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Mães fazem mais do que pais na divisão de tarefas durante a quarentena

Pesquisa britânica mostra que mulheres gastam até duas horas a mais com afazeres domésticos e no cuidado com os filhos.

Por Chloé Pinheiro
10 jun 2020, 17h38

Durante o isolamento social imposto para conter a pandemia de Covid-19, mães estão realizando duas horas a menos de trabalho pago e duas horas a mais de tarefas não-remuneradas ao dia em comparação aos pais. É o que mostra uma pesquisa do Instituto de Estudos Fiscais (IFS, na sigla em inglês) do Reino Unido com mais de cinco mil famílias. 

De maneira geral, ambos estão sob pressão. Antes da pandemia, segundo o IFS, os pais passavam em média 5h30 cuidando das crianças e 6h30 trabalhando. Agora, são 9h por dias de cuidados com os filhos e menos de 3h em média exercendo funções remuneradas, número alavancado pelo alto desemprego registrado no período. 

É inegável, contudo, que há uma sobrecarga para o lado feminino. Durante 47% do expediente, elas precisam conciliar atividades profissionais com outros afazeres de casa (quase sempre relacionadas aos filhos). Para os pais, este índice é de 30%. Elas também são interrompidas duas vezes mais do que os homens. 

Os dados são da Inglaterra, mas dá para imaginar que o cenário é semelhante no Brasil, que já tinha números até piores antes da pandemia.

Dados da pesquisa “Outras Formas de Trabalho”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, em 2018, enquanto as mulheres dedicavam em 21,3 horas semanais a afazeres ou cuidados, a carga dos homens era de 10,9 horas.

Desemprego entre as mulheres

O texto destaca que mulheres geralmente são maioria entre as empregadas de setores abalados pela pandemia, como comércio e hotelaria. Tanto que, na pesquisa, as mães estavam 1,5 vezes mais propensas do que os pais a terem perdido seus empregos desde o início da pandemia. 

As que pararam de trabalhar começaram a fazer duas vezes mais trabalhos domésticos do que os parceiros. Quando o contrário aconteceu, a divisão permaneceu igual. 

No Brasil, onde a parcela de desempregadas é de 14% frente a 10% do público masculino, se espera que a pandemia tenha impacto semelhante, uma vez que elas ocupam mais postos de trabalho informal e já são maioria entre a população vivendo abaixo da linha de pobreza. 

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Risco de retrocessos na luta por igualdade de gênero

A desigualdade na divisão de tarefas domésticas não é uma grande novidade. O problema é que nos últimos anos tivemos progressos mesmo que modestos nesse departamento, agora sob ameaça. Isso porque, como os pesquisadores destacam, assumir mais responsabilidades domésticas para si poderia dificultar a volta ao mercado de trabalho.

Por outro lado, evidências anterior sugerem que pais que assumem mais tarefas em casa por um período limitado de tempo tendem a manter esse padrão em longo prazo. Ou seja, se a quarentena pode agravar a desigualdade de gênero, pode também ser uma oportunidade para reverter esse quadro. 

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