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Separação: como conversar sobre divórcio com as crianças

Psicóloga dá dicas de como tornar esse momento menos difícil para os pequenos.

Por Carla Leonardi
22 mar 2018, 12h39

Decidir pela separação nunca é um momento fácil para o casal e, quando se tem filhos, todo esse processo se torna ainda mais delicado. Além de lidar com as próprias questões, pai e mãe precisam tornar o divórcio menos dolorido para as crianças que, muitas vezes, demoram para entender o que está acontecendo e, principalmente, para aceitar que aquilo não é culpa de ninguém.

“Esse assunto é sempre muito delicado e ter uma conversa sincera e acolhedora pode ser um bom início.  Digo ‘bom início’ porque é possível que um diálogo como esse abra uma série de outros questionamentos que precisarão ser examinados”, diz Renata Bento, psicóloga, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, perita em Vara de Família e assistente técnica em processos judiciais.

A profissional ainda ressalta que a forma com que os pais lidam com o divórcio tem forte influência nos filhos, o que significa que o sofrimento pode ser maior ou menor, de acordo com as atitudes deles.

“A hora certa de conversar é quando o casal já tomou a decisão e, portanto, precisa começar a lidar com o novo momento, que é contar aos filhos. A separação gera dúvidas nas crianças e é difícil responder a todas, mas isso não precisa ser um problema. O importante é que os pais possam lidar minimamente bem com a questão para, de algum modo, tranquilizar e dar estabilidade emocional ao pequeno, passando para ele a segurança de que ele continuará a conviver com ambos”, explica.

Não tentar disfarçar

Embora muitas vezes fique a impressão de que os filhos não sabem o que está acontecendo, é importante lembrar que as crianças são muito atentas. Elas observam tudo que está no entorno e percebem o ambiente. Entretanto, muitas vezes não compreendem o que acontece de fato e tendem a se culpar, achando que fizeram algo de errado que levou à separação.

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“É muito importante abordar o assunto de forma verdadeira, explicando que a decisão é algo dos adultos e que eles estão cuidando disso. Deve-se também deixar o pequeno falar e questionar, pois só assim será possível entrar em contato com um pouco do que se passa na mente dele”, orienta Renata, que destaca a necessidade que os baixinhos têm de expressar e de elaborar esse novo momento.

Uma conversa para cada idade

A psicóloga e psicanalista lembra que é preciso levar em conta o tamanho dos filhos no momento do diálogo. “É sempre importante saber como falar com a criança de acordo com sua idade, preservando-a de detalhes que não dizem respeito a ela, dando elementos que ela possa ‘digerir’ mentalmente. Ela precisa do adulto para protegê-la e preservar seu mundo infantil, já que ainda está em desenvolvimento e não possui a competência psíquica de um adulto”, explica.

Sobre ter essa conversa juntos – pai, mãe e filhos – a especialista pondera que isso vai depender de como os adultos estão vivenciando a experiência do divórcio, se conseguem se reunir para conversar ou não. O importante, segundo a psicanalista, é que a conversa seja franca e que se crie um espaço de diálogo, segurança e estabilidade emocional.

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“A separação é um momento de muita angústia para a criança. Por isso é importante que os pais possam esclarecer que eles seguem amando-a e que os motivos pelo divórcio são questões apenas dos adultos. O bem-estar dos filhos deve ser prioridade e objetivo comum dos pais”, alerta a psicóloga.

Respeito acima de tudo

Não há dúvidas de que a separação é um momento difícil para toda a família e de que, por isso, pode ser traumático para os pequenos. Mas lidar com respeito em relação aos sentimentos deles é essencial para tornar o processo menos dolorido, tendo sempre maturidade para ajudá-los a superar e a seguir em frente. “Ter respeito pelo cônjuge e pela história regressa também contribui para uma relação parental saudável e para o bom desenvolvimento da criança. Os filhos são o vínculo do casal e não poderá ser desfeito”, lembra Renata.

Pensando nisso, a especialista recomenda evitar alguns comportamentos, como discutir na frente da criança (principalmente se for a respeito da convivência com o outro ou da pensão alimentícia, como é tão comum) prolongar os conflitos entre o casal, tentar fazer aliança com o pequeno contra o outro genitor e dificultar o contato dele com um dos pais. “É preciso marcar para o filho que os pais continuarão acompanhando-o em seu dia a dia, em sua vida, e que ele não perderá seu lugar junto a eles”, finaliza.

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