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Educar é Preciso

Camila Menon trabalha com crianças desde a adolescência. É especialista em primeira infância, professora e diretriz Montessori da Educar é Preciso (@educarepreciso)
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Cama compartilhada: será que faz sentido para sua família?

Segundo Camila Menon, essa abordagem pode funcionar bem quando aplicada com responsabilidade e considerando necessidades de todos os envolvidos

Por Camila Menon
12 nov 2023, 12h00
três pares de pés, de um homem, uma mulher e uma criança, em uma cama, cobertos com uma colcha branca
 (Westend61/Getty Images)
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Para começar nossa conversa, acho interessante destacar que existem duas práticas, para aqueles que não conhecem a diferença: a cama compartilhada, em que a criança dorme na mesma cama que seu cuidador, e o co-sleeping, em que ela dorme ao lado da cama dos pais, mas em seu próprio colchão (no berço, berço acoplado à cama, cama menor ou mesmo um colchão no chão).

Dito isso, entre as duas, aquela com a qual mais simpatizo é o co-sleeping, pois atende às necessidades de ambas as partes. Os pais ficam mais calmos e relaxam, e a criança dorme sem uma necessidade tão grande de contato com os cuidadores. A longo prazo, essa abordagem é mais eficiente e faz mais sentido ao ensiná-la a dormir sozinha em seu quarto. Quanto à cama compartilhada, não sou fã, mas isso não significa que não funcione para algumas famílias.

Sempre que menciono isso, logo me perguntam por quê. Então, vou me adiantar. Não gosto e não recomendo por razões lógicas, como criar um processo no qual a criança dependa do adulto para dormir. Entendo as reais necessidades dela, que envolvem se sentir segura e amada, mas que não se limitam ao momento de dormir.

No entanto, o principal motivo é que a maioria dos adultos que optam pela cama compartilhada acabam transferindo para o filho as decisões de suas vidas e esperam passivamente que “o tempo da criança” aconteça. Isso cria uma conveniência para eles, mas não ensina a criança a dormir de forma autônoma. Depois, quando o processo se torna inviável para os adultos, eles a culpam pelo que está acontecendo.

Pensem nisso: como a culpa pode ser da criança se ela só conhece esse modo? Recebo muitas mensagens sobre crianças com mais de 6 anos que só conseguem dormir acompanhadas, e os cuidadores querem uma “solução mágica” para que elas saiam da cama deles, “porque já está na hora”. Ou seja, os adultos criam o processo, não sabem direcionar o filho de outra forma e depois o culpam pelo resultado.

Estudo mostra nova técnica para fazer bebês pegarem no sono mais fácil
(Ziggy_mars/Thinkstock/Getty Images)

Porém, para algumas pessoas, mesmo que seja a minoria, esse processo funciona superbem e continuo afirmando que não há problema algum em dormir juntos, desde que TODOS os envolvidos durmam bem e estejam felizes. Vale ressaltar que muitos casais não concordam com essa prática e, em vez de trabalharem em conjunto para resolver a situação, acabam apontando erros e culpando uns aos outros. Isso prejudica o amor e o respeito entre eles, levando a problemas de sono ou a dormirem em camas separadas (ou fingindo ignorar a situação), e criando uma vida medíocre, focada no que é mais fácil em vez do que é necessário.

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A cama compartilhada e a relação do casal

Uma vez li em um artigo que mais de 52% dos casais se divorciam dentro de três anos após o nascimento dos filhos e, recentemente, outro estudo mostrou uma antecipação em que 50% dos casais estão se divorciando logo no primeiro ano de vida da criança.

“E por que você está mencionando isso, Camila? Ter filhos aumenta a possibilidade de divórcio?” Sim, mas o problema não é a criança, como algumas pessoas podem pensar. O que acontece é que o filho amplifica o que já existe entre o casal, seja bom ou ruim, e isso é o que os indivíduos têm dificuldade de aceitar. Diferentemente de quem vê a criança como a causa de todos os problemas que levam ao divórcio, a verdadeira causa é a falta de comunicação e inteligência emocional do casal para lidar com a frustração de não ver suas expectativas atendidas.

E, em vez de se apoiarem, amadurecerem juntos e trabalharem como uma equipe para atenderem às necessidades da família, os dois passam a medir quem faz mais ou menos, como se o valor de cada um fosse determinado apenas pela quantidade de tarefas que desempenham. Acabam em extremos, como “tudo ou nada”. Sobrevivem em uma dinâmica em que tudo gira em torno da criança, negligenciando suas próprias necessidades como indivíduos e como casal. Ou, então, tomam decisões que priorizam apenas suas necessidades individuais, ignorando as da criança.

Com o tempo, isso leva a outros problemas, que se acumulam até alguém decidir que não quer mais fazer parte disso e acredita que tudo se resolverá magicamente a partir daí.

Abordei esse contexto, porque ninguém começa a fazer cama compartilhada como um sonho, mas muitas vezes decide fazer (geralmente por cansaço, falta de informação ou mesmo por preguiça) sem considerar todas as possíveis consequências. E você não pode imaginar quantos casais que atendi estavam apenas se tolerando e, quando avaliava a situação, descobria que a cama compartilhada era o ponto de discordância.

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Portanto, estou expondo esse lado que ninguém quer discutir, para que você tenha conhecimento e possa tomar decisões conscientes, aceitando as consequências, sejam elas boas ou ruins.

No dia a dia

Agora, voltando ao tema, como mencionei no início do texto, a prática não é negativa para todos. Quando a família segue as diretrizes básicas de segurança e passa a criança de fase, o processo se torna uma oportunidade agradável de conexão, e não uma condição em que o filho se torna dependente de dormir dessa forma. Se você deseja seguir esse processo, atente-se às seguintes diretrizes para garantir um sono seguro:

  • Bebês de 0 a 12 meses têm maior risco de morte súbita (Síndrome da Morte Súbita do Lactente – SIDS), então é recomendado que durmam sempre de barriga para cima em uma superfície firme, sem almofadas, colchões de água ou em superfícies macias, como sofás. Evite cobertores grandes que possam causar sufocamento. Crianças com menos de 2 anos não devem usar travesseiros, devido à formação de sua coluna e do pescoço.
  • O recomendado é que os cuidadores não sejam obesos, fumantes ou tenham consumido álcool ou sedativos.
  • Certifique-se de que a criança não seja colocada perto de vãos entre a cama e a parede. Use outro colchão para nivelar ou uma grade de segurança para evitar quedas.
  • Apenas os cuidadores principais devem dormir com a criança, e sempre com o conhecimento do mesmo (caso a criança seja colocada ao lado de um adulto que já estava dormindo).
  • Cabelos longos precisam ser presos, e o uso de cordões longos ou com pingentes deve ser evitado. O mesmo vale para crianças que dormem em colchões no chão: proteja as tomadas e evite que tenham acesso a itens não seguros. Mesmo permanecendo no mesmo ambiente, seu filho estará sem supervisão durante o seu sono.
  • Animais domésticos não devem dormir na mesma cama que a família.
  • A amamentação pode ajudar a diminuir o risco de morte súbita, então, é super-recomendada quando se faz cama compartilhada. Mesmo que a criança não durma na mesma cama que os pais, o co-sleeping ou um berço/colchão no mesmo quarto pode facilitar o processo noturno e proporcionar ajuda, se necessário.
  • Nunca adormeça com o bebê no colo.
                  mulher deitada de lado em uma cama, mexendo com uma bebê deitada em um berço que está acoplado à cama
                  (MaximFesenko/Getty Images)

                  Além dessas recomendações de segurança, considerando o desenvolvimento a longo prazo da criança, também tenho outras sugestões:

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                  1. Passe a criança de fase: mesmo que o processo esteja funcionando para sua família, coloque um prazo para acabar, ou você corre o risco de ter um adolescente dormindo na sua cama. Para quem acha que isso não é um problema, adianto que autoestima é construída de acordo com a valorização de si mesmo, segundo suas competências e, desde a infância, essa habilidade é fundamental para construção do próprio ser (e da forma com que a pessoa se vê). Então, conseguir fazer processos simples, como comer, brincar e dormir sozinho, é o mínimo que você deve ensinar a seu filho, para garantir que ele se sinta capaz.

                  2. Se um dos cuidadores não aceita a prática, em vez de gastarem a energia brigando, trabalhem como um time em busca de uma outra forma que seja mais eficiente para ajudar a criança a dormir.

                  3. Mesmo fazendo cama compartilhada, ensine a criança a dormir no carrinho e crie processos distintos para que outros cuidadores também consigam ajudá-la na rotina de sono. Ninguém gosta de pensar nisso, mas, se você é a única pessoa que consegue fazer a criança dormir, e se você ficar doente ou falecer, como fica?

                  4. Não limite o tempo de conexão apenas à hora de dormir. Tenha momentos de qualidade durante o dia, para garantir que as necessidades de atenção que a criança tem sejam atendidas enquanto ela está acordada

                  5. Amamentação livre-demanda não deve ser bagunçada. A partir dos 12 meses, o leite materno não atende mais as necessidades nutricionais e o foco deve ser a comida. Criança que não come o suficiente durante o dia acorda mais à noite por estar com fome, e isso não vai se resolver até que você faça o trabalho que precisa ser feito. Nesse caso, esteja presente e acolha, mas não ceda deixando a criança mamar infinitamente durante a noite. É por isso que ela já acorda sem fome e o ciclo se repete durante o dia.

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                  6. Quando você sentir que é hora de a criança sair da sua cama, faça isso aos poucos. Primeiro a transfira para outro colchão, no mesmo quarto. Só depois, ela passa para o quarto dela.

                  7. Lembre-se de que esse é um processo assim como qualquer outro, e não determina sua competência. Logo, você querer fazer ou não diz respeito apenas à sua vida e à da sua família. Portanto, respeite quem pensa ou faz diferente de você.

                  Em resumo, a decisão de praticar a cama compartilhada ou o co-sleeping é uma escolha de cada família. Ambas as abordagens podem funcionar bem quando aplicadas com responsabilidade e consideração pelas necessidades de todos os envolvidos. É essencial os adultos estarem cientes das diretrizes de segurança e manterem um diálogo aberto para garantir que parceira e parceiro estejam alinhados nas decisões relacionadas ao sono da criança.

                  O mais importante é criar um ambiente de amor, segurança e respeito, independentemente da forma como vocês optem por dormir. O que faz a diferença é a qualidade do relacionamento e a capacidade de apoiar o crescimento saudável do seu filho, guiando-o no desenvolvimento da autonomia e da autoestima desde os primeiros anos.

                  + LEIA AQUI OUTRAS COLUNAS DA CAMILA

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