Enquanto a pandemia causada pela Covid-19 tem números de vítimas menores devido a vacinação, a região sudeste, especialmente o estado do Rio de Janeiro, tem enfrentado um surto de Influenza A com mais de 20 mil casos confirmados da doença. O vírus respiratório pede atenção dos pais de crianças pequenas, já que elas tendem a ser infectadas por ele com mais facilidade do que pelo coronavírus.
“As crianças pequenas sempre são afetadas pelas doenças respiratórias com uma certa facilidade porque elas não têm um controle de autocuidado com medidas de prevenção, além da imunidade ainda não ser devidamente amadurecida, então, elas acabam ficando mais expostas”, explica o pediatra Gabriel Farias da Cruz, gerente da UTI Pediátrica do Hospital Icaraí.
Sinais da Influenza A em crianças
O especialista pontua que diferenciar os quadros de Influenza A e coronavírus é um processo desafiador, já que os sintomas das duas doenças são parecidos. “O quadro clássico da Covid-19 é basicamente febre, tosse e desconforto respiratório, o que é também o quadro da gripe. Dificilmente a família vai conseguir diferenciá-los e, às vezes, existe essa dificuldade até mesmo dentro do ambiente hospitalar”, enfatiza o pediatra.
Além dos sinais básicos da doença, Gabriel também chama atenção para dois sintomas de gravidade da gripe que exigem mais atenção dos pais. O primeiro é um desconforto importante para respirar, em que a criança usa a musculatura da barriga para fazer o movimento. O segundo alerta é sobre os níveis mais baixos de oxigenação no sangue, observados na mudança de coloração da pele do pequeno, principalmente nas extremidades do corpo.
O que os médicos fazem a partir do reconhecimento destes sintomas é analisar o histórico da família, para ver se irmãos ou pais já testaram positivo para uma das doenças, além de recorrer aos exames próprios de diagnóstico do coronavírus e da gripe.
“O período médio de evolução da Influenza fica em torno de uma semana e a sua recuperação é mais rápida. Por volta de três a quatro dias, a situação já está quase resolvida”, esclarece o infectologista pediátrico André Ricardo Araújo da Silva, do Grupo Prontobaby, e professor da Universidade Federal Fluminense.
Os possíveis motivos que ocasionaram o surto da doença
O aumento de casos de gripe no Rio de Janeiro e que já começam a se alastrar para outros estados, como São Paulo, Espírito Santo e Bahia, são resultado de uma série de fatores. O primeiro é que, segundo o infectologista Bruno Zappa, do Hospital Adventista Silvestre, a cepa H3N2 responsável pela epidemia no estado fluminense está circulando no hemisfério norte e a tendência é que ela tenha sido trazida de lá. Ainda de acordo com o especialista, a variante fará parte das atualizações da vacina de Influenza de 2022.
O segundo fator é que anualmente a população costumava entrar em contato com este vírus. “O que associado a vacinação oferece uma ‘proteção coletiva’ contra suas novas cepas. Só que devido às medidas restritivas contra a Covid-19, adotadas nos últimos dois anos, houve uma baixa adesão à vacinação, o que reduziu esta ‘proteção coletiva'”, completa Bruno.
A diminuição dos protocolos de proteção, como menos uso de máscara e mais aglomeração, também contribui para o maior número de casos da Influenza A, já que ela é uma doença respiratória facilmente transmissível de uma pessoa para outra. Inclusive, André pontua que um dos motivos da contaminação da população pediátrica é o retorno às aulas presenciais em tempo integral, em que as crianças acabaram tendo mais interação física umas com as outras.
Como as crianças pequenas podem ser protegidas?
Diferente da imunização contra Covid-19, ainda não liberada para menores de 12 anos no Brasil, a vacina da gripe é recomendada a partir dos seis meses do bebê. Assim, o primeiro passo para reduzir os índices de contaminação é por meio da atualização da carteirinha infantil conforme direcionamento das entidades públicas. “Algumas cidades estão com falta da vacina, então, provavelmente vai ter que acontecer uma organização por grupos preferenciais novamente”, pontua Gabriel.
Medidas secundárias de proteção, similares às que já tomamos contra o coronavírus, também são necessárias, como uso de máscara, lavagem correta das mãos, não levá-las aos olhos e à boca, e evitar aglomerações sempre que possível. Já para os casos de suspeita de gripe, André enfatiza que a preocupação precisa ser romper com ciclo de transmissão.
“Temos que identificar os casos e afastar do convívio coletivo. Tanto a criança gripada não deve ir para escola, quanto o adulto doente não deve trabalhar. Eles têm que ficar em casa até que acabem os sintomas respiratórios”, finaliza o infectologista pediátrico.