“Estou com covid-19 e tenho medo de amamentar”: o que fazer?

Principal recomendação é que a lactante seja auxiliada por uma rede de apoio para conseguir extrair o leite e oferecê-lo ao bebê em copo, xícara ou colher.

Por Alice Arnoldi
21 set 2021, 16h57
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 (GOLFX/Getty Images)
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18 dias. Este foi o tempo que a dona de casa Thaís Espinosa, de 34 anos, ficou internada após ser infectada pela covid-19 em 2020. A mãe de duas meninas, Mariana, de quatro anos na época, e Mirela, de um, demorou a procurar pelo hospital por medo de ficar internada – como aconteceu com seu marido – e ser impossibilitada de continuar o aleitamento materno da caçula.

“Tive todos os sintomas da covid-19, como diarreia, dor de cabeça, fraqueza, mas eu segui amamentando e não tomei medicação, porque tinha medo de passar alguma substância pelo leite e fazer mal para a Mirela”, lembra Thaís. Neste meio tempo, as pequenas também testaram positivo para o coronavírus e, com 25% do pulmão comprometido por causa da doença pandêmica e um problema na aorta encontrado nos exames, a dona de casa acabou internada na UTI.

Neste momento, começou o misto da sua recuperação com a necessidade de pausar o aleitamento materno de Mirela, processo o qual Thaís ainda lembra com a voz embargada de choro. “No dia após ser internada, meus seios estavam enormes, comecei a sentir muita dor e entrei em desespero”, conta a mãe. Inicialmente, tentaram esvaziar as mamas com uma bomba extratora, mas com a febre alta e a mastite se formando, o médico orientou que Thaís tomasse medicação para secar o leite.

A dor de pausar o aleitamento materno

De um lado, Thaís precisava se recuperar completamente para voltar para casa. Do outro, sua caçula chorava de fome ao não aceitar a mamadeira e a introdução alimentar ainda não estar bem estabelecida. “No segundo dia internada, liguei para a pediatra dela, que receitou dar a fórmula. Quando vi a cena dela com a mamadeira, chorei demais, mas me conformei porque era para o bem dela”, lembra a mãe. Foram 14 dias com as mamas ainda produzindo leite, empedrando e a dona de casa relutante com a ideia da medicação, até que aceitou.

“O médico disse que eu consegui amamentá-la por um ano e ela não precisava mais, no entanto, gostaria de ter amamentado até quando ela quisesse. Queria que a escolha fosse dela. Só que infelizmente, eu já não tinha mais forças, a dor era muita… Tomei o remédio chorando”, desabafa a mãe.

A história de Thaís é apenas uma das que se repetiram dentro dos hospitais durante o avanço da covid-19, principalmente no início de 2020, quando ainda não se sabia tantas informações sobre o vírus e como ele afetaria a relação mãe e filho, inclusive pela dúvida se seria possível transmitir o vírus pelo leite materno. Mas não foi isso o que foi se constatando no decorrer dos meses.

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“Os estudos demonstraram que o leite materno não é uma via de transmissão do vírus, pois ele não é excretado no alimento materno. Além disso, os inúmeros benefícios do aleitamento superam este risco. Um ponto importante e que vale destacar é que, por meio do leite materno, a mãe passa ao bebê inúmeros anticorpos, dentre eles o da própria covid-19“, esclarece a infectologista Camila Almeida, do Hospital e Maternidade Santa Joana.

Amamentação depende de rede de apoio! 

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(Kathrin Ziegler/Getty Images)

Assim, desde o primeiro posicionamento da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), em março do ano passado, a recomendação é que o aleitamento materno seja mantido mesmo quando a mãe está contaminada pelo coronavírus, apenas com a atenção redobrada para os cuidados de higiene, como uso de máscara e lavagem frequente das mãos.

Só que, assim como aconteceu com Thaís, pode ser necessário remanejar a conduta do aleitamento materno – principalmente quando ele ainda é exclusivo –, caso a mãe não se sinta confortável para realizar a amamentação ou esteja fragilizada pela doença pandêmica.

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Quando há apenas o receio emocional da figura materna, Luciano Borges Santiago, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), orienta que especialistas reforcem à lactante os possíveis riscos e benefícios da amamentação neste momento.

Se ainda assim ela preferir não realizá-la direto no peito, a recomendação é fazer a ordenha do leite paramentada corretamente, enquanto uma pessoa não infectada oferece o alimento em copo, xícara ou colher para não acontecer a confusão de bicos e, mais tarde, ser possível a relactação.

E o que fazer diante de quadros mais graves? 

Esta mesma rede de apoio é a que auxiliará a lactante que está contaminada pelo coronavírus e está apresentando sinais fortes da doença, como exaustão profunda. “Caso ela esteja muito cansada, ao ponto de não conseguir extrair o próprio leite, o ideal é que se tenha alguém para ajudá-la. Seria um apoio específico, de uma pessoa que tomaria todos os cuidados para não se contaminar com a covid-19, e iria extrair o leite manualmente ou por bombas, e ofereceria no copo para o bebê”, destaca Luciano.

O especialista ainda enfatiza que procurar por um Banco de Leite Humano (BLH) nesta hora pode ajudar muito. Mesmo à distância, a pessoa da rede de apoio da mãe pode se informar sobre como está sendo a consultoria realizada pelos profissionais em casos de covid-19 e aprender a como extrair e ofertar o leite materno para o bebê, auxiliando a mãe enferma. Depois, quando a mulher estiver curada, ela também pode ir até a sede para aprender o passo a passo da técnica de relactação, caso seja preciso.

Já a recomendação da fórmula como alternativa depende da decisão médica a partir da conversa estabelecida entre a mãe e o pediatra do bebê. “Seria a última opção, porque ela traz riscos de alergia, o bebê perde uma série de nutrientes que só tem no leite materno, além de proteção contra infecções, como a covid-19”, lembra Luciano. Mas se for necessário, o recomendado é que ela também seja ofertada no copo, xícara ou colher para que seja possível o retorno ao aleitamento materno após a cura da mãe.

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