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Brincar com filhos é obrigatório? Veja dicas para que todos se divirtam

Tudo bem não gostar de fazer algumas atividades! O importante é reservar momentos de qualidade para interagir e fortalecer a relação com o pequeno.

Por Flávia Antunes
23 jul 2020, 17h39

Sejamos sinceros: depois de um dia longo e atarefado no trabalho, nem sempre estamos dispostos à atender todos os pedidos de brincadeiras das crianças, né? E mesmo nos momentos mais tranquilos, os pais têm sim suas preferências: há quem goste de cozinhar com o pequeno mas não curta tanto brincar de boneca fazendo “vozinhas”; outros são fãs das leituras noturnas porém passam longe do pega-pega…

Assim como os filhos não adoram todas as brincadeiras, os adultos também podem ter suas preferências – mas assumir que não está afim de brincar pode soar como algo estranho e envolver um mix de sentimentos que passa pelo constrangimento, culpa até o medo de que a criança seja prejudicada de alguma forma no seu desenvolvimento. Mas afinal, brincar é obrigatório?

Para começo de conversa, precisamos definir o que é este brincar da criança, como afirma Denise Mazzuchelli, psicóloga e coordenadora de cuidado da Bloom. “A criança não brinca, a criança vive – e se implica totalmente no que faz. Quando eu digo que o pai ou a mãe devem sim brincar com seu filho é porque o jeito de viver da criança é brincando”, explica ela.

Em outras palavras, nem só os jogos e aquilo que consideramos lúdico são brincadeiras para os pequenos. Momentos simples do dia a dia, como a hora das refeições, de trocar a fralda e de tomar banho entram também na classificação – e por isso a importância de ampliarmos nossa visão sobre o tema. “Todas as rotinas de cuidado, independente se você gosta ou não de brincar, são momentos que envolvem imaginação, diversão, e para a criança são momentos de brincar e, portanto, de aprender”, diz a psicóloga.

O conselho da especialista é que os adultos olhem com carinho para cada um destes rituais com os filhos, valorizando o que fazem de positivo. “Muitos pais demonstram preocupação excessiva no sentido do que deixam de dar para a criança, o que ela está perdendo… A maternidade e a paternidade nos convidam a olhar para o contrário: para o que estamos promovendo aos filhos”, indica Denise.

A importância do brincar

Cada momentinho com os pequenos vale como forma de divertimento e de fortalecer os laços entre a família, mas as profissionais não nos deixam esquecer de algumas particularidades que só a brincadeira pura – aquela que envolve atividades recreativas ou educativas-, conseguem trazer.

“Mais do que apenas algo lúdico, brincar é um ato de saúde mental da criança”, explica Grace Falcão, terapeuta familiar e educadora parental. É a partir dela que o pequeno desenvolve grande parte dos construtos de sua personalidade, experimenta o meio e aprende várias das regras de funcionamento do mundo em que vive.

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“A própria brincadeira irá fazer com que a criança se prepare para o letramento, para o processo de escrita e para o processo da cognição das aprendizagens”, complementa a educadora. Segundo ela, muitos jogos pedagógicos ajudam a desenvolver a coordenação motora fina, a linguagem, o raciocínio lógico e outras habilidades importantes – e por isso é interessante que os pais destinem, sempre que possível, um momento do dia para a interação com seus filhos.

“Tentem reservar pelo menos 30 minutos por dia para ter um tempo de qualidade para brincar com a criança, principalmente para que haja a formação das memórias afetivas – que ajudam na autoestima e no sentimento de pertencimento, contribuindo para que ela se sinta amada”, recomenda Grace.

Brincar sozinho ou com os amigos substitui a brincadeira com os pais?

Embora o pequeno consiga se divertir de outras maneiras que não com seus cuidadores, cada brincadeira tem a sua função e uma não substitui a outra, como conta Denise: “Tanto o brincar com o adulto quanto o brincar sozinho ou com os amigos são positivos, existem ganhos para os dois lados”.

De acordo com ela, o brincar sozinho ensina a criança a tomar decisões por conta própria; a ser mais criativa, autônoma e independente; a desenvolver o seu autocontrole e autorregulação e até mesmo a ficar bem consigo mesma sozinha – que é uma habilidade socioemocional importante para a vida toda.

Já a brincadeira com os pares traz outros benefícios, principalmente no que diz respeito à resiliência. “Brincar com as crianças exercita mais a socialização e a autorregulação. Faz com que ela saiba sua vez, aprenda a resolver conflitos e a expressar as emoções e ainda desenvolva certa resistência à frustração”, esclarece a educadora parental. O jogo entre seus iguais também permite ao pequeno se colocar no lugar do outro e exercitar a empatia, como acrescenta a psicóloga da Bloom.

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Mesmo com todas essas vantagens, é só com os pais que a criança estabelece uma relação de identificação e espelhamento, e absorve os princípios morais que levará para sua vida. “Quando o filho está brincando com os pais, há o fortalecimento do vínculo e da autoestima. Isto traz segurança e estabilidade emocional”, diz Denise.

Dicas de ouro para tornar a brincadeira prazerosa

Como já dissemos, cada pessoa tem os seus gostos e o ideal é reconhecê-los na hora de interagir com o pequeno. “Uma dica de ouro é que cada adulto, se conhecendo, entenda que tipo de brincadeira ele gosta de fazer. Tudo bem se você não gostar de montar quebra-cabeça, ou de fazer jogos de memória. Você não tem que fazer isso. Por isso uma criança é criada em rede, pois cada um oferece uma parte neste equilíbrio do desenvolvimento”, esclarece a psicóloga.

Que seja apenas por alguns minutos, o importante é estar por inteiro neste momento com o filho, e lembrar que a brincadeira trará frutos para ambas as partes. “Pense em atividades que você gosta – assistir um filme, fazer um ritual de cuidado, ler um livro juntos… Faça com leveza e com a certeza de que é uma via de mão dupla – isto nutre seu filho, mas você também”, lembra Denise.

Um último conselho é que os pais se revezem na hora do brincar. E os motivos para isto são vários: além de evitar a sobrecarga de um dos cuidadores, cada um estabelece uma relação de espelhamento diferente com a criança e se engajam em modalidades de brincadeira diferentes – os homens, por exemplo, costumam a preferir atividades físicas, como cócegas e pega-pega, que ajudam a desenvolver o autocontrole, como mostra este estudo da Universidade de Cambridge

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