Para que a gestação desenvolva-se de acordo com o esperado, cuidados são realizados cautelosamente com o início do pré-natal, como é o caso dos exames que a grávida é submetida para averiguar como está sua saúde. Um dos testes necessários e recomendados a todas as grávidas é o de dosagem de glicemia em jejum. Com ele, é possível diagnosticar casos de diabetes gestacional já nos primeiros meses da gestação.
“A gravidez aumenta a resistência do hormônio da insulina e dificulta o transporte do açúcar do sangue para dentro das células. Portanto, a paciente precisa de mais insulina para fazer esse transporte e corre o risco de manter altos níveis de açúcar no sangue”, explica a obstetra e ginecologista Laura Penteado, diretora clínica da Theia. Este cenário que já tende a ser mais favorável para o desenvolvimento da diabetes fica ainda mais delicado ao olhar para comportamentos anteriores a gestação.
1. Atenção ao histórico familiar!
O endocrinologista Nelson Vinicius Gonfinetti, do Instituto Castro, pontua que o primeiro fator ligado ao surgimento da diabetes gestacional é a pré-disposição genética da grávida, advinda do histórico familiar em que parentes também possuem a doença, principalmente a do tipo 2.
Comportamentos da gestante também podem estar diretamente ligados à condição, como lembra o obstetra e ginecologista Gilberto Nagahama, consultor do Programa Parto Seguro do CEJAM. “Antecedente pessoal de diabetes gestacional, sobrepeso ou obesidade, dieta hipercalórica, consumo exagerado de carboidratos e sedentarismo são os principais fatores de risco para o seu desenvolvimento”, pontua o médico.
2. A dificuldade do diagnóstico
Normalmente, a paciente com diabetes mantém níveis altos de glicemia no sangue, o que faz com que ela faça mais xixi e sinta mais sede. “O que, às vezes, na gravidez é um pouco difícil de observar, já que no próprio fim da gestação, pelo aumento do volume abdominal e diminuição da bexiga, a paciente vai mais vezes ao banheiro“, detalha Laura.
É por isso que a análise fetal por meio do ultrassom se mostra tão necessária. “Assim, as alterações da gestação que levantam a suspeita são principalmente quando o bebê está acima do peso da curva de acompanhamento – porque quanto maior nível de açúcar no sangue, mais glicose vai para o bebê e ele acaba crescendo mais – e nível maior de líquido amniótico na barriga, o que chamamos de polidrâmnio”, completa a obstetra.
3. O que acontece do segundo para o terceiro trimestre
Após o exame realizado no início do pré-natal, um novo pedido é feito entre a 24ª e 28ª semana da gravidez, quando há a passagem do segundo trimestre da gestação para o terceiro e último. Neste período, Laura explica que a placenta passa a produzir um hormônio que aumenta ainda mais a resistência à insulina, o que pode elevar os níveis de glicose no sangue e o aparecimento da diabetes gestacional.
“O exame consiste numa curva glicêmica em a paciente fica em jejum para colher a primeira glicemia e em seguida toma 75g de dextrosol (tipo de açúcar). Depois, ela colhe a nova amostra após uma hora e a outra duas horas depois da ingestão do dextrosol. Os valores de referência são: jejum < 92 mg/dL, 1h após < 180mg/dL e 2h após < 153 mg/dL”, detalha Gilberto.
4. As mudanças previstas no dia a dia
Com o diagnóstico positivo de diabetes gestacional, a primeira intervenção dos especialistas é em relação aos hábitos do dia a dia. A gestante tende a ser encaminhada para acompanhamento nutricional, em que um cardápio específico será montado para ela e o bebê. Entre as principais mudanças desta dieta, Laura cita a diminuição do consumo de açúcares e a substituição dos carboidratos brancos pelo integrais.
Junto com a alteração nutricional, é importante também que a gestante inclua exercícios físicos na rotina. Para observar se as alterações estão surtindo efeito no tratamento da grávida, a obstetra explica que é feito o acompanhamento com a glicemia capilar, isto é, o exame com a picadinha no dedo em casa. “Ela tem que fazer o controle em jejum e após as refeições para ver se está fazendo algum pico de glicose durante o dia para ver se precisamos ajustar alguma outra medida”, completa a especialista.
5. Os riscos da diabetes gestacional não controlada
Os cuidados diante do diagnóstico da doença são necessários para a preservação da saúde tanto da gestante quanto do pequeno que está a caminho e após o seu nascimento também. O primeiro risco do descompasso glicêmico é a morte fetal, em decorrência dos picos de glicemia na mãe que acabam ocorrendo no bebê também e levando ao falecimento intraútero, como aponta Laura.
Já o segundo ponto de atenção é em relação ao tamanho do bebê, especialmente os maiores de 4,5kg, pois eles tendem a não conseguirem nascer por meio do parto normal, sendo necessária a cesária de qualquer maneira. Gilberto também pontua que, devido a hiperdistensão do útero em decorrência da grandeza do feto, pode ocorrer maior sangramento no pós-parto.
Além disso, logo após o nascimento, o descontrole da diabetes gestacional pode levar o bebê a desenvolver quadros de hipoglicemia, o que pode acarretar em complicações metabólicas para o recém-nascido.
6. Acompanhamento após o nascimento do bebê
Depois de 40 dias em que o pequeno chegou ao mundo, puérperas são submetidas novamente ao teste de tolerância à glicose para saber se os seus níveis de glicemia voltaram ao normal depois do parto ou se elas continuam diabéticas. “A grande maioria retorna ao estado pré-gestacional, deixando de ser diabéticas, mas precisamos ter certeza”, enfatiza Laura. Caso o resultado ainda continue positivo para a doença, é preciso seguir com o acompanhamento multidisciplinar e tratamento adequado para mantê-la controlada.