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As principais doenças respiratórias em crianças – e como lidar com elas

Tosse, nariz entupido, febre… Esses são sintomas de várias infecções respiratórias. Entenda quando é hora de ir ao hospital e saiba como evitar o problema

Por Vanessa Gomes
24 jul 2022, 10h00

Basta chegar a temporada de outono/inverno e pronto! Começam a aparecer a tosse, os espirros, o nariz escorrendo… Agora, com a pandemia – que, é sempre bom lembrar, ainda não acabou -, as preocupações são redobradas. Será que é Covid-19? Preciso fazer o teste? Embora a infecção por Sars-Cov-2 seja, sim, motivo de atenção, existem várias outras doenças respiratórias comuns na infância.

“É possível caracterizar como infecções respiratórias agudas aquelas que podem levar à insuficiência respiratória aguda, condição em que há a necessidade de suplementação de oxigênio. Elas são a principal causa de internações em crianças de qualquer idade”, explica o pediatra Rubens Cat, chefe do Departamento de Pediatria do Hospital das Clínicas em Curitiba (PR).

Principais doenças respiratórias da infância

De acordo com o especialista, são elas:

Bronquiolite Aguda Viral

“Em lactentes, que são bebês menores de dois anos, é a principal causa de internações, mas tem baixa mortalidade”, diz o pediatra. A maioria dos casos se dá em função do contato com o vírus sincicial respiratório (VSR) e com o rinovírus.

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Pneumonia

A mais grave e com maior risco de mortalidade. “É a principal causa de morte não externa [não causada por intervenções, como homicídio ou acidentes] em crianças”, aponta Rubens. Segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 39 segundos uma criança morre no mundo vítima da pneumonia. Dados de estudos divulgados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) preveem que, até 2030, 6,3 milhões de crianças podem perder a vida em decorrência do problema.

Crupe Agudo Viral

Crupe é um termo usado para diversas infecções respiratórias em crianças, resultantes da inflamação das vias aéreas superiores e inferiores. Entre os sintomas estão rouquidão e uma tosse forte, característica. Casos graves precisam de atendimento hospitalar.

Exacerbação da asma

Motivada pela infecção das vias aéreas por vírus, sendo o vírus sincicial respiratório (VSR) e o rinovírus os mais recorrentes. “Como a asma é a doença crônica mais comum em crianças e adolescentes, a exacerbação dela é a principal causa de internações na infância e na adolescência”, explica o médico.

Quando ir ao pronto-socorro?

Os sintomas da maior parte de todas essas doenças – e de várias outras que afetam o trato respiratório – podem ser muito parecidos. Mas como diferenciar, por exemplo, uma gripe ou um resfriado comum de algo mais grave, como a bronquiolite ou até a pneumonia, que em certos casos precisa de atendimento urgente?

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“Os sinais de gravidade, que precisam de atendimento médico, são: respiração muito ofegante e rápida, coloração azulada em volta da boca e de extremidades – que é a cianose -, gemência, extrema irritabilidade, sonolência, bebês que ficam inconsoláveis mesmo no seio da mãe, afundamento da região do pescoço e entre as costelas, conhecido como tiragem, e batimento da asa do nariz [quando as narinas se alargam, abrindo e fechando várias vezes]. Caso a criança já saiba falar, provavelmente vai dizer que está com dificuldade para respirar”, detalha o pediatra.

mãe com uma mão na testa do filho deitado e com a outra segurando um termômetro
(ArtistGNDphotography/Getty Images)

Um ponto importante e que costuma causar muitas dúvidas nas famílias é a febre. Trata-se de um dos sintomas que mais assustam, sobretudo os pais de primeira viagem. Apesar disso, a recomendação é manter a calma e observar. “A febre não é sinal de gravidade para nenhuma destas condições e não deve ser motivo de ida imediata a pronto-atendimentos”, orienta o médico. “Caso a criança fique relativamente bem quando febril e aceite pelo menos a ingestão de líquidos, pode permanecer em casa e aguardar até três dias”, diz. Assim, há tempo para agendar a consulta com o pediatra de confiança. “Com esta conduta, é possível evitar em até 70% a busca por pronto-socorros, bem como o uso de medicamentos sem necessidade, principalmente antibióticos”, afirma o especialista.

Se for preciso, para aliviar o desconforto, converse com o médico do seu filho e administre um antitérmico na dosagem e frequência prescritas.

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Como prevenir doenças respiratórias em crianças

É comum que as crianças tenham entre sete e dez episódios de resfriado por ano. No entanto, algumas medidas ajudam a prevenir ou a tornar as infecções mais brandas:

  • Investir no aleitamento materno e em uma alimentação saudável, com frutas, legumes e verduras
  • Seguir o calendário vacinal da criança e de todos os adultos da casa
  • Deixar os ambientes arejados e livres de alérgenos
  • Estimular atividades ao ar livre
  • Manter tabaco zero em casa
  • Fazer uma boa higiene das mãos
  • Ter tempo adequado e qualidade de sono
  • Incentivar uma boa ingestão de água
  • Fazer a higiene diária das narinas com soro fisiológico
  • Manter em dia as consultas periódicas com o pediatra
  • Evitar aglomerações
  • Usar máscaras em locais fechados (crianças devem continuar com o uso em salas de aula)

Remédios caseiros funcionam?

Chás, xaropes caseiros, mel… Será que aquelas receitas de avó, passadas de geração para geração, podem ajudar mesmo a prevenir e a tratar doenças respiratórias em crianças? A resposta é SIM! “Tratamentos caseiros são muito úteis para as infecções de vias aéreas como gripes, resfriados, infecções de garganta, ouvidos e rinossinusites, mas que não causem dificuldade para respirar”, orienta Rubens Cat.

“A higiene nasal é fundamental, assim como ingerir muito líquido. O mel alivia a tosse com catarro, mas atenção: só pode ser usado em crianças acima de 18 meses”, explica. Isso por conta do risco de contaminação por bactérias que causam o botulismo, uma intoxicação alimentar que afeta o sistema nervoso.

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Pessoa limpando o nariz de uma criança usando um lenço branco
(Halfpoint/Getty Images)

Isolamento social x doenças respiratórias

Depois de mais de dois anos de pandemia, o contato com os vírus ficou menor, o que pode ter, também, reduzido ou adiado o preparo do organismo para lidar com doenças comuns. “O que temos visto é uma frequência maior destas infecções, principalmente em crianças que nasceram durante a pandemia e naquelas que ainda não frequentavam escolas e creches antes dela”, diz o médico. “Estão praticamente o tempo todo com algum sintoma, como tosse, coriza, obstrução nasal, febre, entre outros. O isolamento prolongado pode ter diminuído ou deixado suas defesas não tão efetivas contra infecções virais tradicionalmente benignas e não tão duradouras e tão repetidas”, explica o pediatra.

“Para a maioria destas condições, não existe a indicação do uso de antibióticos que, sem dúvida, tem sido a principal iatrogenia [problemas de saúde causados por má conduta médica] em pronto-atendimentos, podendo acarretar sérias complicações”, salienta.

Covid-19: ainda estamos na pandemia

A verdade é que o coronavírus continua merecendo nossa atenção, inclusive com as crianças. Inicialmente, os pequenos não eram tão afetados ou sofriam menos com os sintomas. Por outro lado, uma parcela deles compõe um dos poucos grupos que ainda não são elegíveis para a vacinação – a forma mais eficaz de proteção contra a doença.

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“Estamos em um momento de menor gravidade, mas com número crescente de casos. Quanto mais casos houver, é inevitável o aumento das internações, complicações e mortes, pois trata-se de uma questão de bom senso e equivalência matemática”, diz o especialista.

Além de prevenir a contaminação e as formas graves da doença, diminuindo internações e mortes, a vacina também ameniza o risco da mais temida, grave e ainda rara complicação da Covid-19 na infância, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, que já acometeu 1.781 crianças no Brasil, com 117 mortes, sequelas e sintomas crônicos. “Pediatras e Sociedades de Pediatria têm um papel fundamental em esclarecer os pais e dar segurança a eles quanto à eficácia e à necessidade de vacinarmos o maior número de crianças e o mais rápido possível, para proteger nosso maior patrimônio, que são nossos filhos e netos”, diz o médico.

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