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Parentalidade positiva: como usar o conceito em ações do cotidiano

Saiba de que forma você pode aplicar a ideia dentro de casa e dar os primeiros passos em direção a uma criação infantil baseada na gentileza e no respeito.

Por Ketlyn Araujo
Atualizado em 28 jun 2021, 12h00 - Publicado em 18 jun 2021, 16h16
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 (cokada/Getty Images)
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Uma educação baseada na firmeza e na gentileza, sem punições ou agressões físicas e verbais. Em suma, é disso que se trata a disciplina positiva ou parentalidade positiva, conceito esquematizado pela terapeuta Jane Nelsen na década de 80, que tem como base teorias da psiquiatria e psicologia formuladas pelos profissionais austríacos Alfred Adler e Rudolf Dreikurs.

Com o avanço da tecnologia científica e com o passar do tempo, a neurociência, graças a muita pesquisa sobre o desenvolvimento do cérebro, hoje já é capaz de provar que uma educação pautada pelo respeito e pelo amor é bastante benéfica para crianças e adultos – é o que fala a psicopedagoga especialista em disciplina positiva Ge Gasparini, que é mãe e atua na área da educação há 20 anos.

“O maior benefício [da disciplina positiva] está na construção do vínculo afetivo, já que participar da vida dos nossos filhos através de uma relação baseada no acolhimento e confiança torna tudo mais fácil. Ensinar para a criança que guiaremos a sua educação por um caminho gentil, com amor e respeito, fará com que ela se torne um adulto livre de feridas emocionais”, explica a profissional. Para ela, vale a máxima: ‘quando meu filho tiver um problema eu quero que ele corra para mim, e não de mim‘.

O psicólogo especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami Alexander Bez, completa ao constatar que uma relação entre pais e filhos ausente de traumas emocionais proporciona ao indivíduo um maior equilíbrio emocional.

“Uma mente saudável promove a validação e revalidação sentimental contínua, o que favorece para que essa criança tenha personalidade própria e esteja preparada para enfrentar situações turbulentas e frustrações que possam surgir no decorrer da vida e, consequentemente, absorvendo menos os impactos negativos dos conflitos”, diz ele.

Disciplina positiva X punitivismo

Alexander ressalta que, embora a parentalidade positiva permita que as crianças assumam pequenas responsabilidades dentro de casa e tenham liberdade para tomar determinadas decisões (de acordo com a idade e maturidade), a técnica exige esforço e dedicação constantes por parte dos responsáveis, que devem estar emocionalmente disponíveis para uma criação que foge do superficial.

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Isso não significa uma ausência de limites dentro da disciplina positiva. Ao contrário do que acontece em um ambiente familiar que preza por uma educação punitiva, a parentalidade positiva enxerga que esses limites são algo saudável, e devem ser estabelecidos sem necessidade de um comportamento ditatorial, imposições severas baseadas em castigos, broncas ou discursos de intolerância.

Enquanto a criação rígida, muitas vezes chamada de “tradicional”, envolve pais e mães fechados a novas ideias e ao diálogo, na educação positiva vale a comunicação construtiva e aberta, com base no respeito mútuo, firmeza na fala e entendimento das diferenças.

“Na educação punitiva os pais se tornam controladores do comportamento da criança, que é ensinada e educada pelo medo, por ameaças e até mesmo por meio de dores físicas e emocionais. Já na parentalidade positiva deixamos claro para o filho que mesmo quando existe o erro ele é amado e respeitado”, exemplifica Ge, ao dizer que crianças tendem a colaborar e aprender mais e melhor por meio do afeto e do respeito mútuo.

A mudança começa na educação… dos pais!

Para pais e demais responsáveis que desejem fazer essa mudança na educação dos filhos, antes de mais nada é importante reunir informações sobre a disciplina positiva, seja por meio de livros, consultas com especialistas, sites dedicados ao tema ou outros meios online ou offline. Nas palavras da psicopedagoga, é preciso educar a si mesmo antes de educar o outro.

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Entender ainda, que este é um longo caminho a ser seguido, que leva tempo e paciência, é outra maneira de se conscientizar para agir de forma prática, aceitar e acolher os erros e as tentativas em serem pais melhores a cada dia.

Alexander sugere, como primeiro passo, eliminar ações agressivas e punições com as crianças caso elas façam parte da sua rotina. Por mais que pareça complicado, ser mais participativo/a, promover maior integração entre os membros da família, não economizar nos gestos de carinho e, ainda, criar condições para que o pequeno vá desenvolvendo o próprio espaço e discernimento das situações é fundamental.

Na prática: por onde começo? 

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(JGI/Jamie Grill/Getty Images)

Ao sair da teoria e partir para o dia a dia, segundo os especialistas valem as dicas:

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  • Na bronca – Nada de xingamentos e ofensas quando a criança fizer algo que o desagrada. Em vez disso, explique o porquê de a atitude do pequeno estar errada, sem apontá-lo como razão do problema.
  • Na bagunça – Tome cuidado com as palavras usadas ao ensinar a criança a ter disciplina. Um ‘vamos arrumar os brinquedos juntos/as’ funciona muito melhor do que um ‘guarde já essa bagunça!’, certo?
  • No choro – Troque o ‘pare de chorar’ por acolhimento e diálogo: pergunte o que aconteceu e se há algo que você, como responsável, possa fazer para que a criança se sinta acolhida.
  • Nas dúvidas – Tente não fugir de perguntas que você não sabe ou não quer responder – faça um esforço, pesquise no Google, diga que não sabe, mas que vai procurar se informar sobre o assunto (e não passe a bola para o outro responsável!).
  • Nos desafios – Elogie as pequenas conquistas do filho ensinando a ele que falhar também é normal. Acolha sua criança em suas individualidades e entenda que ela precisa do seu amor para seguir em frente.
  • No lazer – Promova atividades e ações estimulantes e em conjunto com os demais membros da família, como jogos e brincadeiras.
  • No individual – Permita que a criança sinta, perceba e expresse afeto e carinho, dedique tempo de qualidade ao lado dela, invista em filmes e livros que transmitam ao pequeno gestos e pensamentos saudáveis e positivos.

“Não precisamos ameaçar, recompensar, punir, machucar os nossos filhos para ensiná-los, para torná-los bons seres humanos, repetindo os padrões do passado. Nosso trabalho é caminhar ao lado deles, crescer para curar as nossas próprias feridas, reconhecer as nossas necessidades infantis não atendidas, expandir a nossa inteligência emocional para elevarmos a nossa consciência, tornar-nos ouvintes especializados, companheiros de brincadeiras e contadores de histórias. Aceitação é sempre a necessidade, bondade é sempre a resposta e o amor é sempre o melhor caminho”, conclui Ge Gasparini.

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