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Entenda o que é perturbação na amamentação

Sentimentos como aflição, vontade de afastar o bebê do peito e raiva marcam o fenômeno que pode afetar as lactantes, independente da fase do aleitamento.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 21 ago 2020, 16h54 - Publicado em 20 ago 2020, 17h26

“Percebi que quando ele vinha mamar, eu ficava muito irritada e me dava muita agonia. Me sentia culpada porque eu tinha vontade de bater nele”. Estes sentimentos inundaram a estilista Camila Fogaça, de 29 anos, enquanto amamentava o primogênito Célio, na época com um ano e seis meses, no terceiro mês da segunda gestação.

Inicialmente, Camila foi orientada pela pediatra do filho de que continuasse o aleitamento materno normalmente e assim ela seguiu pelos dois primeiros meses da gravidez. Entretanto, no fim do primeiro trimestre da gestação, a estilista se deparou com uma raiva que aparecia subitamente quando Célio sugava o seu seio. Ao procurar pelo assunto na internet, ela encontrou o nome para o que estava sentindo: perturbação na amamentação.

Como explica a psicóloga Betânia Farias, especialista perinatal e em psicoterapia de casal e família, o termo ainda não tem uma definição científica pela ausência de estudos sobre o assunto. Entretanto, a perturbação é percebida a partir de uma análise clínica de cada paciente e que, por isso, pode ter diferentes sinais para cada mulher.

“Este nome é usado a partir de uma observação de comportamento. A mãe que vem amamentando, a partir de um determinado momento, começa a apresentar sentimentos contrários ao aleitamento, que geralmente é cercado de disponibilidade e carinho”, detalha a psicóloga.

Essas emoções são principalmente indisposição para amamentar, irritabilidade, agitação, desejo de afastar o bebê do corpo, aflição e cansaço. Isa Crivellaro, consultora de amamentação pelo IBLCE, também relata casos de mães em que o desconforto emocional é tamanho, que elas passam a ter sintomas físicos como coceiras nas mamas.

As causas ainda não são definidas

Pela falta de estudos destinados a entenderem o que está relacionado a estes desconfortos durante a amamentação, ainda não se sabe exatamente o porquê deles acontecerem. O que se tem são possibilidades.

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Isa cita mulheres que apresentam a perturbação quando estão dando de mamar durante o ciclo menstrual ou, como no caso de Camila, realizam o aleitamento materno gestando. Outro caso comum é a livre demanda para crianças maiores, em que o toque excessivo do filho pode levar a mãe a sentir que não tem controle do próprio corpo ou espaço só para ela.

Todas essas possibilidades de causas para a perturbação voltam a atenção para a saúde mental da lactante. Com o aparecimento das emoções que caracterizam o fenômeno, Betânia aconselha mães a tirarem um tempo para si a fim de que possam perceber como está o entorno de todo o processo do aleitamento.

“Quando a mulher começar a sentir tudo isso, ela precisa se perguntar: será que eu estou querendo desmamar o meu bebê? Que estou muito cansada? Preciso pedir ajuda para o meu companheiro ou companheira? Ou estou precisando dizer para as pessoas que estou me sentindo um pouco sozinha?”, exemplifica a psicóloga.

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Conseguir responder essas questões é um primeiro passo para entender o mais importante sobre a perturbação: quais são os motivos que estão potencializando os sentimentos negativos na hora de amamentar. Essa constatação também é essencial para que o aleitamento materno não seja colocado como o vilão na vida das mães, mas uma circunstância que aponta para outros possíveis desajustes do período.

“Não é a amamentação que leva a mulher a ter a perturbação. É um conjunto de fatores, como a responsabilidade de amamentar, ver que não flui naturalmente, precisar de suporte e isso a deixa apreensiva”, reforça Clery Gallaci, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana.

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Falar sobre o assunto é importante!

A ausência de apoio e luz sobre assuntos como a perturbação podem ser uma porta aberta para a culpa, como lembra Camila sobre a sua experiência. “A minha indignação era como as mães conseguem amamentar dois e eu não. Por que eu não conseguia? O que estava acontecendo comigo?”.

Por isto, o conselho das especialistas é que mães conversem com pessoas próximas, que elas sabem que são acolhedoras, sobre as angústias e os anseios da amamentação. Esse diálogo honesto também é necessário com o pediatra do bebê.

Clery explica que é ele quem mostrará para a mãe que o leite dela é o suficiente para o filho com números, medidas e orientações que comprovam a efetividade do aleitamento materno.

Só que caso a situação comece a consumir cada vez mais a lactante, é importante que ela não descarte a possibilidade de procurar por ajuda profissional.

“Se ela perceber que essa perturbação está forte e está ficando com sentimentos fora do seu padrão, procure um psicólogo que trabalha com amamentação, porque assim a mãe vai poder legitimar o que ela está sentindo e entender o que é necessário fazer”, detalha Betânia.

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Este acompanhamento pode facilitar a reorganização da rotina da mãe e das pessoas que estão ao seu entorno para ajudá-la. Como já conversamos por aqui, é importante que a lactante não fique encarregada das tarefas da casa e os cuidados do bebê também sejam divididos, para que a mãe também possa descansar e cuidar de si.

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