento materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, conta que há diversos estudos comprovativos de que a mamalgesia é positiva para o bebê. Além de reforçar o vínculo entre mãe e filho, o ato proporciona mais tranquilidade à criança na hora de ela ser vacinada, pois ao fazer a sucção do peito ela se sente naturalmente mais segura.
“A sensação de conforto e segurança que acontece no momento da amamentação tende a deixar a criança mais calma, mas é importante dizer que isso não garante que ela não vá ter algum desconforto na hora da aplicação da vacina, mas sim que há chances desse desconforto ser diminuído”, explica.
A médica explica ainda, que a mamalgesia proporciona diminuição da sensação de dor da vacina, pois libera hormônios como ocitocina e endorfina, que proporcionam prazer para a criança e, com isso, ela deixa de associar o momento a algo que causa apenas dor.
“Esse procedimento é indicado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), e pode ser aplicado não só na hora da vacina, mas também na coleta do teste do pezinho e de demais exames. Apesar das crianças pequenas não terem medo consciente de agulha, a mamalgesia traz a segurança de estar no colo da mãe”, reforça ela.
Patrícia, no entanto, orienta para que, sempre que o filho precisar passar pela vacinação ou demais procedimentos que possam lhe causar qualquer tipo de desconforto, o ideal é contar sobre o que, de fato, vai acontecer – dentro do entendimento e maturidade da criança.
Existe alguma contraindicação?
Segundo Patrícia, não existem contraindicações e, de acordo com a médica, apesar de alguns postos de saúde ainda estarem desatualizados com relação à técnica, a mulher que amamenta pode sim realizar a mamalgesia sempre que desejar.
“Alguns profissionais não permitem por acreditarem que a criança pode broncoaspirar, mas não existe nenhum estudo ou caso que comprove isso”, diz a pediatra.
A psicóloga infantil Isa Vaal aponta que a amamentação é um momento bastante especial, de conexão entre mãe e filho, trazendo à criança sensações de acolhimento e segurança. Ela diz, porém, que mesmo a mamalgesia sendo uma prática recomendada pela OMS e pelo Ministério da Saúde, ela não deve ser tratada como regra, mas como opção.
“A prática é recomendada como medida não-farmacológica para o manejo da dor, mas antes de tudo é preciso respeitar a individualidade de cada caso. É necessário que a mãe se sinta confortável e decida se amamentar enquanto vacina a criança faz sentido para ela e para o bebê”, sugere a psicóloga, reforçando que a rotina de amamentação seja respeitada para que a situação não fuja do controle, levando a momentos de estresse desnecessário.
Mamalgesia na prática: saiba como aplicar
Para que a técnica funcione sem maiores problemas, Patrícia recomenda o seguinte passo a passo:
- Segure firme o bebê;
- Verifique se ele está bem próximo do seu corpo, em contato pele a pele, e sugando efetivamente;
- Para que tenha maior efeito, a amamentação deve ser iniciada entre 2 a 5 minutos antes da aplicação da injeção;
- Continue amamentando enquanto a injeção é aplicada.
- Mantenha o bebê no seio da mãe por mais alguns minutos após a imunização, até que ele fique totalmente tranquilo.
Caso a criança vá tomar vacinas orais e injetáveis na mesma visita ao posto de saúde, o Ministério da Saúde indica administrar primeiro a “gotinha” e depois a injeção.
E se o posto de saúde for contra a mamalgesia?
Caso o posto de saúde, por algum motivo, se recuse a aceitar que a mãe pratique a amamentação na hora de imunizar o pequeno, a recomendação de Patrícia é de que essa mulher se posicione para exigir seus direitos, ainda mais se ela estiver a par sobre a importância e indicação deste método.
Porém, diz a médica, pelo fato de a mamalgesia não ser considerada lei no Brasil, o andamento da situação vai depender da conversa entre a mãe lactante e os profissionais de saúde que atuam no local. Se, mesmo após conversar a equipe não deixar que a mãe amamente durante a imunização da criança, o melhor é buscar outra unidade de saúde.
Mais tranquilidade na hora de vacinar
Sempre respeitando os prazos de cada vacina, Isa sugere que mães de crianças que tenham medo de agulha procurem um dia no qual tanto o adulto quanto o pequeno estejam mais descansados e calmos, e recomenda que o responsável trate a situação com naturalidade.
“Não imponha medos ou use de ameaças para que a criança se tranquilize com relação à vacinação, isso não vai ajudar. Explique que a imunização é algo benéfico para ela, conte que você também já se vacinou e fale sobre a importância deste ato. A amamentação após a aplicação da vacina também pode ajudar a conter o desconforto e o estresse da criança”, recomenda Isa.
Independentemente de optarem pela mamalgesia, pais e mães nunca devem deixar de vacinar seus filhos, pois a prevenção e o senso de comunidade precisam ser prioridade. “É um ato de autocuidado e amor que devemos ensinar aos nossos pequenos desde cedo. Se informem, estejam atentos, conversem com um pediatra de sua confiança e mantenham em dia a carteirinha de vacinação dos seus filhos”, aconselha a psicóloga.