O universo dos curta-metragens é vasto e cheio de preciosidades. Mas nem sempre os mais legais chegavam por aqui e acabávamos assistindo pela internet com a qualidade duvidosa e sem legenda ou dublagem.
A boa notícia é que com a vinda do Disney+ para Brasil, no dia 17 de novembro, muitos curtas bacanas da Pixar aportam junto com a estreia da nova plataforma de streaming.
Curtinhos, eles aproveitam cada segundo de vídeo para passar a lição da história sempre de maneira muito objetiva. E isso pode ser uma vantagem, já que nem todas as crianças conseguem ficar atentas durante um longa inteiro. E, cheio de significados, os curtas também costumam emocionar muito os pais.
Dois deles, aliás, conquistaram nosso coração logo de cara. “Float” e “Loop” fazem parte do projeto Sparkshorts, onde a Pixar convida seus artistas a compartilharem histórias pessoais, buscando tramas que tragam mais diversidade e novas abordagens ao catálogo da Disney.
São seis no total, mas os dois citados estarão disponíveis já na data de lançamento e causaram comoção quando saíram nos EUA, em novembro do ano passado. Não é pra menos: as duas tramas tratam sobre o autismo e o tema não costuma ser recorrente em animações.
Nós assistimos aos dois curtas e contamos a seguir nossa impressão sobre cada um deles:
Loop
Em “Loop”, a delicada trama da diretora Erica Milsom (ativista muito engajada na inclusão de pessoas com deficiência) acompanha uma menina chamada Renee, de 13 anos, que está dentro do espectro autista.
Apaixonada por canoagem, ela acaba entrando numa pequena aventura com Marcus, um menino que nunca tinha se relacionado com uma criança que não falasse.
Durante todo o caminho, a frustração de Marcus em não conseguir se comunicar com Renee vai dando lugar a um entendimento mútuo. A dificuldade em lidar com o diverso, com o não esperado, conduz toda a narrativa, mas o estranhamento vai se dissipando quando a empatia entra em cena.
Os respiros que envolvem estímulos sensoriais são bonitos e significativos, como quando ela se sente bem tocando nas folhagens ou quando ambos se animam com o eco dentro de uma caverna.
O enquadramento das cenas, inclusive, traz uma poesia em si, uma vez que foi estudado para te colocar, ora sob a perspectiva da protagonista que tem dificuldade em fazer contato visual, ora como um espectador fora do barco – trazendo a sensação de não fazer parte do universo da menina.
Este exercício de colocar-se no lugar do outro e tentar compreender que nem todo mundo reage da mesma maneira é o que os pequenos aprendem desta história cativante.
Vale dizer que Renee é o primeiro personagem protagonista não-verbal da Disney, que teve a sensibilidade de trazer uma jovem dentro do espectro, Madison Bandy, para dublar a personagem.
Erica, que além de diretora, também foi roteirista do curta, fez uma grande pesquisa para a trama e teve a consultoria da Autistic Self Advocacy Network, uma rede de especialistas em autismo, o que ajudou a história a ter um peso de realidade e verossimilhança. Aqui contamos mais sobre este bastidor de pesquisa para o filme.
Float
Já em “Float”, um pai tenta a todo custo adequar o filho ao universo esperado das outras crianças. Numa metáfora muito potente, o bebê flutua como sugere o título, tornando-a alvo da atenção hostil e estranhamento dos vizinhos. O pai, embaraçado e com medo do mundo rejeitar seu pequeno, faz de tudo para protegê-lo e garantir que “ande” como todos os outros de sua idade.
Em um simbolismo que faz marejar os olhos, o homem coloca pedras dentro da mochila para que o pequeno fique preso ao chão e não voe assustando as outras pessoas. A estratégia dá errado, o garotinho escapa no playground e o resultado, você já deve imaginar: ele fica “pesado” demais.
Sem dar spoilers, porque realmente o curta vale a pena ter suas subjetividades analisadas individualmente, a trama tem um bastidor muito tocante (que já contamos aqui!).
Apesar de não ser explicitamente sobre o autismo, como em “Loop”, o diretor e roteirista Bobby Rubio colocou muito de sua experiência pessoal como pai de Alex, um garotinho diagnosticado no espectro.
“No filme, o pai ama o filho sem restrições e quando olha pra sociedade isso fica ‘borrado’. E ele tem que pensar ‘eu concordo com isso’ ou ‘eu não me importo com o que os outros dizem e vou deixar meu filho ser quem ele é?'”, conta Rubio, na foto abaixo com Alex. Pra saber a resposta, você tem que assistir!
Outro fator que agrega ainda mais diversidade ao curta é o fato dos personagens principais serem asiáticos como o diretor. “Eu não sei se as pessoas gostariam de ver um personagem filipino americano. Isso me acertou em cheio. E eu pensei ‘Ok, eu vou fazer isso. Eles serão filipinos americanos e eu vou contar a minha história'”, relata ele neste vídeo abaixo, que revela seu processo de criação.
Há quem diga que, além da metáfora para o autismo, existe uma leitura sobre pertencimento e raça nas entrelinhas da trama.
Seja como for, o curta consegue impactar profundamente, porque é fácil encontrar um eco dentro da gente no sentimento do pai. Afinal, sempre vamos querer proteger os filhos das dores e rejeições do mundo, esperando que um dia, todos possam enxergar nossas crianças do mesmo jeito que nós as vemos: especiais e únicas.
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