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Educação positiva: como lidar com 6 comportamentos desafiadores da criança

Conversamos com especialistas para exemplificar casos corriqueiros na rotina com os filhos e oferecer caminhos para pais e cuidadores, da teoria à prática

Por Carla Leonardi | Ilustração: Anamaria Sabino
Atualizado em 2 jul 2024, 12h33 - Publicado em 18 ago 2023, 16h54
menina chorando diante de um fundo ilustrado
 (Arte: Anamaria Sabino | Foto: gahsoon/Getty Images)
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Você assiste a dezenas de vídeos sobre educação com respeito, lê livros e faz cursos. Porém, quando a criança se joga no chão do mercado, o sangue sobe e parece que toda a teoria vai por água abaixo? Calma, você não está só nessa jornada – que não, não é tão simples quanto pode parecer.

“As pessoas acham que vão dar uma educação diferente apenas por aprender, mas isso não é possível. Nós temos que reprogramar nosso cérebro para reagir de outras maneiras”, alerta Nanda Perim (@psimamaa), psicóloga, educadora parental e especialista emocional. “Quando você entende que a criança não está te testando, é mais fácil ter paciência. Quando você percebe que invalida as emoções dela com muita frequência, é mais fácil parar, porque você começa a enxergar o que está fazendo”, explica.

Para ajudar pais e cuidadores, elencamos aqui situações desafiadoras comuns com os pequenos e pedimos as orientações de Nanda Perim e da psicóloga e especialista em Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) Cecília Rocha (@ceciliacicarocha) para lidar com elas. Lembre-se, no entanto, de que não há manual de instruções. Essas são algumas balizas que podem ajudar.

QUANDO A CRIANÇA “FAZ BIRRA”

A chamada birra é aquela explosão de raiva, em que sentimentos avassaladores que todos (crianças e adultos) temos ficam fora de controle. Neste caso, o importante é entender que nada é “só” por isso ou por aquilo. As emoções de seu filho são reais, e não adianta falar que não há motivo para o choro.

menino chorando diante de um fundo ilustrado
(Arte: Anamaria Sabino | Foto: Fuse/Getty Images)

“Para mim, o melhor exemplo é analisar como nós, adultos, nos sentimos na mesma situação. Se você recebe uma ligação dando uma notícia péssima e tem um momento de descontrole, não vai querer alguém que te acolha?”, questiona Nanda. “Essa é a grande sacada: mostrar para o adulto que, se ele é desafiado a administrar suas emoções, imagina uma criança, que tem o cérebro em desenvolvimento e ainda não controla os impulsos do corpo”, completa.

O que pode ajudar:

Acolha a criança e valide o sentimento dela. “Eu entendo que você está frustrado e com raiva. Quer um abraço? Quer ficar um pouco sozinho?”

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– Saiba quais são os gatilhos da calma, como Nanda Perim chama as formas de ajudar a corregular as emoções do pequeno. Ele gosta de conversar? Prefere o silêncio?

– Leve a criança para um local mais isolado e calmo.

– Quando ela estiver tranquila, converse sobre o que aconteceu, mas sem culpabilizá-la.

– Se a criança bater, interrompa a ação imediatamente e diga que compreende o que ela está sentido, mas que bater é inaceitável.

– Conte o que você costuma fazer para se acalmar.

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QUANDO A CRIANÇA PARECE DESAFIAR O ADULTO

“Essa é uma questão que tem mais a ver com os pais, porque criança não desafia ninguém. Ela não tem planejamento estratégico, visão de futuro, segundas intenções ou conceitos simbólicos”, destaca Nanda Perim.

Como a especialista explica, é natural que o pequeno seja irredutível em relação ao que o desenvolvimento infantil pede, o que pode ser lido pelo adulto como uma disputa de poder. “Se essa fase pede autonomia e você ameaça a autonomia dele, vai ter resistência”, diz. 

O que pode ajudar:

– Lembre-se de que seu filho não quer afrontar você, nem manipular ninguém. Ele não tem capacidade cerebral para isso.

Comunique-se de forma clara, mas sem usar o tom de ameaça ou de “faça isso porque sou seu pai/sua mãe e estou mandando”.

– Dê possibilidades, alternativas viáveis para o pequeno escolher e sentir que tem alguma autonomia.

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QUANDO ELA MENTE

“A mentira pode ser normal, uma parte do desenvolvimento, mas precisamos nos atentar quanto à intensidade e à frequência dela. Quando o pequeno começa a mentir em excesso ou sempre com um tema específico, pode ser um sinal de que há algo errado”, alerta Cecília.

criança abaixada, falando com um boneco demadeira de nariz grande e pontudo
(Arte: Anamaria Sabino | Foto: A. Chederros e Catherine Falls Commercial/Getty Images)

Outro ponto essencial é diferenciá-la da fantasia. Segundo a especialista, a mentira é, em geral, usada quando a criança tenta se proteger de algo. No entanto, “numa relação de confiança, não há necessidade de se defender”, diz. 

O que pode ajudar:

– Observe a quantidade e a intensidade das mentiras. Caso sejam muito constantes, vale buscar ajuda de um psicólogo infantil.

– Procure entender o que a mentira está comunicando. Pergunte-se: “Como estou lidando com os erros da criança?”

Dialogue sem constranger. “Filho, percebi naquela hora que você falou uma coisa que não aconteceu… Entendo que pode ser difícil, mas na nossa casa a verdade é muito importante”.

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– Promova um ambiente seguro, para que a criança possa se expressar sem crítica nem julgamento.

QUANDO ELA NÃO TEM PACIÊNCIA PARA ESPERAR

Para as crianças, é mais difícil esperar e isso é explicado pela neurociência, afirma Cecília Rocha: “Estudos mostram que o cérebro humano só está maduro por volta dos 25 anos de idade. Mesmo na adolescência, ele ainda precisa desenvolver importantes áreas, como o córtex pré-frontal, justamente a região responsável pelo controle de impulsos e pelas tomadas de decisão.”

O que pode ajudar:

– Não se esqueça de que a criança tem o cérebro em desenvolvimento e, para ela, não é mesmo fácil aguardar algo acontecer.

– Explique o motivo da espera.

Comunique o tempo de forma concreta (sem dizer que “é rapidinho”) e, de preferência, em linguagem acessível: “Eu vou tomar banho e vai demorar um episódio de Jovens Titãs” ou “Vamos sair quando o ponteiro pequeno chegar ao 7”.

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QUANDO A CRIANÇA NÃO QUER DIVIDIR

“O pequeno passa, principalmente na primeira infância, por uma etapa em que o ‘meu’, o ‘eu’ e o ‘quero’ são uma grande novidade. Ele está descobrindo que é um indivíduo, que possui coisas, que quer, que pode querer…”, conta Nanda.

O ideal, então, é não forçar, até porque acordos como “brinquem um pouquinho cada” não fazem sentido na cabeça de um ser humano tão novinho.

O que pode ajudar:

– Tenha em mente que você não está criando uma pessoa egoísta se não interferir, e que forçar a divisão, provavelmente, só vai gerar estresse.

– O desenvolvimento da habilidade de compartilhar passa também pela empatia. Promova brincadeiras e jogos colaborativos que ajudem nesse processo.

– Dê o exemplo dentro de casa.

QUANDO ELA NÃO QUER COMER

Selecionar a comida faz parte do desenvolvimento, é algo que deve ser encarado com naturalidade. “Porém, se a criança passa a recusar demasiadamente muitos alimentos e isso gera angústia e preocupação na família, é necessário procurar ajuda profissional”, recomenda Cecília Rocha.

menina fazendo careta diante de um prato de comida
(ediebloom/Getty Images)

Outro ponto importante, ressalta a psicóloga, é verificar se está havendo comprometimento no estado nutricional da criança.

O que pode ajudar:

Não obrigue o pequeno a comer nem demonstre irritação com a atitude dele, pois isso pode agravar ainda mais a recusa alimentar.

Não faça chantagens, como “se não comer tudo, não vai ao parque”.

– Respeite os sinais de saciedade. Nos bebês, pode ser virar a cabeça, fechar a boca, não engolir a comida, chorar… Já os maiores brincam com o alimento, saem da mesa e até se expressam verbalmente.

– Proporcione oportunidades e momentos adequados de refeição, em um ambiente calmo e agradável. Alimentar-se à mesa e sem distrações (TV ligada, por exemplo) também ajuda.

– Respeite o direito da criança de ter preferências e aversões, além de variar o cardápio para dar a ela a oportunidade de experimentar diversos alimentos.

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