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O que considerar na hora de escolher a terapeuta do meu filho

Para que a criança encontre apoio e acolhimento, é essencial que a família procure profissionais de saúde mental qualificados e focados no público infantil.

Por Ketlyn Araujo
8 mar 2022, 15h18
Mãe,filho e terapeuta
 (EF Volart/Getty Images)
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A pandemia de coronavírus não fez apenas com que adultos enfrentassem danos emocionais e psicológicos notados até hoje. Crianças e adolescentes, muito por conta do isolamento e pouca ou quase nenhuma interação social, também entraram nas estatísticas sobre aumento de casos de ansiedade e depressão, além de enfrentarem outras consequências relacionadas.

Mesmo antes da Covid ser o que é hoje, porém, a saúde mental dos pequenos nunca deixou de estar em pauta e, graças ao acesso à informação, procurar por um profissional da área capacitado para atender o público infantil já não é mais algo restrito apenas a crianças vítimas de traumas, abusos ou situações mais específicas.

Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga clínica, explica que, quando falamos sobre saúde mental infantil, devemos considerar dois tipos diferentes de acompanhamento: o interventivo, criado exatamente para tratar alterações comportamentais pontuais ou, então, algum atraso de desenvolvimento; e o preventivo, que vai preparar a criança e prevenir que uma série de mudanças no comportamento ocorram mais para a frente.

“Quando falamos de acompanhamento preventivo, focamos em ensinar crianças a identificarem emoções em si e no outro, a notarem padrões distorcidos e de pensamentos (crenças) e em dar ferramentas para que elas consigam lidar com diferentes situações em suas vidas, trabalhando a resiliência”

Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga clínica

Camila Santos Cechi, neuropsicóloga e coordenadora da Escola de Neuropsicologia, parte da mesma opinião. “A infância é a fase em que acontece o nosso desenvolvimento emocional e cognitivo, e durante o período podem surgir diversas dificuldades: emocionais, relacionadas a questões escolares, de aprendizagem, de relacionamento, ligadas a problemas familiares e brigas dos pais. Isso tudo acaba impactando nas crianças, e é preciso que os pais fiquem atentos aos sinais e a como elas estão lidando com algumas dessas questões naturais da vida”, diz.

A psicoterapia pode, então, auxiliar na superação desses problemas, já que vai trabalhar com a criança e direcionar os pais da maneira correta, reestruturando o equilíbrio do pequeno. A profissional diz que nossa tendência é de pensar, de imediato, na terapia como tratamento para um trauma, uma perda, uma separação, mas as questões do dia a dia também podem gerar um impacto na criança e, quando tratadas, a ajudam a gerenciar melhor os sentimentos e evitar que esses pequenos problemas se tornem algo constante ou uma questão maior no futuro.

Ou seja, a terapia é uma ótima ferramenta para ajudar a criança a lidar com frustrações de maneiras diferentes (não fazendo birra, por exemplo), bem como ensinar habilidades sociais, como a exposição de opiniões sem magoar os pares, divisão de brinquedos e paciência.

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Como escolher o melhor profissional para a criança?

Em primeiro lugar, opina Luciana, o profissional de saúde mental responsável pela criança deve, de fato, ser especializado no público infantil e, portanto, conhecedor de todos os marcos e fases que acompanham o desenvolvimento dos pequenos.

O que acontece muitas vezes, continua ela, é que por já confiarmos em um terapeuta específico, que nos acompanhou durante a nossa vida, tendemos a recorrer a ele para tratar nossos filhos, o que muitas vezes não é o ideal – afinal, a criança possui muitas nuances, às quais apenas um bom conhecedor saberá considerar ao realizar o acompanhamento.

“Quando os pais percebem que a criança está apresentando comportamentos diferentes do comum, ou quando ela está passando por questões específicas (dentro de casa, na escola, na aprendizagem), é importante que uma forma de avaliação seja pensada. Muitas vezes os pais não conseguem perceber se aquela demanda é direcionada para um psicólogo ou para um psiquiatra, e nesses casos a própria avaliação do pediatra que acompanha a criança vai ser muito importante para esse direcionamento. O pediatra é o primeiro profissional capaz de auxiliar os pais a buscarem o caminho mais efetivo naquele momento”, fala Camila.

Buscar referências, seja na internet, seja por meio de conhecidos de confiança também pode ser algo positivo, bem como priorizar especialistas que possam se manter atualizados em relação aos avanços do cérebro humano e efeitos do ambiente no seu desenvolvimento.

Ela acrescenta, ainda, que qualquer intervenção realizada em crianças deve considerar toda a família, já que é com eles que a criança convive a maior parte do tempo e, por isso, devem receber o treinamento e orientações complementares ao que se é falado na terapia.

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Também é preciso cuidar de quem cuida!

À medida que os pais e demais responsáveis estão envolvidos no processo de terapia da criança, como já pontuamos, é preciso que estejam a par de todas as etapas que envolvem o desenvolvimento infantil.

Qualquer tipo de intervenção feita em terapia, deve ser informada aos pais, que precisam receber treinamentos e orientações sobre o que pode ser esperado a partir daquele momento, para que adaptem suas expectativas e sejam capazes de incentivar progressos como independência e autonomia, relacionados à confiança e segurança do pequeno.

Cada comportamento tem uma função e quer comunicar algo, reforça Luciana, e os pais devem saber reconhecer e manejar o entendimento. É preciso, então, cuidar também das ansiedades e angústias dos pais, que sofrem igualmente e necessitam de acolhimento, já que naturalmente projetam frustrações e inseguranças pessoais nos filhos. 

Pai e filho na terapia
(NoSystem images/Getty Images)

“Quando os pais buscam o profissional, seja o psiquiatra, o psicólogo ou o neuropsicólogo, eles geralmente vêm com expectativas com relação ao tratamento e desenvolvimento desse filho. Mas é sempre importante que o profissional seja transparente com a família, que coloque as dificuldades apresentadas pela criança e o que foi observado, e que trabalhe, de fato, com essas expectativas”, concorda Camila.

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Ela reforça, ainda, que é importante entendermos que, quando pensamos em um processo psicoterápico, ele não é entendido como imediato, mas baseado na construção e no desenvolvimento daquela criança. Ou seja, o tratamento vai depender de uma série de questões: o diagnóstico dado a ela, quais as dificuldades que ela apresenta, recursos emocionais e cognitivos, faixa etária… Todos esses fatores podem impactar no andamento e, por isso, devem ser considerados pelo profissional junto com os pais, para que eles não tenham expectativas além do que pode ser recebido por aquele processo.

Procure um profissional especializado em crianças

Da mesma forma que ocorre nos atendimentos para adultos, são múltiplas as abordagens capazes de tratar o aspecto psicológico das crianças. O que se deve priorizar, novamente, são profissionais especializados no público infantil, sejam psicólogos, psicanalistas, psiquiatras ou neuropsicólogos.

Isso porque, falam as profissionais, a fase do desenvolvimento infantil é uma das mais relevantes para o futuro da criança, ou seja, o que acontece na infância não fica só na infância.

“Durante os seis primeiros anos o cérebro da criança já é praticamente do tamanho do cérebro de um adulto: ela aprende a andar, a falar, a usar a coordenação motora, a nomear e identificar emoções. Depois dessa fase ela vai apenas refinando as habilidades já adquiridas, e um profissional não especializado, portanto, pode vir a prejudicar esse desenvolvimento pleno por não conhecer todos os marcos e características desse momento”, exemplifica Luciana.

Mas qual a abordagem?

As abordagens da psicoterapia infantil são múltiplas, mas algumas delas podem se encaixar melhor na realidade e personalidade do seu pequeno. É o profissional capacitado que irá avaliar isso da maneira mais pertinente.

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“Nós temos duas questões a se considerar, a avaliação e o tratamento. No aspecto da avaliação, dependendo da intensidade, da gravidade dos sintomas, os pais podem buscar a opinião do profissional de saúde mental que, no caso, é o psiquiatra, para que ele possa realmente mensurar essas questões e, a partir de então, direcionar qual o melhor caminho, seja ela uma avaliação psicológica ou tratamentos e terapias”, diz Camila.

Em alguns casos, a melhor abordagem é, por exemplo, a terapia que segue a linha psicodinâmica e, em outros, a terapia cognitivo-comportamental, como quando falamos sobre crianças que sofrem com o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, expõe a profissional. Já para crianças com Transtorno do Espectro Autista existe a terapia ABA, que costuma trazer grandes resultados, mas há, ainda, a questão medicamentosa, que se aplica a outras situações – tudo isso deve ser considerado na avaliação, que vai depender da demanda da criança e daquilo que precisa ser trabalhado de forma mais assertiva.

Por muitas vezes temos expectativas irreais em relação aos nossos filhos, diz Luciana, e cobramos deles algo que ainda não podem nos dar quando olhamos para o desenvolvimento neurológico da criança. “Por isso, gosto das perspectivas das neurociências, da psicologia do desenvolvimento e, também, da disciplina positiva. Quando, a partir delas, entendemos o que pode ser esperado em cada fase da vida, o que esse cérebro, em pleno desenvolvimento, já é capaz ou não de fazer, podemos adequar nossas expectativas e conseguimos tanto incentivar a autonomia das crianças como deixar de fazer cobranças desnecessárias que fazem com que elas se sintam, muitas vezes, incapazes e inadequadas”, opina.

Ela acredita, ainda, na abordagem comportamental, cujo objetivo envolve ensinar novas habilidades, diminuir comportamentos inadequados ou exagerados e incentivar atitudes mais adequadas que ocorrem em pouca frequência. Lembrando que a família deve ser considerada em toda e qualquer intervenção realizada com as crianças, ok?

Mas costuma ser tão caro…

Já para pais cujo orçamento não permite a contratação de um profissional de saúde mental infantil, é sempre bom pontuar que as alternativas são se restringem apenas aos consultórios pagos.

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As faculdades e universidades nas quais existem cursos de Psicologia costumam ter também programas de acolhimento para as famílias e de tratamento para os pais, que são realizados por estudantes supervisionados por profissionais capacitados. Assim, familiares que precisam que seus filhos passem pelo acompanhamento psicológico podem buscar por esse tipo de serviço e obter atendimento gratuito ou com valor simbólico.

Paralelamente, a internet tem sido uma ferramenta muito eficaz na divulgação de informações de qualidade, e podemos encontrar bons artigos, aulas gratuitas e lives que podem ajudar muito na compreensão de alguns temas, exemplifica Luciana, ajudando a nortear os pais. 

Por fim, institutos de pesquisa muitas vezes fazem chamadas para avaliação ou atendimento de populações específicas, e é bom ficar de olho nisso, pois eles são altamente qualificados. Certas clínicas particulares também oferecem atendimentos sociais ou com custos reduzidos, e o próprio pediatra que acompanha a criança pode indicar algumas alternativas. 

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