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Lapsos de memória na gestação são comuns? Especialistas explicam

Experienciar episódios de perda de memória recente durante a gravidez pode ser algo bastante habitual. Saiba o que fazer para evitar e tratar o problema.

Por Ketlyn Araujo
14 dez 2021, 12h44

Em novembro, a atriz Thaila Ayala revelou, em entrevista à revista Quem, que vinha experienciando alguns episódios de lapsos de memória decorrentes da gravidez. A atriz, que deu à luz Francisco no início de dezembro, porém, não é a única a sofrer com a perda de memória recente ao longo da gestação.

O problema, na verdade, é mais comum do que se possa imaginar, e pode estar relacionado a diferentes fatores ligados à gravidez, seja de ordem hormonal ou emocional, explica Carla Delascio Lopes, ginecologista e obstetra.

“O início dos sintomas, geralmente, é coincidente com o começo da gestação, e eles ocorrem principalmente por fatores hormonais: a ação da progesterona, que por si só já tem essa característica, e o processo de embebição gravídica, que causa um edema leve em todos os tecidos do corpo da gestante (incluindo o cérebro), afetando um pouco a parte cognitiva”, diz.

Além disso, complementa Carla, o mix de sentimentos – ansiedade, medos, acúmulo de pensamentos – faz com que a grávida, no contexto das alterações hormonais, fique mais propensa a sofrer com os lapsos de memória. Logo, reforça a médica, eles são considerados um acontecimento totalmente fisiológico, e não genético.

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Luiz Fernando Leite, obstetra do Hospital e Maternidade Santa Joana, concorda ao considerar as alterações hormonais como principal causa para a ocorrência dos lapsos de memória na gravidez, período no qual o foco da mulher em questão fica muito mais relacionado à manutenção do seu próprio bem-estar e do bebê do que a qualquer outra coisa que possa estar acontecendo simultaneamente em sua vida.

Já Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio Libanês e do Hospital Albert Einstein, pontua que os lapsos de memória estão muito ligados à diminuição na qualidade do sono da gestante. Isso porque, explica o médico, a nossa memória recente necessita de boas noites de descanso para se fixar, então é muito comum que pacientes que apresentem dificuldades para dormir – ou que dormem pouco – sofram com os lapsos de memória.

Na gravidez, conforme o útero vai crescendo, principalmente depois do sexto ou do sétimo mês, você começa a ter mais dificuldade para respirar, porque o órgão comprime o diafragma e diminui a capacidade de expansão do tórax e do pulmão. “Então, desse momento em diante, o sono da gestante costuma ficar mais entrecortado, ela vai acordando diversas vezes durante a noite, e isso pode contribuir para a diminuição da memória recente, para esses lapsos. Fora isso existe a questão das preocupações e estresse com a gestação, que acabam provocando uma mudança nas prioridades de fixação de memória”, corrobora ele.

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Até quando os lapsos de memória costumam durar?

Na maioria dos casos, confirma Luiz Fernando, a perda de memória ligada à gravidez costuma terminar no período pós-parto, momento no qual os níveis de estrogênio no corpo da puérpera sofrem grande redução, ligada ao bloqueio ocorrido pela amamentação.

Mesmo assim, é sabido que, após o nascimento do bebê, a mãe passa a ter um ciclo de sono bastante complicado e totalmente dependente da criança. Somado a isso, existem todas as preocupações relacionadas ao cuidar bem do filho, que também podem contribuir para o cansaço e, consequentemente, que as falhas na memória perdurem por mais um tempo.

Sinais que podem alertar algo além dos lapsos…

mulher segurando bebê
(Atipati Netiniyom / EyeEm/Getty Images)

Caso os lapsos de memória passem a prejudicar as atividades básicas do dia a dia da gestante ou puérpera, ou a coloque em situações de risco, afirma Carla, o problema deve ser investigado por um profissional qualificado – seja o próprio médico ginecologista e obstetra, seja um psicólogo ou terapeuta. Na maioria dos casos, diz ela, os processos são tratáveis e contornáveis.

Não conseguir manter um raciocínio lógico, notar que a performance no trabalho vem sendo afetada e, inclusive, perceber uma diminuição na produção do leite decorrente do cansaço acumulado são sinais de que algo não vai bem.

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O mesmo vale para situações em que fatores importantes, como alguma doença ou problema que a criança possa ter tido recentemente, ou então ligados aos cuidados básicos com o pequeno são esquecidos. “Há casos em que você percebe que não é uma perda de memória que está acontecendo, mas sim um comportamento da mãe de renegar os cuidados à criança. Isso pode indicar uma outra situação, que é a depressão pós parto, então deve-se também estar atento a isso”, alerta Alexandre.

É importante pensar em um pré-natal psicológico

Para prevenir e tratar os lapsos de memória, ocorram eles durante a gestação ou no puerpério, é necessário contar com uma boa assistência pré-natal, sugere Carla. Dessa forma, e mediante uma abordagem multidisciplinar focada na saúde mental da mulher, poderá suavizar todos esses sintomas. Aí entra, também, o papel do obstetra, que deve estar sempre atento a qualquer situação que fuja do normal, além de fazer todas as considerações necessárias sobre o processo fisiológico da paciente.

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“O pré-natal psicológico é muito importante para trabalhar a ansiedade, os medos e os acúmulos de funções que giram em torno da grávida, é o momento mais oportuno que temos para agir em prol das futuras gerações. Cuidar da saúde materna com nutricionista, médico, fisioterapeuta, psicólogo, enfermeira e obstetra é algo que tem trazido um ótimo desfecho para o binômio mãe/bebê, além de ser bom para a família toda”, valida a especialista.

Casal-esperando-bebê
(Westend61/Getty Images)

Além do atendimento médico e psicológico de qualidade, acrescenta Luiz, o apoio efetivo do parceiro ou parceira durante a gravidez, mais a prática regular de exercício físico – que libera endorfinas no sistema nervoso e contribui para o bem-estar da mulher -, podem ajudar a gestante na melhora dos lapsos de memória.

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Por fim, Alexandre sugere atividades capazes de diminuir o estresse e a ansiedade da grávida, como a prática de meditação, relaxamento, massagens e acupuntura, que auxiliam na melhor qualidade do sono e, consequentemente, na fixação da memória recente.

No mais, finaliza o médico, quanto mais o cérebro é ativado e preservado, mais ele atua – e melhor. Por isso, jogos de memória, palavras cruzadas e sudoku são alternativas que também ajudam a preservar a qualidade do funcionamento cerebral.

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