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As 5 principais dúvidas respondidas sobre cirurgia bariátrica e gravidez

Especialistas costumam indicar o procedimento antes da gestação, mas é preciso seguir os cuidados cautelosamente.

Por Nathalie Ayres
Atualizado em 4 fev 2022, 12h40 - Publicado em 2 fev 2022, 16h29

Uma cirurgia bariátrica é uma intervenção grande no organismo humano, tanto que exige uma equipe multidisciplinar, composta por cirurgião, nutricionista e até psicólogo. Como é estimado que 70% das pessoas que buscam por esse tipo de intervenção são mulheres, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, é normal que elas se questionem: e se eu quiser engravidar, esse procedimento pode me trazer algum impacto?

A verdade é que sim, mas não necessariamente um impacto ruim. “O fato de fazer ou não uma bariátrica não atrapalha, o que dita possibilidade de uma gravidez é o ponto de fertilidade e esta cirurgia pode melhorar esse fator, se a paciente tiver obesidade intensa“, pondera a ginecologista e obstetra Fernanda Schier, professora do curso de Medicina na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Para entender melhor as principais dúvidas sobre o tema, conversamos com especialistas que explicam o melhor momento para realizar a cirurgia e os impactos de ter passado por ela antes de uma gestação.

1- Melhor fazer a bariátrica antes ou depois de engravidar?

Como já explicado por Schier, em mulheres com obesidade a fertilidade pode ser prejudicada e, nesses casos, a perda de peso ajuda a reverter isso. Isso ocorre porque as células de gordura interferem nos ciclos menstruais, muitas vezes fazendo que eles não necessariamente produzam óvulos. É o caso de pacientes com Síndrome dos Ovários Policísticos, uma doença metabólica.

A ciência inclusive mostra esse dado: “um estudo publicado em 2020 mostrou que 43% das mulheres que eram consideradas inférteis antes da cirurgia bariátrica, conseguiram engravidar após a cirurgia”, completa a endocrinologista Jacqueline Rizzoli, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO) e médica do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

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No entanto, não adianta passar pela cirurgia e já ir planejando o chá de bebê, já que cuidados são necessários.

2- Depois de quanto tempo da cirurgia bariátrica pode engravidar?

Normalmente é importante que a mulher que fez uma bariátrica e deseja ser mãe aguarde ao menos um ano antes de começar a planejar uma gestação. “É importante esperar o momento em que o peso dela estacionou e ela atingiu seu objetivo, visto que quando a paciente ainda está em processo de emagrecimento, ela terá algumas restrições alimentares que não são compatíveis à gestação, como a restrição calórica, menor aporte de nutrientes e estado de catabolismo”, enumera o cirurgião geral e bariátrico João Sucupira, supervisor do Programa de residência médica em área básica de cirurgia geral da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba. O ideal para o especialista é liberar que a gestação seja buscada quando há níveis normais de ferro e vitaminas.

Mas e se a gravidez não for planejada e acontecer no meio desse processo? O importante é buscar orientação rapidamente. “Iniciando o pré-natal para rápida correção das deficiências nutricionais e orientação para uma alimentação adequada e tratamento de eventuais alterações clínicas presentes”, considera o obstetra Mário Macoto Kondo, do Hospital e Maternidade Santa Joana.

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Vale reforçar que, sempre que possível, é importante o planejamento, já que é preciso se estruturar até mesmo psicológica e emocionalmente para mais mudanças em seu corpo em um curto período de tempo. Alterações que irão mexer também com os dígitos da balança.

3- Como lidar com o ganho de peso na gravidez?

É comum que a gestante que acabou de passar por uma bariátrica não se sinta bem ao ver os números da balança subindo novamente. E saiba que não é esperado que ela apresente menos quilos depois da intervenção. “O ganho de peso deve ser o mesmo de uma paciente que não passou por cirurgia bariátrica, de oito a doze quilos aproximadamente”, calcula a endocrinologista Claudia Montemor, professora do curso de Medicina na PUCPR. Isso é normal, afinal somamos aqui o peso do feto, da placenta e do líquido amniótico.

E se a gestante começa a se preocupar demais com o andar dos ponteiros na balança, pode prejudicar o bebê. “Essa mulher precisa estar ciente de que precisa ter uma nutrição adequada para o bebê nascer com saúde“, reforça Sucupira, que também ressalta a importância do acompanhamento dessa gravidez não só pelo obstetra, como também pela equipe que esteve com ela durante o pós-operatório.

4- Afinal, quais cuidados são importantes com alimentação na gravidez após a bariátrica?

Mulher grávida segurando tigela
(Ikostudio/Canva)

Durante o pré-natal de uma gestante que já passou por uma bariátrica, a principal preocupação é com seu aporte e absorção dos nutrientes, já que o não monitoramento desses fatores pode levar a algumas complicações como:

  • Restrição de crescimento do feto;
  • Nascimento de bebê com baixo peso ou pequeno para a idade gestacional (PIG).

“Alguns estudos mostram um aumento do número de recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (15%) em mulheres após cirurgia bariátrica quando comparados a gestantes obesas (8%), a causa mais provável é a restrição de nutrientes pela redução do volume de alimentos e da absorção de alguns nutrientes em mulheres que fizeram a cirurgia”, aponta Rizzoli.

Por isso, é importante que sejam realizados exames nutricionais com frequência, avaliando os níveis de diversos nutrientes e a necessidade ou não de suplementação. “Precisa de acompanhamento nutricional adequado, fazer exames com mais frequência para que as vitaminas sejam repostas”, considera Scheir. A alimentação da grávida precisa ser variada, rica em fibras, proteínas e carboidratos e gorduras de boa qualidade, priorizando bastante variedade de laticínios, ovos, carnes, feijões, frutas, verduras e leguminosas.

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“Vale ressaltar que náuseas e vômitos desta gestação podem estar associados à Síndrome de Dumping, que se deve à ingestão de alimentos ricos em carboidratos refinados, com alto índice glicêmico, que atingem rapidamente o jejuno proximal (porção intermediária do intestino delgado, responsável pela absorção de nutrientes) após a cirurgia” reforça Montemor. Por isso é preciso tomar cuidado com os excessos de açúcar, além do sal e frituras.

Pode ser necessária a suplementação dos seguintes nutrientes, que normalmente são monitorados em todas as grávidas:

  • Ácido fólico;
  • Ferro (de maneira suficiente para evitar que a ferritina fique menor que 50mg/dl);
  • Cálcio (a cirurgia diminui muito sua absorção);
  • Vitamina D;
  • Vitamina B12;
  • Proteínas (em grávidas que não consigam ganhar peso, que ainda estejam emagrecendo durante a gestação e ou que engravidam poucos meses após a cirurgia).

“É importante também ter cuidados com alguns ‘desejos alimentares’ que podem refletir déficit nutricional”, reforça a endocrinologista.

O obstetra Kondo lembra que existem fatores relevantes para serem levados em conta durante o pré-natal. “Alguns riscos importantes são as complicações resultantes da cirurgia bariátrica, como a hérnia interna, obstrução intestinal, perfuração intestinal, que podem ocorrer com o crescimento do bebê e compressão da região operada, sendo necessária uma avaliação de emergência.

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É importante informar, inclusive, o tipo de cirurgia feita ao seu ginecologista, pois isso pode alterar alguns processos do acompanhamento gestacional. “Um exame que é rotina do pré-natal, a curva glicêmica, realizada entre 24 e 28 semanas de gestação, é contraindicada nas gestantes que têm cirurgia disabsortiva, por exemplo”, aponta o especialista. Nesse tipo de cirurgia, é mais comum que o bebê tenha problemas de restrição de crescimento intraútero.

5- Há alguma questão relacionada ao parto por conta da cirurgia?

É comum associar a gestação pós-bariátrica com partos prematuros mas, segundo Kondo, estudos recentes não mostram maior incidência de prematuridade nas gestantes que passaram previamente pela cirugia. Rizzoli aponta que isso pode ser possível apenas em gestações que ocorreram nos primeiros meses após a cirurgia.

Não há também um tipo de parto melhor nessas situações. “A cesárea é indicada quando há dois ou mais partos cesarianos anteriores ou alguma alteração durante o trabalho de parto, como sofrimento fetal, parada de progressão fetal, bebê macrossômico ou bacia estreita”, elucida o obstetra.

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Já no pós-parto só é preciso estar atento à perda de peso promovida pela amamentação. “A maioria das mulheres emagrece nessa fase, então é preciso cuidar para não apresentar déficits nutricionais”, ressalta Montemor.

Outro ponto importante é acompanhar os níveis nutricionais do bebê, avisando a condição também ao médico dele. “É importante a avaliação pelo pediatra, pois alguns recém-nascidos podem ter deficiência de vitamina B12”, finaliza Kondo.

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