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Como planejar as férias da criança com TEA e lidar com a mudança na rotina

Pequenos com autismo podem ser sensíveis às alterações típicas do recesso escolar. Veja como trabalhar as dificuldades e que atividades fazer com seu filho

Por Isabelle Aradzenka
Atualizado em 7 jul 2023, 16h48 - Publicado em 7 jul 2023, 16h31
bebê abraçando a sua mãe
 (AleksandarNakic/Getty Images)
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As férias escolares estão aí – e o período pode ser proveitoso para treinar a flexibilidade da criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em outras rotinas, além de permitir explorar seus interesses. “A época é primordial para passar mais tempo com cuidadores ou outras pessoas a quem ela não tem tanto acesso”, explica Julia Amed, psicóloga pela clínica multidisciplinar para tratamento da criança com autismo Genial Care.

Apesar de ser uma oportunidade de “fugir do roteiro”, é também na época de recesso escolar que crianças com TEA podem apresentar dificuldade para se adaptar, transparecendo comportamentos de frustração. A resistência à mudança surge do fato de que indivíduos dentro do transtorno tendem a se beneficiar de rotinas previsíveis e bem estruturadas. “Isso lhes proporciona uma sensação de segurança e domínio sobre o ambiente”, explica Keyla Ferrari, pedagoga especializada em Deficiência da Audiocomunicação, Atividade Motora Adaptada e Educação Especial, e autora do livro Dance com Ele: Práticas e Interações Entre Mães e Filhos com Deficiência.

Se não forem bem planejadas, as férias tendem a se tornar um grande desafio para todos. O afastamento das atividades escolares e a introdução de novos horários gera confusão e desconforto para a criança. Tenha em mente que há uma maior intolerância quando tudo está fora do padrão esperado.

A importância da rotina escolar

Saber o que esperar e o que irá acontecer em seguida diminui incertezas e aumenta a nossa sensação de segurança. “Por isso, a rotina oferece previsibilidade e consistência, o que pode reduzir a ansiedade e o estresse nas crianças com TEA”, pontua Keyla. A previsibilidade também a estimula o pequeno a compreender melhor as atividades diárias e o que é necessário ser feito em cada uma.

Por isso, desenvolver habilidades de autocuidado, autonomia e independência torna-se mais fácil. “À medida que se familiarizam com as atividades da rotina, que são repetidas frequentemente, as crianças podem aprender a executá-las de forma mais independente”, diz a pedagoga. Da mesma forma, a estabilidade reduz comportamentos desafiadores. Ou seja, a ansiedade sobre o que se espera da tarefa e a frustração por não saber executá-la diminui. “Há uma preparação prévia e uma previsão clara do que virá em seguida”, explica.

As férias alteram a rotina estabelecida durante todo o período escolar, além de interromperem vínculos afetivos com professoras, cuidadores e amigos. “Podem gerar ansiedade, saudade, incompreensão da situação e dificuldades de adaptação, e desencadear reações negativas em algumas crianças com TEA”, reforça Keyla. Com planejamento, é possível que todos descansem e se divirtam juntos. O mais importante é lembrar que cada criança é única e considerar sua história de vida, a faixa etária e o nível do transtorno.

Menina brincando no parque - autismo
(ziggy_mars/Thinkstock/Getty Images)
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Como planejar as férias da criança com TEA

O primeiro passo é dar previsibilidade do que irá acontecer. “Construa uma rotina junto com seu filho, levando em consideração seus gostos e escolhas e nos horários que eram previamente preenchidos pela escola”, orienta Júlia. Além disso, é importante variar as atividades, em diferentes espaços e com diferentes pessoas. “Lógico que sempre considerando os limites da criança”, diz a psicóloga.

Além de planejar com antecedência, comunique antecipadamente as mudanças e envolva o pequeno no processo, de acordo com suas capacidades comunicativas e cognitivas. Por exemplo: se os pais desejam levar a criança ao zoológico, o ideal é, dias antes, começar a falar sobre o passeio, mostrar imagens dos animais, explicar o que irão fazer no local e o quanto será legal. “Acima de tudo, devem fazer isso no dia anterior e antes de sair de casa, sempre respeitando a habilidade de compreensão e comunicação do filho”, lembra Keyla.

A pedagoga também ressalta que é fundamental manter a continuidade das terapias relacionadas ao transtorno durante o recesso, como a psicopedagogia, a fonoaudiologia ou a terapia ABA, além de procurar oportunidades para estimular a interação social e o convívio da criança com amigos e familiares.

Quais passeios e atividades fazer?

Não existe uma lista pré-estabelecida. “Tudo deve ser planejado considerando os gostos e as limitações de cada criança”, pontua Júlia. Caso ela tenha uma sensibilidade maior a sons altos, por exemplo, busque lugares abertos e que não tenham muitos barulhos imprevisíveis, como músicas e pessoas gritando. “Ao mesmo tempo, se a criança se interessa por carrinhos, uma dica é procurar locais em que esse tipo de brincadeira possa ser explorada, como um parque”, sugere.

A seguir, veja sugestões de passeios que podem beneficiar a criança com TEA nas férias escolares:

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Atividades ao ar livre

Os espaços abertos, como parques, praças, jardins e praias, oferecem estímulos visuais, táteis e auditivos, permitindo que o pequeno os explore de acordo com suas capacidades. “Além do contato com a natureza, proporcionam uma experiência sensorialmente rica e estimulante”, conta a pedagoga.

Contato com animais

Muitas crianças com TEA têm um interesse especial pelos bichinhos. Visite zoológicos, aquários, sítios ou fazendas, será uma experiência lúdica e agradável, além de promover interação social e afetiva entre família e a criança, diz Keyla.

Espaços artísticos

Museus, exposições artísticas e espaços dedicados à ciência oferecem aprendizado e entretenimento para as crianças que têm interesse científico, na arte ou em outras áreas.

Atividades sensoriais

Faça uma visita a jardins sensoriais, piscinas aquecidas, de bolinhas… Incentive brincadeiras com massinha de modelar ou aposte em receitas em família.

Atividades artísticas

Estimule a criatividade com pinturas, desenhos, esculturas, dança ou música.

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Jogos e esportes

As atividades esportivas e os jogos em família favorecem a interação social. No entanto, Keyla pontua que é importante evitar ambientes barulhentos e multidões, além de considerar a tolerância da criança ao espaço, ao som, e a situações aversivas.

Ilustração com fundo cinza, como um chão, onde quatro crianças montam quatro peças brancas de um quebra-cabeça gigante. Cada uma segura uma peça.
(Malte Mueller/Getty Images)

Organizando os horários

O excesso de atividades também pode estressar tanto a criança como a família. “A rotina de férias não precisa ser rígida”, recomenda a especialista. Ela pode ser flexível o suficiente para lidar com imprevistos. Isso ajuda o pequeno a desenvolver sua capacidade de adaptação e tolerância à frustração. Cada casa estabelece sua dinâmica e as possibilidades.

É importante que os horários sejam organizados de acordo com a disponibilidade e a motivação de todos. “Uma hora de um café da manhã divertido em que todos cozinham, por exemplo, vale muito mais do que três horas em algo que só a criança está se divertindo, mas está estressando os cuidadores”, diz Júlia Amed. Para a psicóloga, o que vale é o tempo de qualidade, mais do que a quantidade.

A hora do jantar pode ser lúdica se houver atividades na preparação do alimento. O banho pode ser acompanhado de cantos suaves ou música, e a hora de dormir de histórias e canções de ninar, sugere Keyla.

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Respeite a reação da criança

Cada família conhece seu filho e sabe o que o deixa mais agitado ou o que o acalma. “Deve-se sempre utilizar este conhecimento sensível”, orienta a pedagoga. Caso a criança esteja desconfortável, tenha paciência e busque recursos para acalmá-la, inserindo as experiências aos poucos e respeitando seu tempo de adaptação. “O uso de músicas agradáveis em volume tolerável, redes de balanço e garrafinhas plásticas sensoriais são ferramentas para tranquilizá-la até que ela se organize e se adeque ao novo”, explica.

Programas diferentes não são proibidos, mas devem ser explicados com antecedência para prevenir desconfortos. “Conte quando irá ocorrer, quem estará presente, mostre fotos do local, por quanto tempo ficarão lá, além de misturar isso com a motivação da criança”, explica Júlia. Dica: para se acalmar, ela pode levar o brinquedo favorito ou então fazer algo de que gosta depois, como tomar um sorvete.

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