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Por que os diagnósticos de autismo estão aumentando?

O crescimento do número de pessoas com Transtorno do Espectro Autista é inegável, mas quais são as suas causas? Entenda!

Por Carla Leonardi
25 abr 2023, 12h30

Você já teve a impressão de que nunca se teve tantos casos de autismo antes? De fato, o número de pessoas diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) tem aumentado sensivelmente nos últimos anos. De acordo com uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos publicada em março deste ano, 1 a cada 36 indivíduos de até 8 anos tem o transtorno no país. Para uma base de comparação, no ano 2000, a prevalência era de 1 a cada 150.

No Brasil, segundo o último Censo Escolar 2022, houve um aumento de 280% no número de estudantes com TEA matriculados nas redes pública e particular entre 2017 e 2021. Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde aponta que, aqui, há dois milhões de autistas, embora a estimativa seja considerada desatualizada.

Prevalência versus incidência

Apesar de mudanças numéricas tão relevantes, é preciso analisá-las com parcimônia. A neuropsicóloga Bárbara Calmeto, gestora do Autonomia Instituto, salienta que “prevalência” (referente a casos novos e já existentes) é diferente de “incidência” (referente apenas a casos novos).

“O que podemos dizer sobre esses dados é que esse é um aumento de prevalência e não, necessariamente, de incidência. Ou seja, estão muito relacionados à questão do diagnóstico”, diz a profissional, que também é psicóloga cognitivo-comportamental, especializada em Análise do Comportamento Aplicada para pessoas com Autismo e Deficiência Intelectual e especialista em Educação Especial.

Causas para o aumento dos diagnósticos

Bárbara explica que esse aumento da prevalência está associado a uma maior conscientização sobre o tema. “Há um conhecimento maior em relação ao autismo e os pediatras e neuropediatras estão estudando mais [o assunto] e conseguindo fazer uma identificação cada vez mais precoce em sinais sutis, principalmente do autismo nível 1″, afirma.

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Ela destaca ainda que a mudança do critério de diagnóstico contribui para o crescimento dos números. Vale lembrar que, em 2013, o DSM-5 (sigla em inglês para a o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais) reuniu todos os transtornos que estavam dentro do espectro do autismo em um único diagnóstico, o TEA. Além disso, o TEA passou a constar na CID-11, nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, lançada pela OMS em 2018 e que entrou em vigor em janeiro de 2022. Essas mudanças fizeram com que transtornos que recebiam outras nomenclaturas passassem a ser encaixados dentro de um só grupo.

“Há, também, a questão de alguns diagnósticos anteriores errados. Vemos, por exemplo, que com esse aumento da prevalência do autismo, há uma diminuição dos diagnósticos de deficiência intelectual”, aponta a especialista. Ou seja, pacientes que antes eram identificados como portadores de deficiências intelectuais agora se encaixam em novos critérios como autistas. “Não quer dizer que eles não eram antes, mas que estavam com o diagnóstico errado”, explica.

Ilustração de um cérebro gigante em tons de marrom/vermelho escuro. Sobre ele, caminham pessoas em fila.
(Klaus Vedfelt/Getty Images)

Fatores ambientais ou sociais influenciam no aumento?

De acordo com a neuropsicóloga, quando se fala em “fator ambiental” relacionado ao autismo, trata-se do ambiente intrauterino, não do ambiente externo. Segundo ela, o primeiro trimestre da gestação pode ter fatores de risco (como o uso de ácido valproico, presente em alguns anticonvulsivantes), mas são a minoria dos casos (de 1% a 3%).

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É possível que a gestação tardia, cada vez mais comum na sociedade atual, também tenha influência, devido à base genética de óvulos e espermatozoides, mas Bárbara explica que ela não é causal, ou seja, não tem uma relação direta.

Vale lembrar que, embora as causas do autismo ainda estejam sendo investigadas e discutidas, sua origem genética já foi estabelecida.A criança nasce com a predisposição genética do autismo. Algumas pessoas desencadeiam os sintomas logo nos primeiros meses de vida, apresentando alguns traços, enquanto outras crianças vão começar a ter os sinais mais fortes e prevalentes por volta de um ano e meio, dois anos, o que se caracteriza como autismo regressivo. Essa genética pode ser hereditária ou não, pode ser uma base genética que está começando na variável daquela pessoa”, explica a profissional.

Níveis do Transtorno do Espectro Autista

“O autismo, de acordo com o DSM-5, tem três níveis de classificação, e eles são diferenciados pelo suporte de que a pessoa precisa”, afirma Bárbara. Dessa forma, o Nível 1, popularmente conhecido como “leve”, apresenta pouca necessidade de apoio. Já o Nível 2, chamado de “moderado”, demanda um suporte substancial, enquanto o Nível 3, chamado no senso comum de “severo”, tem necessidade de apoio muito substancial.

“Embora nas redes sociais se fale muito sobre o autismo nível 1, de altas habilidades, nós sabemos que essa não é a maior incidência”, alerta a neuropsicóloga. “A maior é dos níveis 2 e 3 que, com a intervenção precoce e intensiva, nós conseguimos ir melhorando a necessidade de suporte da pessoa”, finaliza.

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