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Como escolher o melhor obstetra para sua gravidez

Um guia para ajudar a selecionar esse profissional tão importante, que acompanhará a gestação e terá um papel fundamental na chegada do bebê.

Por Vanessa Gomes
Atualizado em 18 jan 2023, 18h31 - Publicado em 12 abr 2022, 13h08

“Preciso marcar um obstetra”. Esse é um dos primeiros pensamentos de mães e pais ao verem o sinal positivo no teste de gravidez. Na verdade, em casos de gestações desejadas e planejadas, o ideal é que esse passo, de encontrar um profissional que vai acompanhar a família ao longo dos nove meses, seja dado até antes.

“É interessante, se possível, marcar uma consulta antes de começar a tentar engravidar, não só para diminuir riscos pré-concepcionais, investigando algumas doenças básicas, com exame de sangue e detecção de condições como hipotireoidismo e diabete gestacional, entre outras, mas também, caso seja necessário perder peso, fazer um controle de pressão, iniciar algum tipo de atividade física, etc. Assim, há uma janela de tempo para se preparar”, orienta a obstetra e ginecologista Anna Beatriz Herief, da clínica de atendimento multidisciplinar Casa Pitanga (RJ). O profissional também já poderá prescrever o ácido fólico, vitamina que deve começar a ser tomada idealmente pelo menos três meses antes da concepção.

Além disso, claro, você ganha mais tempo para conhecer o profissional, saber se ele está alinhado com a maneira como você encara a gravidez, se criam uma empatia e também para construir uma relação de confiança, que, segundo o obstetra e ginecologista Alexandre Pupo, do Hospital Albert Einstein e do Sírio Libanês, ambos em São Paulo (SP), é um dos pré-requisitos para você se certificar de que fez uma boa escolha.

“É o mais importante, sempre, em toda relação de médico e paciente. Se não há confiança, é melhor procurar outro médico”, orienta. “Grande parte dos conflitos na área médica ocorrem por desconfiança entre as partes”, afirma.

Se você já está grávida e não marcou o obstetra com tanta antecedência, no entanto, não é motivo para pânico. O fundamental é que você faça o pré-natal a partir de agora, com cuidado e atenção. “Não precisa agendar correndo, assim que der o resultado positivo; pode agendar entre 6 e 8 semanas, mas faça isso assim que puder”, indica Anna Beatriz.

Por onde começar?

Isso também vai depender muito dos desejos que você tem para o pré-natal e para o parto. Parece exagero falar disso, se ainda nem dá para notar a barriga ou sequer sentir o bebê, mas, quanto antes você se informar sobre as vias de nascimento possíveis e as vantagens e desvantagens de cada uma delas, além das necessidades e indicações reais, mais fácil será identificar o tipo de profissional que a deixará mais confortável e segura ao longo de todo o período. Aliás, é um sinal importante quando o obstetra já menciona a palavra parto e fala do assunto logo no primeiro encontro.

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“É importante, já no início, ter uma conversa detalhada sobre parto para que o profissional entenda as expectativas da mulher sobre isso e também tire as primeiras dúvidas dela”

Anna Beatriz Herief, obstetra e ginecologista da Casa Pitanga

Nesse primeiro encontro, é possível – e recomendado – falar sobre pontos que vão ajudar a grávida a entender como será a conduta do especialista. “Pergunte se ele faz episiotomia, o que acha da manobra de Kristeller, até quantas semanas de gestação ele espera um trabalho de parto espontâneo… Se o médico disser que talvez precise de um corte, de uma ‘ajudinha’ para empurrar o bebê, que é melhor parir deitada, que parto sem analgesia é muito selvagem e não precisa disso, você já consegue ver que é um profissional que tende a intervir mais no processo”, sugere. Então, se estiver buscando um atendimento diferente, vai precisar partir para outras opções.

Se o seu objetivo, a princípio, for garantir a analgesia ou mesmo o seu direito de escolher uma cesárea, garanta que o médico seja transparente e forneça todas as informações sobre riscos e benefícios de qualquer decisão – e que apoie a sua vontade, desde que esteja alinhada com as necessidades médicas e com o melhor que puder ser feito para proteger a sua saúde e a do bebê.

Mas não é só isso, é claro. Antes de agendar a consulta, pesquise bastante e se informe o quanto puder. Para Pupo, é difícil que a grávida, a não ser que seja da área da saúde, avalie o conhecimento do médico. Ele orienta, então, uma pesquisa do currículo do profissional. “Coloque o nome nos sites de busca, nos sites do Conselho Regional de Medicina (CRM) ou no Conselho Federal de Medicina (CFM), avalie se ele, de fato é médico, se é da especialidade dele, veja se encontra relatos de como ele atende, busque conhecer, minimamente, a formação profissional dele”, lista.

Segundo o obstetra, a família deve buscar a chancela de instituições competentes, como a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “São salvaguardas de que você está nas mãos de uma pessoa que tem o conhecimento necessário para te acompanhar. É raro uma paciente brasileira pesquisar o médico, mas isso ajuda a entender o nível de conhecimento técnico profissional”, pontua.

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Dá para seguir com o ginecologista que já te atendia?

Se ele também atender a área de obstetrícia, segundo Pupo, pode ser a opção ideal. “É o profissional mais indicado, salvo se ele não fizer obstetrícia ou se não se sentir apto a cuidar daquela gestante por qualquer razão que seja”, diz. Isso porque, teoricamente, o médico já conhece todo o histórico e já tem uma certa relação de confiança.

Mas isso não é regra e varia muito a cada caso. “Seguir com o ginecologista anterior pode ser uma boa ideia, se ele praticar obstetrícia baseada em evidências científicas e se isso ficar bem claro”, opina Anna Beatriz. A melhor maneira de saber como é o atendimento desse médico a gestantes e como ele pratica a assistência ao parto, é tendo uma conversa franca. Lembra da confiança? Então. Vale também conversar com pacientes que já tiveram seus bebês com ele e até com a secretária, para entender como é a disponibilidade.

Outro ponto a ser observado, segundo a médica, é a rotina. “Em geral, médicos que atendem consultas ginecológicas têm uma agenda planejada. Quem atende partos não costuma ter uma rotina certinha; pelo contrário, tem uma agenda bem caótica”, pontua.

Mulher fazendo pré-natal

Procurar por um obstetra do convênio é cilada?

Depende do que você quer. Se busca um atendimento humanizado e pretende ter um profissional que aguarde o trabalho de parto espontâneo, que atenda você a qualquer hora, que esteja disponível e que garanta que estará lá na hora em que seu trabalho de parto começar, seja lá quando for, é melhor repensar. Não pela qualidade do profissional. “Temos excelentes profissionais em qualquer área de atuação médica no Brasil, seja no ambiente público, privado, convênio… O que acontece, na verdade, é que o convênio é um agente intermediário e, muitas vezes, há uma interferência que atrapalha”, diz Pupo.

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Se você estiver em busca de um atendimento padrão, para solicitar exames e fazer um acompanhamento e, depois, quem sabe, ter um parto com o médico de plantão da maternidade conveniada ao seu plano, essa é uma solução. Nesse caso, confira se está no período de carência e que tipos de exames e quais maternidades o seu convênio cobre, para não ter surpresas adiante.

No entanto, se o objetivo for buscar um atendimento humanizado e, principalmente, um parto natural, o caminho pelo plano de saúde pode ser mais difícil. “O obstetra de plano recebe muito pouco pela assistência ao parto. O valor, normalmente, é bem similar ao que ele recebe por uma cesariana, que ele faz em meia hora. O profissional consegue fazer dez cesarianas num mesmo dia e existem partos que precisam da disponibilidade do médico por mais de 24 horas”, aponta Anna Beatriz. “Ninguém vai se colocar disponível 100% para atender a um parto por incontáveis horas pelo mesmo valor que o plano de saúde paga uma cesariana. Isso já é muito sabido. É extremamente difícil encontrar um médico que atenda parto humanizado de verdade pelo plano de saúde”, afirma.

WhatsApp e milhões de dúvidas: qual a disponibilidade do médico?

Quando uma mulher engravida, principalmente, pela primeira vez, são muitas as dúvidas e as preocupações que surgem no meio do caminho. Perguntas que podem parecer bobas ganham um peso enorme e isso é normal. Afinal, não é sempre que temos um ser humano sendo formado do zero dentro do nosso corpo e sendo afetado por toda e qualquer decisão que tomamos, desde o que comemos no café da manhã até se usamos salto ou se decidimos ou não ir a uma festa, entre outras tantas questões.

Por isso, é fundamental entender qual é a disponibilidade desse médico para ajudar você a esclarecer tudo isso, durante os nove meses. Ele é do tipo que dá o número de telefone? Permite que você envie perguntas pelo WhatsApp? Cria um grupo com as pacientes? É importante esclarecer tudo isso no início, em uma conversa sincera, para não criar expectativas frustradas e ficar na mão quando você mais precisa.

Claro que tudo deve ter um bom senso. Também não é legal ficar enviando mil mensagens para o obstetra e esperando que ele responda sempre, imediatamente. É preciso ponderar o que é urgente e também saber que, além de ter vida, como qualquer outro ser humano, o obstetra, principalmente o que atende a partos espontâneos, têm uma agenda apertada. Tudo isso deve ser combinado logo no início, para ninguém sair decepcionado da relação.

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Posso trocar de médico no meio do caminho?

Se algo acontecer ou tomar rumo inesperado, você pode trocar de médico. É uma decisão, claro, a ser muito bem pensada porque implica em uma maior dificuldade, principalmente se você já estiver em uma idade gestacional adiantada. “Você pode mudar de ideia a qualquer momento, inclusive no momento do trabalho de parto. É claro que quanto mais próximo ao nascimento, mais complexa é essa mudança porque quem vai passar a acompanhar você não conhece o seu histórico e pode, eventualmente, não concordar com algumas atitudes tomadas pelo outro médico. Por isso, o ideal é conversar primeiro com o profissional para ver se é possível esclarecer as diferenças e redirecionar essa relação entre médico e paciente”, explica Pupo.

Se for impossível, mude. E isso pode acontecer com 10, 20, 38, 40 semanas.“Quanto mais tarde, mais difícil é achar um profissional que tope atender e que tenha data disponível”, pondera Anna Beatriz. A qualquer sinal de alerta de que o médico não vai atender seu parto ou pratique violência obstétrica, busque outro, mas seja clara e informe o profissional que está trocando.

“As pessoas contam com aquele número de pacientes por mês para suas agendas. Então, é transparente comunicar e trocar, sim, porque o nascimento só acontece uma vez. Aquele bebê só tem uma chance de vir ao mundo e a maneira como ele chega pode impactar na sua vida, na saúde física e mental, no vínculo materno por toda a vida. E isso não volta, então, não dá para se arrepender depois”, reforça.

grávida sentada em cama de hospital
(Cavan Images/Getty Images)

Preciso ter um plano B?

Acertou o obstetra, ele atende a todas as suas expectativas, tem uma disponibilidade que te deixa satisfeita, faz com que você se sinta segura em relação aos cuidados com a sua saúde e a do bebê e com as suas escolhas para o parto? Muito bem! No entanto, é importante ter sempre um plano alternativo, para o caso de os acontecimentos não saírem exatamente como você planeja. Imprevistos acontecem e, infelizmente, isso não foge à regra na obstetrícia.

Diferente de muitos lugares, como Canadá e vários países da Europa, o Brasil tem esse modelo obstétrico, pelo menos no ambiente particular, em que o mesmo médico que atende o pré-natal é, necessariamente, o que vai assistir o parto. “Em muitos lugares lá fora, as mulheres fazem um pré-natal compartilhado com diversas profissionais e, no fim, vai ser atendida pelo profissional de plantão – e isso é normal”, exemplifica a obstetra. “O problema está no fato de o sistema empurrar para a violência, para a cesariana desnecessária, e não em não ser atendida pela pessoa que fez o pré-natal”, diz ela.

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A questão é que, principalmente no sistema particular, a expectativa de ser atendida dessa forma, com exclusividade, acontece e isso acaba gerando uma sobrecarga tanto para o profissional, como para a mulher. “E se aquela pessoa adoecer ou se tiver algum problema muito grave e não puder atender ao parto? Gera uma frustração descabida em quem está parindo. A maioria das mulheres não está preparada para ser atendida pelo médico backup [de retaguarda], se preciso for. Isso precisa começar a ser normalizado”, reforça a especialista.

Já para Pupo, o ideal é, sim, que a mulher seja atendida no parto pelo mesmo médico que fez o pré-natal – a não ser que paciente e obstetra tenham acordado algo diferente durante o pré-natal. “O ideal, do ponto de vista de apoio psicológico, emocional e até pelo conhecimento que esse obstetra adquire em relação à gravidez ao longo de todo o pré-natal, é que ele esteja presente”, diz ele. Na avaliação do obstetra, uma opção viável, caso o médico não possa, seria ter um outro profissional da equipe ou de confiança dele, com as informações passadas pessoalmente por ele para atender a gestante.

E quem vai ser atendida pela rede pública?

Quando a mulher faz o pré-natal e o parto pelo Sistema Único de Saúde (SUS), provavelmente, não será atendida pelo mesmo profissional nas consultas e nos partos, que são feitos pelos plantonistas de obstetrícia da maternidade de referência – geralmente, a mais próxima do endereço da paciente.

“Em um hospital público, muitas vezes, esse médico está atendendo a quatro, cinco, seis mães em trabalho de parto ao mesmo tempo e, por mais que ele queira, não consegue dar toda a atenção”, relata Pupo. Isso sem falar nas condições de trabalho desses profissionais de saúde e na falta de recursos, o que faz com que o sistema tenha suas falhas e suas dificuldades.

A obstetra Anna Beatriz aposta na coleta do máximo de informações possível por parte da gestante – e também de seu acompanhante. “Não deveria ser assim, mas, quanto mais informação essa mulher tiver, mais segura ela estará para passar por todo o processo de trabalho de parto e parto, conseguindo, talvez, se proteger com um pouco mais de consistência de violência obstétrica. Se ela conseguir ter uma doula, isso melhora um pouquinho”, recomenda.

No fim das contas, a informação é mesmo a melhor maneira de se proteger e de buscar o melhor atendimento durante essa jornada tão bonita, mas também tão desafiadora, que é a gravidez. Mas atenção às falsas informações! Busque sempre fontes confiáveis, converse com pessoas que já passaram pelas situações que você está vivendo agora e principalmente tente criar essa relação de confiança com o profissional escolhido. E se você está aqui, lendo sobre o assunto, já é um sinal de que procura fazer o melhor pelo seu bebê. O primeiro passo na procura pela assistência que você precisa e merece já foi dado.

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