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Cansaço materno foi um dos temas mais buscados no Google durante pandemia

O levantamento ainda mostrou que os termos "cansada mentalmente" e "psicologicamente" bateram recorde em 2021, evidenciando a sobrecarga materna do período.

Por Alice Arnoldi
8 mar 2022, 18h50

Tentar acompanhar as aulas online para que o pequeno não perdesse o ano letivo, encontrar atividades para entretê-lo dentro de casa, ligar para os avós para tentar driblar a saudade, preparar comidinhas caseiras, redobrar os cuidados com a saúde… Mães que viveram os tempos mais sombrios da pandemia causada pela Covid-19, com crianças menores correndo de um cômodo para outro, sabem que a busca para conciliar os cuidados com o lar, filhos, além do home office, somou uma lista de afazeres desgastante.

A saída para muitas foi buscar apoio, acolhimento e informação na internet e nas redes sociais para tentar entender a sensação de cansaço constante. É o que mostra a página especial criada pelo Google para o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março de 2022, que traz luz aos termos mais buscados pelas mulheres em sua plataforma.

E o resultado é um compilado dos principais problemas enfrentados por figuras femininas nos últimos cinco anos e as lutas ainda travadas (e necessárias) para que se tenha equidade de gênero.

Neste período, a pesquisa relata que temas voltados à violência doméstica, feminicídio e desigualdade de gênero ficaram em evidência e demonstraram os desafios enfrentados pelas mulheres. Para além deles, o que também chama atenção é que, nos últimos 24 meses, houve um crescimento abrupto na pesquisa pela expressão “mãe cansada”.

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Gráfico-mostra-busca-pelo-termo-mãe-cansada-no-Google
(Google/Reprodução)

O levantamento ainda mostra que, desde 2015, a palavra “cansada” vem sido mais buscada no feminino do que no masculino, com 2021 sendo o ano em que os termos “cansada mentalmente” e “cansada psicologicamente” bateram recordes de pesquisa.

Gráfico-mostra-como-termo-cansada-vem-sendo-mais-buscado-do-que-cansado
(Google/Reprodução)

A preocupação começou com a falta de dinheiro…

Este levantamento surge como mais um dos dados da pandemia, que já vinham sendo divulgados durante os últimos dois anos, evidenciando que mães de crianças e adolescentes formam um dos grupos mais fragilizados emocional e psicologicamente em decorrência das dificuldades vividas.

Por exemplo, de acordo com a pesquisa “Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil”, realizado pelo IBGE, apenas 54,6% das mães brasileiras de 25 a 49 anos estavam empregadas em 2020. Já os homens, dentro da mesma faixa etária e com filhos, somavam 89,2% trabalhando.

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Trazendo resultados semelhantes, um levantamento conduzido pela Famivita, com 7.500 mulheres brasileiras, mostrou que 39% das mães ficaram desempregadas durante a a pandemia, enquanto que 52% perderam a renda para que pudessem sustentar tanto a si quanto aos filhos. Lembrando que é uma realidade do país muitos lares serem chefiados por mulheres, sem a presença de um parceiro ou pai.

A saída para muitas mulheres foi entrar no empreendedorismo materno. Segundo a amostra “Os desafios das mães empreendedoras na pandemia”, do programa “Ganha-Ganha: Igualdade de gênero significa bons negócios”, da ONU Mulheres, Organização Internacional do Trabalho (OIT) e União Europeia, 75% das 456 mães/cuidadoras principais ouvidas ingressaram neste mercado.

Só que, o que parecia uma conquista de autonomia, tornou-se mais um indício de sobrecarga materna. Tanto que 95% das participantes da pesquisa relataram se sentirem exauridas pelo acúmulo de responsabilidades e 94% consideram as múltiplas jornadas um desafio muito pesado, já que junto com a dedicação ao próprio trabalho, há o machismo cultural que projeta os cuidados dos filhos e do lar como obrigações das mães.

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Sim, mães estão mais cansadas do que nunca! 

Com dados tão preocupantes, não é surpresa que os índices também indicaram um cenário negativo para a saúde mental destas figuras maternas – por exemplo, 63% das mães tiveram sintomas depressivos durante a pandemia, segundo levantamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP – USP), com apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

O mesmo foi observado no especial “The primal scream: America’s Mothers are in crisis”, feito pelo jornal The New York Times, em que 69% das mães indicavam ter sentido prejuízos em sua saúde devido as preocupações e estresse da pandemia, enquanto que este número caía para 51% ao falarmos de pais.

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Estes são apenas alguns dos números que, durante a pandemia, trouxemos em conteúdos que debatem o cansaço materno intensificado pelo período e como um dos seus motivos é a desigualdade de gênero ainda tão presente dentro do mercado de trabalho e também fora dele.

Por isso, neste dia da mulher, o debate necessário não é sobre bombons, flores ou produtos de beleza que “valorizam” as mulheres. Mas quando e como as muitas figuras femininas que fazem as engrenagens do país girarem serão amparadas socialmente por um governo consciente e uma sociedade que não tolera mais as consequências do machismo para, enfim, termos uma divisão de tarefas mais igualitária, direitos garantidos e a saúde mental materna preservada.

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