São vários os motivos que podem levar um recém-nascido ou uma criança pequena a ter distúrbios gastrointestinais. Por exemplo, a imaturidade do sistema digestivo – que continua a se desenvolver nos primeiros meses de vida – ou até mesmo sensibilidades alimentares, como alergias.
Segundo o Departamento Científico de Gastroenterologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), 15% a 30% das crianças abaixo de quatro anos passam por problemas no trato gastrointestinal. Pouco falada, a disquesia do lactente está entre esses distúrbios. Apesar de não ser caracterizada como doença pela comunidade médica, pode causar muito desconforto ao bebê.
O que é disquesia?
“A disquesia do lactente ou disquesia infantil é uma condição gastrointestinal funcional que se manifesta como esforço extremo ao evacuar, associado a choro, gemência, em que o bebê pode ficar com o rosto vermelho até conseguir eliminar fezes de consistência normal”, explica o Mário César Vieira, chefe do departamento de gastroenterologia do Hospital Pequeno Príncipe.
Causas da disquesia
O médico explica que a disquesia não tem uma causa orgânica, por isso tende a passar sozinha. Geralmente, dura até 9 ou 10 meses de idade e está muito relacionada ao desenvolvimento da coordenação motora da criança.
Para eliminar as fezes, o bebê precisa ter desenvoltura para coordenar a vontade de evacuar com o relaxamento da musculatura pélvica e a abertura do esfíncter anal, o que requer aprendizado.“Ao invés de relaxar a musculatura perineal, o bebê contrai. E isso leva à disquesia”, explica o médico.
Diagnóstico da condição
Vieira afirma que, pelo fato de a disquesia do lactente não ser uma doença, e sim uma condição funcional, o diagnóstico é feito por exclusão. Ou seja, se o bebê está saudável, mas tem dificuldade e demora ao evacuar (pelo menos 10 minutos) – manifestando desconforto – é feito o diagnóstico de disquesia. Portanto, nenhuma enfermidade ou patologia está diretamente associada a esse transtorno gastrointestinal.
Porém, o especialista cita alguns sinais de alerta aos quais os cuidadores devem se atentar, pois indicam a necessidade de ajuda profissional: baixo ganho de peso ou perda de peso, distensão abdominal muito acentuada, fezes ressecadas e presença de sangue nas fezes.
Disquesia ou cólica?
A disquesia não deve ser confundida com outros distúrbios gastrointestinais, como cólicas – estas podem se repetir com frequência e caracterizam-se por choro prolongado após a alimentação, distensão abdominal, gases e flexão das pernas. A disquesia, por sua vez, geralmente se resolve com o desenvolvimento das capacidades motoras e quando a criança é capaz de defecar.
Cuidados com o bebê
Embora não exista um tratamento para a disquesia, Mário Vieira dá algumas dicas para deixar o bebê mais confortável e, consequentemente, ajudá-lo a esvaziar o intestino: “Mude a criança um pouco de posição, não a deixe com uma roupa muito apertada, faça uma massagem bem suave na barriga com movimentos de relaxamento e evite qualquer tipo de medicamento“.
O pediatra adverte contra o uso de supositório e outros agentes que estimulem a eliminação das fezes, pois a criança pode acabar sendo condicionada a evacuar somente com esse estímulo, o que prejudica o desenvolvimento natural do organismo. Vale ressaltar que a disquesia é um quadro temporário. Por isso, Vieira recomenda o uso de medicamentos somente sob orientação de especialistas.
Para diminuir os riscos do transtorno, ele indica alimentar a criança com leite materno, se possível. Há uma explicação: “A tendência do leite em pó, por exemplo, é fazer com que a frequência de evacuações diminua e que fezes fiquem mais consistentes. Então um ponto inicial e importantíssimo é o incentivo ao aleitamento materno justamente para diminuir a ocorrência desse distúrbio.”