Qual é o momento certo para deixar o filho dormir na casa de amigos?

Especialistas explicam os cuidados ao permitir que a criança passe uma noite em outro lar - e se existe uma idade ideal para isso acontecer

Por Isabelle Aradzenka
22 jul 2023, 10h00
crianças brincando juntos em baixo de cobertor
 (Natalia Lebedinskaia/Getty Images)
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Considerando que somos seres sociáveis e que a criança, desde cedo, entende as coisas de acordo com o que vê e experimenta da vida, é muito importante que ela entre em contato com outras realidades ao longo da infância. Seja na escola ou em ambientes domésticos, fora de sua própria casa. “Ter exemplos e experiências para além do seu lar – que é a referência de mundo para uma criança pequena – é ter a sua vivência um pouco mais ampliada”, explica Alice Munguba, psicóloga especialista na Clínica Psicanalítica Infantil da Holiste Psiquiatria.

A importância de frequentar outras casas

Ao visitar a casa de amigos, o pequeno tem a oportunidade de conhecer um pouco de valores e tradições diversas, sem as cobranças pedagógicas que têm no colégio, por exemplo. É o brincar livre e espontâneo, usando a criatividade e ampliando suas referências de mundo. “Ele aprende como os colegas vivem sua rotina, faz novas brincadeiras e come coisas diferentes, que às vezes não tem na sua casa”, diz Alice.

Há ainda o desenvolvimento da empatia e a compreensão da temática da diversidade. “Lidar com diferentes estruturas e contextos gera um aprendizado, em razão da exposição a diferentes modelos familiares. Isso fortalece os vínculos sociais de amizade das crianças e estimula também a autonomia e a independência delas, através de pequenas liberdades desde cedo”, pontua Helen Mavichian, psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e mestre em Distúrbios do Desenvolvimento.

O desafio para alguns pais, no entanto, está em determinar quando o filho está de fato pronto para passar a noite na casa de outras crianças, em lares que a família considera um ambiente seguro, de confiança, de bem-estar e de boas experiências. Veja, a seguir, as orientações das especialistas!

Existe uma idade certa para deixar a criança dormir fora?

Não há uma idade exata para autorizar que os filhos passem a noite fora, na casa de um amigo. Isso vai variar de acordo com o desenvolvimento e a maturidade de cada criança. “Assim como o contexto de cada família”, diz Helen. Para avaliar se o pequeno está pronto, observe se ele mesmo começa a manifestar esse desejo.

Alice Munguba lembra que o sono é um momento de intimidade e de grande descanso: “Nem sempre a criança relaxa fora de casa, para dormir ou para ser colocada para dormir por outros adultos, em uma cama e um quarto diferentes”. Em muitos casos, ela consegue passar o dia no lar do amigo, mas não a noite, pois ainda não se sente segura.

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Acima de tudo, é importante também levar em consideração o nível de confiança nos responsáveis do outro lar e garantir que o próprio filho tenha uma comunicação aberta e efetiva com os pais. “Caso haja algum problema ou situação constrangedora, ele irá se abrir”, ressalta Helen.

Percebendo a maturidade do filho

Se a criança ainda não está pronta para dormir fora, ela não se sentirá segura em passar a noite toda na outra casa. Acabará voltando na hora de adormecer ou, em outros casos, não terá um sono de qualidade. “Pode ser uma experiência ruim, que cause medo, e até seja traumática. Talvez ela não queira repetir isso tão cedo”, diz Alice.

Além de ter confiança no colega com quem irá compartilhar o quarto, assim como nos adultos da casa, o filho precisa ter maturidade para conversar com os pais. “Avalie se ele já realiza tarefas cotidianas de forma autônoma, se é uma criança que se comunica com a família, tem segurança em contar suas questões e como escolhe e lida com suas amizades”, explica Hellen.

criancas-brincando
(Stephen Simpson/Getty Images)
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Avalie a segurança da outra casa

Analisar o ambiente para qual o filho está indo é sempre um dos primeiros critérios: se você conhece a família pessoalmente, os hábitos dela, se seu filho vai se adaptar ao que encontrará lá… Procure saber também se haverá alguma outra pessoa que não é da rede familiar dormindo na residência. “Os pais precisam estar muito seguros da outra casa em que a criança vai compartilhar a intimidade e dormir, a gente sabe que o abuso sexual infantil é, infelizmente, uma preocupação muito comum”, ressalta Alice.

Reforce com a criança que, se algo ocorrer, ou se ela não estiver se sentido bem, pode ligar e chamar pelos pais. “Isso dá segurança por saber que pode contar com os familiares”, acrescenta Hellen Mavichian. A comunicação prévia irá garantir que seu filho seja bem cuidado e que suas necessidades sejam atendidas.

Converse também com a família anfitriã sobre os hábitos alimentares, possíveis intolerâncias, rotina de sono, necessidades médicas ou especiais do seu filho. Além disso, mantenha contato com quem está responsável pelo pequeno e se coloque à disposição para que acionem você, caso precisem.

Instruindo a criança para passar a noite fora

Se a criança está com vontade de dormir na casa do amigo, os pais conhecem e confiam no lar que a receberá e está tudo combinado com os outros responsáveis, chegou a hora de conversar com o pequeno sobre as regras que ele vai encontrar na nova casa. “Diga, por exemplo, se eles são veganos ou vegetarianos, se ele vai ter que se adaptar com a comida ou levar seu próprio lanche e qual a rotina de sono e a matinal”, sugere Alice.

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Cada família terá seu perfil e lembre seu filho de que será necessário obedecer os responsáveis da casa. Caso precise de auxílio ou sinta alguma coisa, reforce que é possível ligar para os pais, falar com o amigo ou com a mãe da outra criança. “Dê instruções de como o pequeno pode acionar ajuda”, explica a psicóloga.

A criança pode ainda levar um objeto da própria casa, como um travesseiro ou um ursinho de pelúcia, para facilitar a estadia no outro ambiente. “Estando tudo alinhado, essa tende a ser uma experiência interessante para quem vai receber e para quem vai visitar”, reforça Alice.

Se os pais notarem que o filho de fato não tem condições de se adaptar, seja pela alimentação, por não conseguir seguir os limites e as normas da outra casa, por não estar confortável ou pela rotina, exponha a verdade com clareza. “Explique que isso um dia vai ser possível e que a criança tem a possibilidade de alcançar essas conquistas para poder estar na casa do colega”, pontua psicóloga.

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