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Eritroblastose fetal: a incompatibilidade sanguínea entre mãe e bebê

Entenda o que é a também chamada doença hemolítica do feto e quais são as formas de prevenção adotadas ainda durante a gravidez

Por Isabelle Aradzenka
31 mar 2023, 12h38

Para a grávida, determinar a tipagem do sangue é uma etapa obrigatória do pré-natal, visto que, caso o bebê herde uma classificação diferente da de sua mãe, o organismo dela pode gerar uma reação inflamatória. “Nós chamamos isso de incompatibilidade sanguínea”, diz Matheus Beleza, obstetra e diretor médico da Maternidade Brasília.

Os padrões estabelecidos de tipos de sangue que conhecemos variam de acordo com proteínas que se encontram em nossas hemácias (células sanguíneas). Existem os grupos A, B, AB e O, e o fator Rh, dividido em positivo e negativo. “Essa divisão permite identificar quais famílias são compatíveis ou não, levando em conta suas características mais próximas”, pontua o obstetra.

A incompatibilidade entre mãe e bebê é definida toda vez em que há diferença entre os tipos sanguíneos de ambos. Existem inúmeros fatores capazes de provocar reações inflamatórias em função disso, mas o principal e o mais grave é quando há uma distinção de fator Rh, ou seja, a mãe é Rh negativo e o filho herdou do pai o Rh positivo.

“Gestações com incompatibilidade de Rh, nas quais não são realizadas as medidas preventivas, podem ser consideradas de risco”, alerta Carolina Bonet Bub, hemoterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein. É possível que o bebê evolua para um quadro de anemia grave, conhecido como eritroblastose fetal ou doença hemolítica do feto.

A prevenção seria o cuidado mais importante para evitar a doença. A seguir, reunimos as principais informações sobre o quadro e como proceder após o diagnóstico.

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(Alina Kotliar/Getty Images)

O que é incompatibilidade de Rh na gravidez?

Quando o sangue da gestante é Rh negativo, isso quer dizer que ela não apresenta uma determinada proteína ao redor de suas hemácias. Caso seu parceiro seja Rh positivo – isto é, possua a molécula que o corpo da mãe não reconhece -, há risco de o filho herdar a tipagem do pai. “Se a criança for Rh positivo e houver uma troca de sangue entre mãe e bebê durante a gravidez, é possível desenvolver uma incompatibilidade”, explica Matheus.

A interação do sangue Rh negativo da gestante com o Rh positivo do filho, em grandes quantidades, gera uma sensibilização. Em outras palavras, o corpo da mulher promove uma resposta de defesa, com anticorpos capazes de atravessar a barreira placentária e atacar as hemácias do bebê intraútero. “Isso leva à destruição dessas células e a um quadro de anemia hemolítica no feto, a eritroblastose fetal”, afirma Rodrigo Ruano, especialista em Medicina e Cirurgia Fetal e chefe de serviços da linha materno-infantil da rede Americas, do UnitedHealth Group Brasil.

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Vale lembrar que, se a mãe for Rh positivo e o pai Rh negativo, não há risco nenhum. Nesse caso, mesmo que o filho herde ou não a proteína, não acontecerá um reconhecimento anormal por parte do organismo da gestante.

É essencial que mulheres Rh negativo cujos parceiros sejam Rh positivo façam acompanhamento cuidadoso com profissionais. “Não conseguimos saber se o bebê herdou a tipagem do pai, Rh positivo, ou da mãe, dentro da barriga. É necessário fazer uma observação através de ultrassonografias e exames de sangue da gestante, que podem apontar laboratorialmente achados anormais de anticorpos”, completa Matheus.

Sintomas da eritroblastose fetal

Caso os anticorpos produzidos pela mãe Rh negativo ultrapassem a barreira placentária e destruam as hemácias do bebê, o transporte de oxigênio para os tecidos da criança será prejudicado. “Se isso não for tratado no útero, há chance de o filho desenvolver insuficiência cardíaca por anemia grave – falta de sangue – e vir a falecer. A mortalidade é muito alta se não for feito nada”, conta Rodrigo.

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A doença também pode causar icterícia (presença de cor amarelada na pele e nas mucosas) e retenção de líquido após o nascimento. “Os bebês muito edemaciados (inchados) devido à eritroblastose fetal são conhecidos como bebês hidrópicos”, comenta Carolina.

Mulher branca que acabou de dar à luz deitada com o recém-nascido de touca e manta sobre seu peito.
(kieferpix/Getty Images)

A primeira gravidez apresenta menos risco de eritroblastose?

Sim! Em geral, o primeiro filho tem menos chance de desenvolver a eritroblastose fetal, pois ainda não houve uma sensibilização do corpo da mulher. Ou seja, ela ainda não produziu anticorpos contra a incompatibilidade do fator Rh. “Quando a sensibilização já ocorreu – a mãe teve contato com o sangue do primeiro bebê – há grande risco da doença”, explica a hemoterapeuta. Nesse caso, em uma segunda gravidez, qualquer troca de células sanguíneas através placenta irá ativar a produção dos anticorpos.

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Além disso, a cada gestação, a doença se tornará mais grave. “Vamos supor que a paciente teve uma sensibilização durante o parto em sua primeira gravidez. Na segunda, com um bebê Rh positivo, a manifestação da condição será intraútero, na 28° ou 32° semana gestacional. Na terceira, a eritroblastose será mais grave e precoce, com 20 ou menos semanas”, alerta Rodrigo.

Acompanhamento da grávida com Rh negativo

Uma vez que a gestante já teve a sensibilização, ela precisa ser acompanhada em um centro de referência em medicina fetal. “Nós ficamos atentos quando existe uma alteração laboratorial na produção de anticorpos da mãe e sinais de anemia no bebê dentro da barriga, que demonstram uma provável incompatibilidade de fator Rh”, explica Matheus.

O feto é monitorado com ultrassonografias rotineiras do fluxo sanguíneo cerebral, para avaliar se as funções estão normais. “Se a corrente de sangue estiver com a velocidade aumentada, isso indica risco de anemia”, completa Rodrigo. Caso seja necessário, os médicos podem realizar um procedimento de transfusão de sangue (lavado e adequado para o bebê) intraútero, entre a 18° semana até o final da gestação.

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Como evitar a eritoblastose fetal?

A prevenção da doença ocorre através de um bom pré-natal, com a checagem do tipo sanguíneo da mãe e a pesquisa da presença de anticorpos em seu sangue. Diante da possibilidade de incompatibilidade, o acompanhamento é feito com as ultrassonografias e a administração de uma injeção.

A profilaxia (medida de prevenção) para a eritroblastose fetal é realizada com a vacina anti-D – nome popular para a imunoglobulina anti-D, um anticorpo que age contra o fator Rh da grávida -, por volta da 26° ou 28° semana gestacional. A vacina é uma medida para evitar a sensibilização da mãe, e deve ser repetida em todas as gestações. Ela neutraliza anticorpos que possam vir a se desenvolver antes ou após o parto, e previne uma resposta imune às células do bebê.

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