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Qual é o papel do pai do bebê durante a gestação?

Especialistas explicam quais demandas a gestante pode e deve compartilhar com o parceiro durante a gravidez, bem como as melhores maneiras de comunicá-las.

Por Ketlyn Araujo
2 dez 2021, 18h32
Libido aumenta na gravidez? Mitos e verdades sobre sexo na gestação
Libido aumenta na gravidez? Mitos e verdades sobre sexo na gestação (Westend61/Getty Images)
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Antes de responder a pergunta do título é preciso entender todo o cenário de ter um filho na vida da pessoa que está gestando. Parece óbvio de se dizer, mas cada corpo é um corpo e, logo, cada gravidez é uma gravidez. Dessa forma, enquanto algumas gestantes passam pelo período sem grandes complicações e queixas, outras acabam enfrentando algumas questões, além dos sintomas e mudanças que se manifestam semana a semana.

Para a psicóloga Daniela de Oliveira, muitas vezes temos a tendência a acreditar que aspectos físicos e psicológicos estão separados, o que não é bem a verdade. “Ninguém contou para o corpo e para a mente que eles deveriam funcionar separadamente, e por isso continuam atuando juntos, sem nenhuma divisão. As nossas emoções acontecem no corpo e, então, todas as mudanças fisiológicas que estão acontecendo no organismo da gestante de maneira muito rápida, afetando o metabolismo, também formam muitas emoções intensas – afinal, esse é um momento de grandes transições”, diz a profissional.

Oscilações de humor, ansiedades, medos e inseguranças são sentimentos mais do que comuns durante a gravidez, que também pode vir acompanhada de sensações ligadas à plenitude, gratidão e satisfação. Daniela completa ao salientar que, como em qualquer processo da vida, o modo como a pessoa vai encarar o período varia de acordo com as condições internas e externas, sua compreensão sobre si própria e o quanto ela está ciente das próprias emoções.

Rosangela Sampaio, psicóloga e apresentadora do programa “Mulheres Em Flow”, acrescenta o fato de que problemas como depressão e ansiedade são transtornos mais comuns de serem diagnosticados durante a gravidez.

“Eles afetam cerca de 10 a 15 em cada 100 mulheres grávidas, e problemas de saúde mental que você teve no passado também podem ser preocupantes, pois podem aumentar o risco do mal-estar, especialmente no puerpério. No entanto, com a ajuda certa, isso pode ser evitado”, fala ela.

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Ao pensarmos em relações heterossexuais, muitas vezes pode ser complicado para a gestante comunicar ao parceiro que precisa de algum tipo de ajuda, ainda mais quando essa mulher já está habituada a dar conta de tudo e mais um pouco. Já para alguns homens, seja por falta de diálogo ou de referências, o mais difícil tende a ser compreender as reais necessidades da parceira durante a gravidez. Afinal, qual deve ser o papel deste homem durante a gestação?

É preciso diálogo para ter acolhimento! 

Nem toda grávida vai se sentir sozinha e desamparada ao longo da gestação, reforça Daniela, mas caso ela passe por esse turbilhão de emoções é necessário saber comunicar suas necessidades ao parceiro de forma assertiva, o que costuma ser um desafio:

“Neste período, com mudanças tão grandes, é preciso tomar cuidado com essa intensidade na comunicação, para não nos tornarmos agressivas. Uma boa maneira é estarmos cientes das nossas emoções e comunicá-las em nós, sem necessariamente colocar a responsabilidade do que sentimos no outro”, opina a psicóloga.

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O ideal, portanto, seria focar na ação do outro, e não colocar qualidades ou defeitos sob aquela pessoa. “Ou seja, eu posso dizer para o meu parceiro que notei que ele não colocou a xícara do café da manhã na pia, e que isso me deixa com raiva, no lugar de dizer que ele é um desleixado. Falar sobre as nossas necessidades e perguntar ao outro sobre o quanto é possível chegar a um acordo, viável aos dois, é essencial”, exemplifica ela.

Rosangela segue esta mesma linha, ao incentivar a conversa entre o casal sobre as diferentes emoções, dúvidas, angústias e questionamentos que ambos possam estar sentindo neste período pré-nascimento. Além de saber compartilhar as próprias necessidades como mãe e mulher, é importante também estar aberta a ouvir sobre o que o parceiro está sentindo – e, novamente, tentar estabelecer acordos.

“Uma mulher que se sente apoiada por seu parceiro durante e após a gravidez pode se sentir mais feliz e menos estressada, mas é válido ressaltar que o homem também pode se sentir inseguro e ansioso durante o processo. Já quando o casal se apoia, o vínculo e o senso de trabalho em equipe são fortalecidos”, complementa.

Nas pequenas ações do dia a dia…  

Com um diálogo mais estabelecido e respeitoso para ambas as partes, o momento é de pensar em ações práticas para que tanto as emoções quanto as demandas da gravidez não pesem para apenas um lado da balança.

Caso este seja o primeiro filho do casal, pontua Rosangela, o homem deve buscar aprender o máximo que puder sobre gravidez, já que ler e se informar sobre o que esperar durante cada trimestre faz total diferença no modo como ele enxerga a parceira gestante.

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“Por exemplo, é sabido que mulheres podem ficar muito mais cansadas durante o primeiro trimestre de gestação, mas que durante o segundo elas costumam ter mais energia. Não deixe, então, de acompanhar a gestante nas consultas médicas, ajudá-la a tomar decisões sobre os exames pré-natais e ir para as aulas de parto”, sugere.

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Além disso, Daniela recomenda que o casal reorganize as tarefas domésticas – deixando por conta do homem, principalmente, aquelas que exigem maior esforço físico. Acompanhar a parceira em cursos diversos, sugerir e dividir leituras sobre gravidez e nascimento junto da gestante, estar presente nas decisões que envolvem a chegada do filho ou filha (enxoval, decoração do quartinho, nome do bebê…) e acolher as próprias emoções e as da companheira é igualmente fundamental.

Os dois precisarão passar por adaptações

Quando olhamos para a realidade brasileira, porém, é sabido que muitos parceiros não têm como reduzir a carga horária de trabalho na intenção de acompanhar a gestante na maioria de seus compromissos. Mesmo assim, dizem as especialistas, o amparo e o auxílio (de diferentes formas) são mais do que possíveis.

O suporte emocional, mesmo de ‘longe’, faz total diferença, diz Rosangela. Nesses casos, o parceiro pode – e deve -, encorajar a tranquilizar a grávida caso ela se sinta desamparada, perguntar sobre o que ela precisa naquele momento e demonstrar afeto sem economia, o que pode significar, ainda, a realização de mudanças no próprio estilo de vida do futuro pai.

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“O homem pode decidir por parar de consumir ou reduzir o consumo de álcool ou café, já que a companheira não pode beber, tentar se alimentar de maneira mais saudável, o que pode influenciar nos hábitos da gestante, incentivá-la a fazer pausas e tirar cochilos, já que os hormônios durante a gravidez alteram os níveis de energia e aumentam a necessidade de sono”, reforça.

“Algumas mulheres podem querer menos sexo, podendo ficar cansadas ​​e desconfortáveis ​​à medida em que a barriga cresce, ou até mesmo constrangidas sobre como aquele corpo está mudando. Outras, porém, tendem a querer mais sexo em determinados momentos da gravidez. Seja qual for a situação, conversar com a parceira sobre como ela está se sentindo, e estar aberto a mudanças sobre como o casal expressa a intimidade é fundamental”.

Distância física não é sinônimo de distância afetiva, resume Daniela, ao reforçar a importância de que, ao estar presente fisicamente, o homem adote as atitudes de cooperação e parceria.

Sim, o conceito de paternidade está mudando! 

Ambas as psicólogas enxergam pequenas mudanças nas relações de gênero, e torcem por uma sociedade mais igualitária, o que também passa pela parentalidade.

“Acredito que exista um movimento de mudanças e, inclusive, algumas empresas que têm adotado a licença-paternidade com a mesma extensão da licença-maternidade, compreendendo a importância da presença paterna para a formação da criança. Culturalmente, o papel da paternidade também tem mudado bastante: passamos do pai que ‘só’ trabalha, coloca dinheiro em casa e se mantém mais distante emocionalmente para um pai que é próximo e acolhedor, que faz parte integralmente da criação dos filhos e tem uma parceria com a mulher em todos os aspectos da vida, inclusive financeiro. O caminho é desenvolver a cooperação e a parceria”, arremata Daniela.

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