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Quando devo procurar ajuda profissional para a amamentação?

Dores que persistem durante toda a mamada, machucados nos seios, pouco ganho de peso do bebê são alguns dos sinais para buscar acompanhamento.

Por Flávia Antunes
6 ago 2021, 11h36
Mãe amamentando bebê na cama
 (AleksandarNakic/Getty Images)
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Receio, entusiasmo, ansiedade. Assim como os nove meses de gestação e o parto geram uma série de expectativas na mulher, o próximo grande marco que promove este mix de sentimentos é a amamentação.

E mesmo sabendo da extensa lista de benefícios do aleitamento para a mãe e para o bebê, nem sempre o processo é tão intuitivo e pode não fluir na primeira tentativa – ou mesmo ser impedido por questões fisiológicas ou culturais  – e quando isto acontece, tudo bem também. O importante é acolher e não julgar.

Seja qual for a situação, geralmente a mulher tem consciência de que em caso de dificuldade é possível recorrer à consultora de amamentação, por já ter ouvido falar sobre a especialidade em alguma pesquisa durante a gravidez ou na própria consulta com o obstetra. Mesmo assim, saber o momento certo de procurar esta profissional é algo que ainda gera dúvida.

Afinal, quando procurar uma consultora de amamentação?

A resposta é bem pessoal, já que também depende da disponibilidade da mulher em fazer o acompanhamento. Porém, de forma geral, a recomendação de Marcia Regina da Silva, consultora de amamentação do São Luiz Itaim, da Rede D’Or São Luiz, é que a mãe busque ajuda quando estiver enfrentando qualquer dificuldade relacionada ao aleitamento, em que sozinha e nem com o suporte de pessoas próximas está sendo possível resolver. 

Outro grande ponto de atenção é a dor. “A dor sinaliza que há algo errado, que precisa de uma intervenção. É lógico que um certo desconforto no começo é possível, seja porque a mulher nunca amamentou e há uma sensibilidade nas mamas – ou porque o bebê está aprendendo e pode errar… Esse desconforto que passa conforme vai dando de mamar é absolutamente normal. Agora, aquela dor que persiste durante a mamada inteira ou até depois dela, precisa ser investigado”, alerta Marcia.

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Às vezes, levadas pelo mito de que o peito precisa calejar para que o aleitamento funcione, muitas lactantes acabam demorando mais tempo para procurar ajuda. “Culturalmente, a dor é muito aceita, principalmente na mulher. Elas são tratadas como normais, mas podem ter um significado clínico”, afirma a consultora de aleitamento materno da Theia, Amanda Sena.

O surgimento de machucados e fissuras também está entre os motivos campeões pelos quais as mulheres vão atrás do acompanhamento. De fato, eles são sinais de alerta, mas não devem ser tratados de forma imediatista, como pontua Amanda. “Muitas buscam a consultora para fazer a aplicação de laser. O instrumento realmente ajuda na cicatrização, mas não é instantâneo e não será eficiente se a causa não for identificada e tratada”, diz.

Além disso, a mulher pode se beneficiar do auxílio quando apresenta dificuldades mais práticas, como de posicionar o bebê, ou inseguranças e dúvidas a respeito desse manejo; se estiver com as mamas endurecidas ou se os mamilos ficarem “amassados” ou com marcas depois da mamada, já que a falta de correção pode fazer com que evolua para um trauma mamilar.

Há ainda sinais na saúde do pequeno que indicam que a amamentação não está saindo conforme o esperado, como quando o bebê ganha pouco ou nenhum peso – algo que pode ser identificado durante as consultas com o pediatra -, ou se não faz xixi e cocô na frequência esperada, o que pode indicar que não está recebendo a quantidade de leite adequada.

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Como funciona o trabalho dessa profissional?

Mais do que resolver problemas pontuais a função da consultora de amamentação envolve um acompanhamento próximo e investigativo a respeito da dificuldade da mãe. “A mulher pode chegar com a queixa de trauma mamilar, mas muitas vezes o problema envolve várias questões que precisam ser resolvidas uma a uma, como o posicionamento e pega do bebê, o jeito que a boca está encaixada, etc.”, exemplifica Marcia.

Por isso, nem sempre uma visão imediatista funciona, ainda mais considerando a premissa fundamental de que os limites da mulher sejam respeitados durante o processo.

A fim de trazer um cenário mais detalhado sobre o trabalho da consultora de amamentação, Amanda conta um pouco sobre o passo a passo de sua abordagem – lembrando que ela pode variar dependendo da profissional. “Durante o atendimento, faço a avaliação da mãe, de sua mama, do bebê – avalio sua boca e língua e como faz a sucção no dedo – e depois do conjunto mãe-bebê”, diz.

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A próxima ação é levantar o histórico clínico da mulher, para verificar se há alguma condição que possa interferir na amamentação, como diabetes gestacional, se teve sangramento no pós-parto, hipotireoidismo ou fez alguma cirurgia da mama, que eventualmente pode afetar a produção de leite.

Em seguida, a especialista avalia a mamada e dá as orientações gerais, que serão colocadas em prática pela mãe enquanto se comunicam neste meio tempo (seja enviando vídeos e fotos, tirando dúvidas ou até por consultas virtuais, que mostraram funcionar bem durante a pandemia, segundo Marcia). “Algumas mulheres se sentem inseguras de início, mas acabam percebendo que ganham mais autonomia no processo”, revela.

Sobre a duração do acompanhamento, depende muito do motivo pelo qual a mulher buscou ajuda. Em algumas situações, a consultora faz o ajuste na mamada e, dali para frente, a mãe e o bebê conseguem reproduzir sozinhos, mas em outras que pode ser necessário um ou dois meses para que a amamentação se estabeleça

Vale a pena buscar orientação mesmo antes do parto?

Embora muitas mulheres prefiram esperar o início da amamentação para decidirem se vale a pena buscar ajuda profissional, as especialistas concordam que o acompanhamento pode ser benéfico mesmo antes, quando a gestante se prepara para receber o filho.

“Atualmente, algumas pessoas têm optado por contratar uma consultora ainda na gestação para ter esse atendimento individualizado”, pontua Marcia. Segundo ela, o melhor momento para iniciar seria a partir do sétimo mês, entre 28 e 30 semanas e, se possível, procurar escolher uma pessoa que seja também enfermeira ou obstetra, para que assim também trabalhe com a mulher questões mais amplas, como dúvidas relacionadas ao parto, na busca por tornar o processo mais tranquilo.

Em relação especificamente à amamentação, Amanda lista algumas possibilidades para a atuação da profissional durante a gravidez. “Novamente, pode ser feita a avaliação do histórico clínico da mulher, pensando se há algo que possa interferir na produção do leite; além de alinhar as expectativas com a gestante, caso haja indícios de que será preciso fazer o complemento com fórmulas, por exemplo”, diz.

Enfim, há ainda a questão técnica, em que a mulher aprende como é a pega correta – seja por meio de fotos e vídeos ou praticando com bonecos. Mas como a dinâmica depende também do bebê, Amanda gosta sempre de lembrar que os ensinamentos teóricos nem sempre garantem que o aleitamento será bem-sucedido.

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Onde buscar uma ajuda especializada?

Normalmente, o próprio obstetra da mulher consegue indicar pessoas de sua confiança, mas nada impede que a mãe procure ajuda na instituição onde teve o bebê. “Vale checar se a maternidade oferece esse acompanhamento pós-alta e usar desse recurso”, diz Marcia.

Apesar do médico que acompanhou a gestante durante os nove meses conseguir dar orientações gerais a respeito da amamentação, Amanda reforça que elas não substituem o acompanhamento próximo e focado da consultora de aleitamento.

“O mesmo vale para os pediatras que, apesar da especialidade em bebês, muitas vezes preferem encaminhar a mãe para que eles foquem mais na questão clínica e no desenvolvimento da criança”, esclarece.

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