Quem já passou pelo seu maternar – ou mesmo começou a sua caminhada há pouco tempo, com a descoberta de uma gestação – entende que a maternidade é um processo profundo de conexão consigo mesma e com as expectativas que marcam a chegada e a vida do bebê. Logo, conectar tudo que envolve o mundo materno com a palavrinha “meditação” faz mais do que sentido. E a gente explica o porquê!
“A Meditação é, na verdade, um estado de plenitude que acontece a partir de uma prática constante e do treino da concentração”, explica Veena Mukti (@veenamukti), massoterapeuta e professora de yoga especializada em gestantes e bebês. Assim sendo, todas as técnicas que ouvimos falar são, acima de tudo, práticas para a meditação – um estado em que a pessoa pode experimentar silêncio, conexão e presença profunda, e que decorre por meio da prática disciplinada.
“A meditação é uma experiência de silêncio que acontece além da mente, em que acessamos um estado profundo de presença e compreensão do ser. É quando alcançamos uma quietude, esvaziando-nos dos conteúdos mentais, a fim de encontrarmos clareza mental, emocional e espiritual”, complementa Marina Repetto (@marinarepettooficial), nutricionista e especialista na prática do Ho’oponopono e em meditação.
Podemos ainda ressaltar que todas as técnicas de meditação têm os seus benefícios que podem variar com o objetivo de cada pessoa. No geral, Veena complementa que é um método procurado por quem busca equilíbrio físico, mental e emocional – tudo o que desejamos para a nossa maternidade, né?
Meditação durante a gravidez
Como já demos a entender nos parágrafos acima, a meditação pode (e traz) inúmeros benefícios para a gestante. Entre eles, Veena pontua:
- Redução do estresse
- Diminuição da ansiedade
- Melhor percepção de si e do bebê
- Melhora dos relacionamentos
- Equilíbrio hormonal
- Melhor adaptação às mudanças corporais e emocionais inerentes ao período da gravidez
A técnica mais básica e segura para a futura mãe (claro, não menos eficiente) é a de observação da respiração. “Concentrar-se apenas no ar entrando e saindo das narinas, nos movimentos que acontecem no tórax e na barriga é uma prática segura que toda grávida pode realizar, a qualquer momento do seu dia”, instrui a professora.
Existem técnicas diferentes e mais complexas que a gestante pode praticar, mas neste caso é necessário ter ajuda de alguém especializado. Sem falar que o método pode se adequar ao próprio comportamento da mulher. Há grávidas que preferem se concentrar apenas nos sons à sua volta, porém, se você é do tipo mais agitada, pode preferir uma meditação ativa. “O importante é que a gestante encontre uma prática com que ela se sinta bem para que possa incluir na sua rotina e colher os benefícios”, completa a especialista.
É eficaz no pós-parto?
Claro que sim! “A meditação traz benefícios em todas as épocas da vida”, completa Marina. Por nos conectar ao nosso universo interior e permitir a expansão das nossas percepções, a meditação pode ser uma grande aliada para o fortalecimento emocional no puerpério, período em que a mulher geralmente se sente mais sensível.
“É uma fase intensa de muitas descobertas e, para encontrarmos o equilíbrio, devemos trabalhar a aceitação das mudanças que acontecem e compreender o medo que está associado às obrigações e a tudo o que se espera com a chegada do recém-nascido”, explica a especialista.
Por isso mesmo, a meditação pode atuar na diminuição dos riscos de depressão pós-parto, entre outros fenômenos. “No puerpério, as demandas com o bebê são intensas, a privação de sono, as variações hormonais, o reconhecimento do novo corpo, tudo isso pode ser bastante desafiador. É neste momento que a meditação pode ser ainda mais benéfica, ajudando a mãe a reencontrar o equilíbrio, reduzindo a atividade simpática do sistema nervoso autonômico (o reflexo de luta ou fuga) e aumentando a atividade parassimpática (o estado de relaxamento)”, complementa Veena.
Chame o recém-nascido para praticar!
Antes de retomarmos os benefícios da meditação para a mamãe, é interessante saber que eles podem ser estendidos para o novo integrante da família. “Os bebês funcionam como um espelho da mãe, refletindo os sentimentos dela – já que são muito sensíveis e afetados pelo ambiente em que vivem. Então, se a mãe e o pai têm mais habilidade para lidar com as suas próprias emoções de forma positiva, esses benefícios se estenderão à criança e ao espaço familiar”, pontua Veena.
Assim, a meditação pode ajudar (e muito) o bebê a começar a perceber a si mesmo e o ambiente em que está. Marina esclarece que existem técnicas que auxiliam o alcance desse estado de conexão e tranquilidade do pequeno, como o banho de ervas, as massagens relaxantes e mantras que induzem ao relaxamento. “O objetivo maior dos métodos é alcançar a tranquilidade, por isso a importância de se estar em um ambiente silencioso, que irá facilitar a conexão com a criança e contribuir para uma prática positiva”, acrescenta.
Entre mães e bebês, também podemos adicionar as massagens (entre as técnicas mais conhecidas, a Shantala) que, além de estreitar o vínculo entre mãe e filho, proporcionará relaxamento e bem-estar através do toque na pele – transmitindo amor, segurança e conforto, relata Marina.
Se considerarmos, entretanto, a meditação como atenção plena (a mindfulness), ela pode ser realizada durante qualquer atividade do dia a dia das crianças: por exemplo, trocando a fralda, dando banho e estando atenta e presente momento a momento. Se pensamentos e distrações vierem durante a tarefa, basta que a mãe perceba e retorne a atenção para o que está fazendo no momento presente.
“Dessa forma, a relação ficará muito mais rica, uma mãe mais calma e presente estará mais atenta às necessidades do bebê, podendo atendê-las mais prontamente, evitando estresse para ambos”, complementa Veena.
Amamentação e meditação: tudo em comum!
Até aqui, já compreendemos que a atividade feita de forma consciente, isto é, presente, pode ser chamada de meditação – como explica Marina. “Estamos em um estado meditativo quando estamos conectados à ação, e por isso, pode ser feito em qualquer situação de nossas vidas”. Por isso mesmo que a prática da meditação pode ser uma grande aliada na amamentação.
“Para muitas mulheres, o aleitamento é um processo extremamente desafiador, que exige muita entrega e persistência. A meditação atua reduzindo a ansiedade e proporcionando bem-estar, tanto para a mãe quanto para o bebê. Ambos se beneficiam da prática quando entram em um estado de tranquilidade e relaxamento”, explica a especialista.
Ao estar atenta, presente com o corpo, os sentimentos, os pensamentos, olhando nos olhos do bebê e percebendo suas reações, ambos se beneficiarão muito mais desse momento – do que se a mãe estiver distraída, olhando o celular ou assistindo televisão -, exemplifica Veena.
E podemos também pegar uma “carona” com os hormônios liberados pela amamentação. “O aleitamento libera ocitocina, que é o hormônio do vínculo, do contato e da conexão. É um momento muito propício para praticar o estado de presença meditativa”, pontua a professora.
Uma técnica simples…
Ok, sabemos que a meditação é importante e benéfica, mas como colocá-la em prática? Como mencionamos, algumas técnicas requerem a ajuda de um profissional, mas Veena nos dá dicas básicas para iniciarmos um processo meditativo:
- Comece prestando atenção à respiração por um minuto (pode usar um timer).
- Alinhe a postura e perceba o ar entrando e saindo do corpo. Observe que, nesse minuto, os pensamentos e emoções irão surgir (não brigue com eles, está tudo certo). Cada vez que isso acontecer, apenas retorne a atenção à respiração de novo e de novo.
- Esteja presente observando, deixe os pensamentos passarem, como se estivesse olhando as nuvens passando no céu. Às vezes são nuvens leves – às vezes carregadas -, mas o céu azul sempre está lá, acima delas. O céu azul é o estado de meditação, a paz, a quietude, deixe as nuvens passarem…
Tudo requer disciplina…
Apesar de ter algumas técnicas muito simples, a meditação ainda requer disciplina. “Nossa mente está constantemente divagando, indo para o passado, para o futuro, julgando, classificando, criticando e analisando. Conseguir manter a concentração e um estado ‘neutro’ requer treino – quanto mais se pratica maiores os benefícios”, explica Veena.
Além disso, quando falamos da maternidade, é preciso também adequar a prática às necessidades de cada família. “Todo bebê é único e possui uma rotina de acordo com o seu lar. No pós-parto, que é um período de grandes mudanças e adaptações, é importante que a mãe tenha paciência para conseguir organizar uma rotina aos poucos, sem tantas regras e cobranças”, acrescenta Marina.
Algumas dicas da especialista para conseguirmos arranjar um tempinho livre enquanto se cuida de um recém-nascido são: criar um ritual de sono adequado para o pequeno, dar banhos sempre no mesmo horário e proporcionar uma rotina estável. Assim, torna-se mais fácil para ele se sentir seguro.