Coisa de criança? A importância do brincar para os adultos
Mesmo para quem já cresceu, o contato com o lúdico cria conexões com o mundo, exercita a capacidade de tomar decisões e traz vários outros benefícios
A brincadeira é uma parte fundamental da infância. Ela está estritamente relacionada a um desenvolvimento saudável e ao exercício da criatividade. Mas você sabia que brincar também é muito importante para os adultos? É o que defende a psicóloga e pesquisadora de educação e cultura Adriana Klisys, autora do livro Viagem Lúdica.
“A sublime experiência do brincar, tanto para a criança como para o adulto, é aprender a se relacionar consigo, com o outro e com o conhecimento, desenvolver virtudes, valores e sabedoria”, diz a especialista.
Adriana ainda explica que esse processo traz uma série de outros benefícios, como criar conexões com o mundo, exercitar a capacidade de tomar decisões, de ser amigável, improvisar e agir criativamente – além de, claro, apreciar a vida.
Reencontro com a nossa criança interior
“Quando o adulto brinca com uma criança, ele reencontra sua criança interna, que nunca esteve ausente, só adormecida”, afirma a psicóloga.
Segundo Adriana, a reconexão com nossa criança interior pode ser feita, ainda, por meio de um resgate das nossas lembranças e das sensações que tínhamos ao brincar na infância. É possível realizar aquilo que seja significativo para nós mesmos, como correr, dançar, praticar algum esporte, cuidar de uma horta, cozinhar, apreciar a natureza, ir a uma exposição artística, voluntariar-se em uma causa social… “Qualquer uma das atividades pode se tornar lúdica quando traz um forte vínculo com sua presença no que faz”, diz.
Hipervalorização da produtividade
Para a autora, vivemos em uma sociedade que supervaloriza a produtividade. Aprendemos desde cedo a buscar o aprimoramento das nossas habilidades, sempre voltadas para o lado racional. Porém a brincadeira vai contra essa lógica, pois ela é “um espaço voltado para os ‘processos’ internos e não para os ‘produtos’ externos”. É por isso que, segundo a especialista, os adultos não se permitem brincar.
“Podemos pensar que o trabalho é o mundo da objetividade e o brincar é o mundo da subjetividade. Um voltado para a manifestação/realização do mundo externo e outro voltado para a manifestação do mundo interno. Os dois são fundamentais. Quando falta um, a vida entra em desequilíbrio“, diz Adriana.
O brincar do adulto
Adriana conta que o brincar do adulto vai muito além do brincar com a criança: “Brincar é muito mais um estado de ser e estar no mundo do que uma atividade propriamente dita”. A partir disso, a pesquisadora conclui que podemos trazer o olhar lúdico até para as dimensões profissionais da nossa vida.
“Quando um cientista como Santos Dumont coloca uma bicicleta com asas pendurada numa árvore para testar sua aerodinâmica, está brincando ou revolucionando a história da aviação? Quando Charles Chaplin está atuando como artista, está brincando ou exercendo seu ofício? Quando os jovens Steve Jobs e Steve Wozniak constroem um computador em casa, estão brincando de inventar ou trabalhando? Ou as duas coisas integradas?”, reflete.
Diante disso, o brincar pode estar perfeitamente integrado em nosso dia a dia. Quando ele está ausente, de acordo com Adriana, tudo fica mais difícil e há menos saídas criativas para a vida também.
Como explorar a ludicidade
Pensando nos benefícios que o brincar traz a todas as partes envolvidas, a psicóloga dá dicas simples de como os adultos podem se reconectar com seu lado lúdico. Dedique um tempo para o ócio ou para o “descompromisso com expectativas externas”, como ela nomeou. As pessoas devem também se dedicar a momentos de lazer.
Além disso, precisamos aprender com as crianças. Podemos, por exemplo, observá-las brincando livremente, seja no parque, na praia ou em qualquer outro lugar. Isso ajuda a despertar a nossa criatividade.