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Como saber se meu filho tem medo ou fobia?

Enquanto o medo é uma reação natural frente a um perigo, a fobia aparece como uma manifestação exagerada e que atrapalha o dia a dia do pequeno. Entenda!

Por Flávia Antunes
Atualizado em 23 jan 2023, 11h26 - Publicado em 18 fev 2022, 16h26

Voltar a memória à infância é também lembrar daquele friozinho na barriga que sentíamos ao nos depararmos com uma aranha na parede, ao apagarmos as luzes do quarto antes de dormir ou ao pensarmos em nos separarmos dos pais.

De fato, o medo é uma sensação natural, esperada e saudável no ser humano, que desde os primórdios serve como forma de defesa frente a um perigo existente no ambiente.

O medo é um sentimento intuitivo, que tem uma razão na realidade, para que a pessoa se entenda em risco. É algo que protege, que faz com que entenda os limites de segurança”, explica o psiquiatra e sócio-fundador da Sociedade Paulista de Terapia Familiar, Cirilo Tissot.

Mas e quando o medo vira fobia?

Se, por um lado, assustar-se ao ver uma barata andando pelo chão é uma reação natural, o mesmo não se pode dizer caso a criança fique ansiosa e extremamente apreensiva mesmo sem a presença do bichinho por perto.

“O medo se torna fobia quando se manifesta em uma proporção exagerada e que atrapalha o andamento do dia a dia, porque é uma constância maior do que só um movimento pontual”, esclarece Tiago Tamborini, psicólogo especialista em comportamento de crianças e adolescentes.

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Em outras palavras, a fobia faz com que o pequeno tenha dificuldade de seguir com suas atividades corriqueiras, como ir à escola, dormir no horário ou brincar com os amigos. “Este medo que não tem razão na realidade faz com que a criança perca sua espontaneidade e entre em uma crise de ansiedade profunda em que se desespera e cada vez mais se restringe e se isola”, complementa Tiago.

Sinais de que seu filho pode ter uma fobia

Como muitos receios e desafios são comuns ao longo do desenvolvimento, nem sempre é fácil diferenciar se a criança está verdadeiramente com uma fobia. Neste sentido, o psicólogo alerta: “Temos que tomar cuidado para não patologizar demais. As crianças terão naturalmente medos com a passagem do tempo, e costumam se tornar mais intensos a partir dos dois ou três anos de idade, quando começa a perceber melhor os riscos que a vida apresenta”

Identificar uma fobia é ainda mais difícil ao considerarmos que, especialmente na primeira infância, realidade e fantasia se confundem na cabecinha do pequeno – e nem sempre ele tem noção de que seu medo é infundado. “Por isso, o diagnóstico é mais fácil quando a criança é mais velha, porque tem compromissos maiores com a realidade e consegue entender que não existem motivos reais para que seu temor aconteça”, diz o psiquiatra.

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Mesmo perante esses empecilhos, alguns indícios – principalmente corporais – podem ajudar os pais a perceberem se os filhos estão com fobias. “A criança se comunica mais através do corpo, já que nem sempre consegue traduzir verbalmente seus anseios”, pontua Cirilo.

Os sintomas mais frequentes, segundo o médico, estão ligados a reações digestivas, como diarreia, suor frio nas mãos e dor de cabeça. “A ideia de não querer ir à escola, por exemplo, pode ser justificada por uma dor de barriga, que pode ter relação com um medo de separação dos pais ou do ambiente do colégio”, cita o psiquiatra.

Menina sentada na cama cobrindo o rosto
(ozgurcankaya/Getty Images)

A fobia desaparece com o passar do tempo?

Respondendo à pergunta acima, os especialistas concordam: a tendência é que sim. “Certas fobias podem desaparecer espontaneamente. Uma criança que tem fobia de cobra, por exemplo, pode conviver com a fobia quando está na cidade. Porém, conforme vai crescendo, vai ganhando noção da realidade, e o medo pode desaparecer”, exemplifica Cirilo.

No entanto, Tiago lembra que, por vezes, as fobias se renovam com o passar do tempo. De acordo com ele, por volta dos oito ou nove anos, fase típica de “desmame” e rompimento da relação tão próxima dos pais, pode ser que o filho manifeste novas versões dos medos que tinha de perder os cuidadores.

Outra observação interessante do psicólogo é que os sentimentos fóbicos dos pequenos têm muita relação com a realidade em que vivem. “Ultimamente, as fobias estão tomando uma proporção maior, porque os pais estão fragilizados no que tange a segurança do filho. Andam muito amedrontados com sequestros, assaltos… E essa insegurança dos pais tem vazado para as crianças“, comenta.

Se há dez anos, o profissional encontrava em seu consultório mais casos de TDAH, distúrbio de atenção, problemas de relacionamento na escola e afins, recentemente as fobias, medos e ansiedades ganharam mais destaque, por conta da constante sensação de que algo de errado possa acontecer.

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Meu filho tem fobia. E agora?

A primeira conduta importante parte dos pais e pessoas próximas, que não devem ridicularizar ou negar o medo e a fobia dos filhos. “Evitem a tendência de dizer que ‘é só uma bobeira’. Esse comportamento afasta o filho e não o ajuda, porque ele sente que não está sendo reconhecido”, afirma Tiago.

O caminho para abrir espaço é o inverso: de diálogo, acolhimento e compreensão, deixando claro que existem medos na vida e isto é natural.

Filho-conversando-com-a-mãe
(Catherine Falls Commercial/Getty Images)

Quando buscar ajuda profissional

Já se a criança está sendo exposta a situações que aumentam sua ansiedade e atrapalham a sua rotina, é hora de receber ajuda profissional.

Mas nem sempre o foco precisa começar no pequeno. De acordo com Tiago, os pais podem primeiro buscar orientação de um psicólogo para depois avaliarem se é preciso um acompanhamento específico para a criança.

“Caso seja necessário, o psicólogo assumirá a tarefa da dessensibilização da criança, para que aprenda a lidar com a sua ansiedade”, diz Cirilo. Em algumas situações, o profissional pode encaminhar o pequeno para um psiquiatra, que será responsável por avaliar se o paciente precisará de alguma medicação pontual para voltar a executar suas atividades do dia a dia.

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