O que é o autismo? Veja as respostas das principais perguntas sobre o TEA
Tire as dúvidas sobre o diagnóstico e o tratamento do Transtorno do Espectro Autista e saiba por que é fundamental detectá-lo o quanto antes
Cada vez mais presente entre os diagnósticos, tanto de crianças quanto de adultos, o Transtorno do Espectro Autista ainda gera muitas dúvidas. O que é? Quais são os níveis? Sabe-se quais são as causas? Para responder a essas e outras perguntas, consultamos especialistas que explicaram os principais pontos sobre o assunto.
O que é autismo?
Trata-se de um transtorno do desenvolvimento do cérebro que afeta a criança já desde os primeiros anos de vida, especialmente em determinados aspectos:
- Linguagem: pode acarretar limitações na fala. Em casos extremos, não se consegue, de fato, progredir na comunicação verbal.
- Interações sociais: o isolamento é uma característica que se manifesta frequentemente. É comum a dificuldade em estabelecer relações sociais, que geralmente se dão por meio de interações curtas.
- Variabilidade comportamental: crianças com TEA exploram seus brinquedos de maneira restrita, focando apenas em um detalhe ou em uma função específica do objeto. Além disso, podem apresentar comportamentos repetitivos, intolerância a mudanças na rotina ou na disposição do ambiente.
Existem diferentes níveis de autismo?
Sim. De acordo com o DSM-5 (o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Pediatria), existem três níveis de classificação, diferenciados pelo suporte de que a pessoa necessita:
Nível 1 (leve): dificuldades para interação social e comunicação, mas há pouca necessidade de apoio.
Nível 2 (moderado): dificuldades mais acentuadas para interação e comunicação verbal e não verbal. Demanda um suporte substancial.
Nível 3 (severo): graves déficits de interação e comunicação. Necessita de apoio muito substancial para as tarefas do dia a dia.
Como é o diagnóstico? Como saber se meu bebê é autista?
Cabe a um psiquiatra ou neurologista infantil a tarefa de identificar o TEA com base em avaliações clínicas, a partir da observação do comportamento do pequeno e dos relatos familiares. Não existem testes laboratoriais capazes de apontar a alteração, mas o pediatra que acompanha a criança pode encaminhá-la a um especialista.
É por volta dos 3 anos de idade que as características do transtorno se tornam mais evidentes, mas alguns pesquisadores tentam identificar sinais precoces em bebês. Alguns pontos que fazem soar o alarme de risco são:
- O bebê não mantém o contato visual com quem fala com ele – muitas vezes, nem mesmo com a mãe durante a amamentação.
- Tentativas de brincadeiras, jogos ou mesmo vocalizações dos pais e familiares não costumam chamar a atenção da criança e a insistência chega a incomodá-la.
- A apatia e o isolamento nas relações sociais. Frequentemente, a criança prefere ficar sozinha, focada em objetos luminosos, sonoros ou movimentos repetitivos.
- Irritabilidade excessiva, sem causa aparente, também requer atenção, assim como mudanças no comportamento alimentar – recusa, vômitos recorrentes – e alterações de sono.
É importante ressaltar que esses sinais são apenas um alerta. Ao notar algum deles, a orientação é buscar o auxílio profissional.
O que causa o autismo?
Ainda hoje, as causas do Transtorno do Espectro Autista estão sendo investigadas, mas a sua origem genética, uma predisposição, não é mais questionada. Isso pode ser hereditário ou não – é possível que seja uma variação começando naquela pessoa.
Fatores intrauterinos também podem ter relação com o desenvolvimento do transtorno, sobretudo no primeiro trimestre da gestação (como o uso de ácido valproico, presente em alguns anticonvulsivantes), mas são a minoria dos casos, como explicou a neuropsicóloga Bárbara Calmeto em entrevista ao BEBÊ.
O TEA é mais frequente em meninos ou meninas?
O autismo é mais comum em meninos: a cada três ou quatro casos, apenas um é do sexo feminino.
Existe tratamento para o autismo?
Sim. O tratamento envolve uma série de terapias, com acompanhamento fonoaudiológico, psicológico e de terapeuta ocupacional. Pode haver ainda uma conduta medicamentosa, quando necessária. Alguns fatores ajudam nesse processo:
- Idade do início da intervenção: quanto antes o tratamento começar, melhor será o prognóstico. Daí a importância de identificar os sinais já nos bebês.
- Abordagem de tratamento adequada às características e limitações do paciente.
- Comprometimento da família durante esse processo e rigor na adesão ao programa terapêutico.
Como meu filho irá se desenvolver?
Não é possível prever. É importante sempre se esforçar para identificar as potencialidades da criança, encorajando-a a enfrentar desafios como qualquer outra. Além disso, não é recomendado adotar uma postura superprotetora, pois isso pode ser prejudicial.
Atualmente, sabe-se de muitos casos de indivíduos com TEA que conseguiram uma boa evolução nas áreas cognitiva, afetiva, social e motora, e que tiveram escolarização regular – com ou sem adaptação curricular.
Como funciona o aprendizado de uma criança autista na escola?
Não há um padrão, mas crianças com o transtorno podem enfrentar entraves em certas disciplinas. Muitos conseguem acompanhar uma escolarização regular, sem adaptações. Outros necessitam de modificações curriculares devido à dificuldade de assimilar conteúdos inerentes a certas áreas de conhecimento, como matemática e português. A presença de um acompanhante terapêutico na escola também se faz importante e é garantida por Lei.
Como a criança com TEA se relaciona como com os pais?
Apesar de, em geral, não demonstrar afeto da mesma maneira que as outras crianças, isso não significa que o pequeno com TEA não ame seus pais. Ele simplesmente se expressa de maneira diferente. O convívio permite que a família aprenda a identificar essas manifestações peculiares de carinho.
Qual a prevalência do autismo?
De acordo com uma pesquisa feita pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos publicada em 2023, 1 a cada 36 indivíduos de até 8 anos tem TEA no país. No Brasil, houve um aumento de 280% no número de estudantes autistas matriculados entre 2017 e 2021, segundo o Censo Escolar 2022.
Vale reforçar, porém, que prevalência é diferente de incidência: a primeira é referente a casos novos e já existentes e, a segunda, apenas a casos novos. Ou seja, a facilidade de diagnóstico e as mudanças do DSM-5, em 2013, em relação à classificação do transtorno, também contribuem para o crescimento.
Fontes:
Cíntia Guilhardi, Claudia Romano e Leila Bagaiolo, psicólogas e diretoras do Grupo Gradual, instituição voltada para o tratamento e a inserção da criança autista na sociedade; Fernanda Braga de Araújo, psicóloga, psicanalista, diretora educacional da Trilha – Unidade de Integração, escola de educação dedicada ao ensino de crianças especiais, em São Paulo.