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Desafios de amamentar: “Foi chocante saber que minha bebê estava com fome”

Olívia precisou corrigir o encurtamento do freio da língua com uma cirurgia e reaprendeu a mamar, enquanto a mãe lutava para aumentar a produção de leite

Por Da Redação
8 ago 2022, 16h55
Bebê não está engordando! saiba como avaliar o desenvolvimento do bebê
Bebê não está engordando! saiba como avaliar o desenvolvimento do bebê (Foto/Arquivo Pessoal)
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Amamentar é um dos maiores presentes que uma mãe pode dar a um filho – e os efeitos duram a vida toda. Porém, esqueça as fotos lindas das redes sociais. A amamentação nem sempre é fácil. Aliás, na grande maioria das vezes, é desafiadora. Por isso, ao longo deste Agosto Dourado, como é conhecido o mês dedicado à conscientização sobre o aleitamento materno, traremos relatos de mulheres que passaram por dificuldades, mas, com informação e apoio, conseguiram chegar lá!

Renata Lima, de 34 anos, enfrentou vários obstáculos até estabelecer a amamentação. Isso porque a pequena Olívia, hoje com 7 meses, tinha o freio da língua preso e não conseguia fazer a pega correta no seio. Além de causar perda de peso, isso acabou atrapalhando a regulação da produção de leite da mãe, que ficou abaixo da necessária. Difícil? Extremamente! Mas não impossível, quando há determinação, informação e, sobretudo, muito apoio ao redor, como mostra o relato que você lê a seguir.

“Quando saímos da maternidade, a Olívia fez o teste da linguinha, que é obrigatório. Ali, já foi detectado que ela tinha certo nível de língua presa. Porém, a pediatra e a fono pediram para esperarmos para ver se, realmente, isso atrapalharia a amamentação. Como era pouco, poderia nem ser necessário que ela passasse por alguma intervenção. Então, fomos para casa, a Olívia foi pegando o peito e, aparentemente, estava tudo certo.

Não tive avaliação de uma consultora de amamentação no início. Na verdade, não sabia se estava mesmo tudo certo. Ela pegava o peito, eu tentava ajustar a pega e achava que estava tudo bem. Ela tinha perdido aquele peso normal na saída da maternidade. O susto veio na consulta seguinte. Quando foi pesada, vimos que Olívia tinha perdido MUITO peso.

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Foi um choque! Então, fomos orientados a entrar com a fórmula. Ela também estava muito irritada – provavelmente era fome. Mas, até então, não sabíamos. Quando víamos que a bebê estava irritada, era aquela coisa: ficávamos tentando descobrir se era sono, se era frio, se era calor, cólica… Foi chocante saber que ela estava com fome. Não estava esperando por isso. Por mais que eu tenha lido e me informado sobre amamentação e soubesse que não era uma coisa instintiva, eu achava que era algo mais fluido, que eu iria acertando a pega e beleza. Só que não.

A indicação foi de que ela passasse por uma frenotomia, que é a cirurgia que corrige o encurtamento do freio lingual. Levamos Olívia a uma odontopediatra, que fez o procedimento. A avaliação da especialista mostrou que, entre todos os níveis de encurtamento do freio, o dela não era dos mais graves. No entanto, como estava atrapalhando a amamentação e o ganho de peso, a cirurgia era indicada. Foi muito rápido. É um laser que faz o corte em questão de segundos. Mas foi horrível. Minha filha gritava horrores.

Passado o procedimento, ela tinha que se recuperar e aprender a mamar novamente. Junto da pediatra, entramos com um plano, que era fazer a relactação com uma sonda colocada junto ao bico do peito, para ela ingerir o complemento e ganhar peso, mas sem confusão de bicos e estimulando a produção (pela sucção e pela demanda). Poderia fazer isso com o leite ordenhado ou com a fórmula. No início, tinha que ser com a fórmula, pois eu não daria conta de extrair quantidades suficientes para ela ganhar o peso que precisava, rapidamente.

bebe mamando no seio da mãe e em uma bomba de relactação
(Foto/Arquivo Pessoal)

Além de Olívia ter pouco peso, como no primeiro mês, as mamadas não aconteceram como deveriam, a produção não foi regulada, era insuficiente. Seguimos assim, com a relactação. Paralelamente, tive de seguir uma rotina muito rígida de ordenha, para estimular o aumento da quantidade de leite. Era bastante exaustivo! Ela mamava e, na sequência, eu tinha que fazer a ordenha, isso tudo de três em três horas – sem falar que precisávamos ficar de olho na pega, que a Olívia tinha de aprender novamente. Todo esse processo é bem estressante.

Existia ainda o fantasma do ganho de peso, que nos rondava a todo o momento. Depois do trauma do primeiro mês, queríamos pesá-la toda hora para saber se ele estava aumentando ou não. Eu também me sentia muito julgada pelas pessoas – não de propósito, claro, mas ninguém entendia por que eu estava fazendo tudo aquilo.

E, realmente, no meio de tanta exaustão, privação de sono, coloca sonda, ordenha, de três em três horas… Dá vontade mesmo de desistir. Muitas vezes. A gente pensa: ‘Dane-se! Dá a mamadeira, ela ganha peso e pronto’. Eu me perguntava: ‘Por que eu estou fazendo isso? Será que estou insistindo demais em algo que não vai dar em nada? Será que eu é que quero amamentar e que todo esse esforço é para mim e não para minha filha? É algo para o meu ego? Todas essas paranoias, em meio ao puerpério. É complicado. Estou insistindo em algo, ela não está se alimentando, não está ganhando peso. Só que eu sabia que era um processo transitório, para que Olívia conseguisse mamar depois, e que isso traria ganhos para toda a vida dela.

O que fez diferença foi a pediatra ser muito amiga do aleitamento materno. Ela não focava só no fato de a bebê ganhar peso ou não, mas na questão da amamentação e da família. Ela nos ajudou a desenvolver esse plano, a ter uma consultora para avaliar o que eu estava fazendo de errado nas pegas, orientou, acompanhou.

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Até o quarto mês, seguimos o esquema de relactação. Ela mamava o peito e a sondinha e, em paralelo, eu ia tentando fazer as ordenhas para aumentar o leite. Então, chegou um momento em que precisávamos pensar no desmame da sonda. Olívia estava maior, a pega estava estabelecida e ela estava mamando melhor. Eu também havia tomado alguns medicamentos, com orientação médica, para estimular o aumento da produção.

Aí, o complemento passou a ser dado no copinho de bico rígido, em vez da sonda. De novo, o objetivo era não dar mamadeira e não fazer confusão de bico ou de fluxo. Quando o bebê mama pela sonda, o leite vem mais facilmente, então, foi toda uma adaptação para ela aprender a tomar do copo. Conseguimos! Foi só aí que amamentar começou a se tornar mais prazeroso. Um processo de quatro, cinco meses de muita luta.

Afinal, amamentar emagrece? E ainda reduz câncer de mama?
(Foto/Arquivo Pessoal)

Meu parceiro foi um suporte enorme. Estávamos muito alinhados, ele também tinha uma preocupação grande com a questão do peso da bebê, mas, ao mesmo tempo, me entendia e tinha bastante paciência. Não que não tenham ocorrido alguns estresses, normal, mas foi muito apoio. E é isso: por mais que a gente leia e saiba que não vai ser instintivo, que haverá dificuldades, etc., na hora, você vê que é muito mais!

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A jornada é pesada e faz pensar se vale a pena. No entanto, hoje, eu vejo que vale, porque minha filha poderia estar na mamadeira desde o começo, mas, não. Agora, ela mama no peito e não quer largar. Eu acho que ela é um bebê que vai mamar por bastante tempo, pelo menos um ano, para mais! O peito é um lugar que ela tem como aconchego, além de alimentação”.

Freio de língua curto: como identificar e tratar?

A avaliação do freio da língua é obrigatória e deve ser feita ainda na maternidade. É o famoso teste da linguinha. Mas, afinal, o que é o freio da língua e por que ele é curto, em alguns casos, podendo atrapalhar a amamentação e, mais adiante, o desenvolvimento da fala?

Trata-se de um tecido que prende a língua ao assoalho da boca. Em alguns casos, ele é muito curto e acaba atrapalhando a movimentação normal da língua, o que pode interferir na amamentação e, mais adiante, no desenvolvimento da fala. “O freio lingual curto sozinho não é impeditivo para a amamentação”, explica Thaís Tubero, pediatra e idealizadora da Casa Caeté (SP). “É preciso avaliar também as características da pessoa que amamenta, formato das mamas, produção de leite, características do bebê, pega… “, acrescenta.

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Por todas essas questões, nem sempre o procedimento de correção é indicado na hora. “Muitas vezes, precisamos de uma avaliação de uma consultora de amamentação, que é uma grande aliada no processo, de um profissional de fonoaudiologia que entenda de aleitamento materno, às vezes, de um osteopata, de um odontopediatra. Isso tudo para entender os fatores envolvidos, antes de atribuir um problema na amamentação e no ganho de peso única e exclusivamente ao freio lingual do bebê”, aponta a especialista.

Nos casos em que, sim, é detectado que o freio curto está, de fato, atrapalhando o processo, a criança é encaminhada ao odontopediatra, que faz o procedimento de correção, com laser. “E, então, o bebê precisa aprender a mamar, porque, até então, a amamentação não foi estabelecida”, explica a médica.

E, como todo aprendizado, é algo que exige paciência. “Alguns bebês conseguem mamar direto. Outros, podem, por um tempo, ficar com a língua mais descoordenada, não conseguem fazer o movimento. Nesse meio tempo, o recomendado é contar com métodos que não incluam bicos artificiais, porque eles podem impactar negativamente esse aprendizado”, recomenda Thais. Copinho, colher dosadora ou relactação – com leite ordenhado ou com fórmula, como foi o caso de Renata, são algumas das soluções temporárias, até que a criança aprenda a mamar sozinha, diretamente no seio, e restabeleça o ganho de peso.

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