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Sou mãe e não tenho rede de apoio. E agora?

Grupos de mães, espaços de coworking familiar e ajuda de profissionais especializados são algumas estratégias para garantir o suporte necessário.

Por Flávia Antunes
Atualizado em 7 Maio 2022, 12h57 - Publicado em 5 Maio 2022, 17h24

Por ser uma vivência tão singular, as formas de conduzir a maternidade variam muito. Mas há uma frase específica, quase um mantra, que todas as mães tendem a concordar: “é preciso uma vila inteira para criar uma criança”.

É fato que a chegada do pequeno transforma intensamente a rotina dos pais e exige uma organização inédita – e nesta balança, a maioria das responsabilidades costuma recair sobre a mulher. “Em um primeiro momento, a mãe é muito exigida e precisa estar completamente disponível para o bebê”, afirma a psicóloga Ana Gabriela Andriani.

Sendo assim, é importantíssimo que, especialmente nos primeiros meses após o nascimento do filho, a mulher possa contar com uma rede de apoio próxima. Isto é, pessoas da família, amigos, vizinhos ou até profissionais contratados (como uma babá), que a ajudem com tarefas mais práticas do cuidado com a criança ou deem suporte emocional a ela. E aqui, vale lembrar: o pai não é ajuda e não faz parte da rede de apoio, ele deve dividir as tarefas com a mãe porque é responsável pelo bebê igualmente.

“No pós-parto imediato, a rede de apoio é quem vai estar com a mãe oferecendo cuidado a ela e auxílio no manejo com o bebê recém-nascido. Aquelas pessoas que acompanham no hospital, que preparam uma comidinha, que lavam a louça, que cuidam da casa, que ficam com o bebê para ela tomar um banho, dormir, se alimentar, descansar”, exemplifica a psicóloga Glauce Zacareno.

Mesmo tendo em vista o papel essencial desta rede, muitas mulheres ainda têm dificuldade de pedir ajuda, porque construíram uma fantasia de que a boa mãe consegue dar conta de tudo sozinha. “Mas precisar de ajuda não é nenhum demérito. Ela é fundamental e necessária, desde que não seja invasiva, como alguém que dita o que a mãe deve fazer, e seja sem julgamentos“, lembra a psicóloga. 

Mas e se eu não tenho uma rede de apoio?

Na teoria, o cenário ideal é este: uma mãe que cuide do pequeno e tenha com quem deixá-lo quando precisar descansar, trabalhar ou tirar um tempo para si mesma. Só que não é bem assim que acontece. Muitas mulheres, por morarem longe da família, não terem vínculos sólidos ou condição financeira para contratar uma ajuda externa, se veem na difícil situação da falta de uma rede de apoio.

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Nestes casos, sobrecarga, insegurança e medo de não dar conta são sentimentos que podem surgir. Pensando em dar um “respiro” necessário a essas mães exaustas, conversamos com especialistas e idealizadoras de projetos de auxílio materno, e separamos algumas dicas e ideias para levar em conta na hora de repensar essa ajuda. Confere só:

1. Tá tudo bem não dar conta, viu?

O primeiro passo é ter consciência de que nem sempre será possível atender a todas as demandas do pequeno da forma esperada e ainda dar conta das outras tarefas – e isso não tira o mérito do seu maternar.

“A mãe precisa ter em mente que, por não ter uma rede de apoio nesse momento, não dará conta de tudo. É importante que assuma que isso será normal, que não se exija ser perfeita e que não há problema em buscar ajuda em outros lugares”, aponta Ana Gabriela.

Exemplo disso é Tatiana Fanti, de 38 anos. A empresária mora em Wolfsburg, na Alemanha, desde 2020, e quando chegou com seu marido e filha de 11 meses, não conhecia ninguém na cidade. Some a isso a dificuldade de estabelecer laços no momento de pandemia, e a mãe se viu sem ter a quem recorrer além de seu parceiro.

“Quando entendi isso, que está tudo bem não dar conta de tudo, melhorei muito do meu cansaço mental”

Tatiana Fanti, empresária e mãe
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Ela voltou a fazer terapia e entendeu que era necessário abrir mão da perfeição naquele momento. “A estratégia que adotei foi aprender a gerir melhor meu tempo e entender que não posso fazer tudo nas 24 horas de um dia. Se tenho mais demandas de trabalho, tá tudo bem não dar conta do que preciso fazer na casa. Se um filho está doente, tá tudo bem não ter o mesmo tempo de trabalho em um dia”, conta ela. 

Vale pontuar também, a importância de criar vínculos de afeto genuínos, independente de ser com a família ou com amigos. Muitas vezes, por receio de achar que ninguém vai cuidar do filho melhor do que ela, a mãe se fecha numa sobrecarga e pressão ainda maiores que poderiam ser divididas com alguém de confiança. Ainda que o cuidado não seja exatamente igual ao que ela oferece, isso não quer dizer que a criança não estará bem amparada em suas necessidades neste período que estiver sem os pais.

2. Cuidar de si para cuidar do outro

Olhar-se com carinho e estar atenta às próprias necessidades é um exercício fundamental para que se possa ter condições de cuidar do outro. Isso significa, em outras palavras, não negligenciar a própria saúde mental e procurar ajuda especializada caso seja preciso, assim como fez Tatiana ao retomar a terapia.

“Se não estiver se sentindo bem emocionalmente, com uma tristeza prolongada ou muito ansiosa, por exemplo, a mãe pode buscar uma terapia ou um grupo terapêutico – isso será muito saudável e se constitui como uma rede de apoio”, indica a psicóloga. 

Caso não consiga arcar com os custos de uma terapeuta, vale pesquisar por locais de atendimento psicológico gratuito ou a preço popular. Para mães que moram fora do país e não se sentem confortáveis com profissionais de outra nacionalidade, a terapia online pode ser uma boa aliada.

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mulher fazendo terapia
(SHVETS production/Pexels)

3. Use as redes sociais a seu favor

Amplie suas redes, ainda que virtuais: grupos de mães no Whatsapp, comunidades no Facebook e perfis com dicas bem apuradas no Instagram são algumas das possibilidades de encontrar apoio – seja para compartilhar angústias da maternidade, trocar “figurinhas” ou criar laços mais sólidos com outras famílias.

“Fora do Brasil, é muito comum mães da mesma nacionalidade criarem grupos onde uma apoia outra, no sentido de ficar com o filho, indicar profissionais, tirar dúvidas”, diz Ana Gabriela. “Portanto, vale se abrir para conhecer essas pessoas, perguntar na escola se existem grupos de mães no Whatsapp ou outros espaços parecidos”, acrescenta. 

Nesta linha, existem aplicativos, serviços e projetos que permitem essa troca entre mães, como o Mamãe Acolhe. Idealizado pela jornalista Tatiane Generali, o grupo foi pensado para que famílias com filhos na primeira infância pudessem se ajudar, mas sempre com o cuidado de prezar pela informação de qualidade e seguir boas práticas, alinhadas às orientações das organizações de saúde.

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“A ideia do grupo surgiu porque, quando voltei para São Paulo de Florianópolis, percebi que não tinha nada do tipo e quis criar essa rede de apoio, para que as mães pudessem tirar suas dúvidas, compartilhar dicas, fazer recomendação de profissionais mais humanizados. Lá, temos, por exemplo, doulas que indicam atendimento a um valor social, consultoras de amamentação que indicam onde há o banco de leite mais próximo, dentre outras”, explica. Assim os braços de ajuda se ampliam em redes mais abrangentes. 

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4. Rede de apoio remunerada

Nem sempre a ajuda com os cuidados do pequeno precisa vir das mesmas pessoas ou da família. “Se não é possível ter uma rede de apoio fixa, que se tenha uma rede pontual, para os momentos de necessidade, de respiro”, sugere Glauce.

Caso as despesas permitam – ou este gasto já tenha sido elencado como prioritário na hora do planejamento financeiro – vale buscar suporte em profissionais como babás, cuidadoras ou educadores contratados para esta função.

Para encontrar a pessoa que melhor atenda à demanda, é possível buscar indicação nos próprios grupos de mães ou então pesquisar em sites e plataformas que conectam os pais às cuidadoras. Em alguns deles é possível inclusive escolher se deseja uma babá mensalista, uma enfermeira para recém-nascido, berçarista ou outra categoria.

5. Espaço físico para deixar a criança

Parece uma dica óbvia, mas deixar a criança em uma creche ou escola, seja em tempo integral ou específico para que os pais possam trabalhar ou desempenhar outras tarefas, pode aliviar bastante a rotina diária. Sabemos, no entanto, que inserir o bebê neste ambiente de transição nem sempre é fácil, principalmente pelo receio de não ser um ambiente seguro ou propício ao desenvolvimento do pequeno.

Por isso, vale pesquisar acerca do histórico do estabelecimento, averiguar se a cultura e metodologia do lugar está de acordo com que os pais almejam e estabelecer um canal de comunicação transparente com a instituição. Veja aqui outros pontos para prestar atenção na hora de escolher a creche ou escola.

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Há ainda projetos que propiciam ambientes acolhedores onde as mães podem trabalhar enquanto o pequeno se diverte. Um exemplo é a Materlap, coworking e espaço familiar de rede de apoio concebido pela pedagoga Isabella Moreira e pela educadora parental Marina Zirpoli.

Ao se depararem com a dificuldade de conciliar a carreira profissional e os cuidados com os filhos, elas decidiram criar o empreendimento, na zona norte de São Paulo, que conta com salas compartilhadas, estações de trabalho individual e até uma loja de produtos materno-infantis, feitos por mães autônomas e artesãs. Ao mesmo tempo, os pequenos podem brincar livremente sob o cuidado de pedagogas.

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A ajuda pode vir de várias formas – e não é preciso ter vergonha de buscá-la!

Com as dicas em mãos, vale refletir sobre qual se adapta melhor a sua rotina e usar as diversas formas de rede de apoio no momento em que forem necessárias. No início, pode ser que o médico de seu filho dê o maior suporte e, mais para frente, você se encontre nos grupos de mães.

Essa “mescla” no auxílio foi inclusive uma estratégia adotada pela diretora de marketing Kátia Morris, de 36 anos. Ela mora no estado de New Hampshire desde 2017 com seu marido e, quando descobriu que estava grávida – em plena pandemia de covid-19 – sentiu a falta de não ter sua família por perto durante e após a gestação.

Sem o suporte de uma comunidade brasileira no estado onde residia, a mãe conta que encontrou o seu refúgio nas leituras e no auxílio de profissionais de saúde. “A dica que eu daria para quem está sem rede de apoio e longe de casa é que leia muito – biblioteca é gratuita e tem um acervo maravilhoso pra te ajudar. Conte com o apoio dos médicos, tenha a certeza de que você entende tudo sobre o sistema de saúde de onde você mora e do seu convênio, bem como, como as coisas funcionam depois do nascimento do bebê”, indica

“E além de tudo isso, nunca fique com vergonha de chamar uma amiga do outro lado do mundo no Whatsapp pra pedir ajuda. Às vezes, a ajuda que a gente precisa é só uma palavra de incentivo”, completa Kátia.

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