Desenvolvimento do bebê: por que a introdução dos sólidos deve acontecer aos 6 meses

Entre o quarto e o sexto mês de vida, uma série de transformações no corpo do pequeno permite que ele comece a ingerir alimentos diferentes do leite materno. Entenda essas mudanças.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 27 out 2016, 18h46 - Publicado em 6 out 2015, 17h23
OcusFocus/Thinkstock/Getty Images
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Ninguém duvida que o leite materno é o alimento mais completo que existe: rico em vitaminas, minerais, cálcio, gorduras benéficas e bactérias do bem, ele é capaz de proteger os bebês de uma série de doenças. Por isso, entidades do mundo inteiro, como a Organização Mundial da Saúde, orientam que a amamentação seja exclusiva até a criança completar 6 meses de vida. Depois desse período, o crescimento dos pequenos exige doses extras de nutrientes – daí porque é necessário complementar a sua alimentação com frutas, verduras, legumes, cereais, carnes…  

Mas você já se perguntou por que isso acontece aos 6 meses e não aos 8, por exemplo? “Entre 4 e 6 meses é o momento que a criança consegue sentar com apoio, identificar sabores e também quando certas enzimas responsáveis pela digestão começam a funcionar”, responde a pediatra nutróloga Virgínia Resende Silva Weffort, professora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Minas Gerais. Além dessas, outras transformações no organismo do bebê fazem do sexto mês o período ideal para introduzir novos alimentos em sua dieta. Consultamos um time de especialistas para saber quais são essas mudanças e o que está por trás de cada uma delas. Confira a seguir.

Desenvolvimento neuropsicomotor

A partir do segundo trimestre de gestação, o cérebro do bebê passa por um processo conhecido como mielinização, que consiste na formação da bainha de mielina. Essa estrutura funciona como uma capa que recobre os neurônios e facilita a comunicação entre eles. “Os impulsos nervosos passam melhor. É como uma corrente elétrica”, compara Virgínia. Isso tudo ocorre de forma progressiva, mas é entre 4 e 6 meses de vida que os nervos se encontram mais maduros. “A sua função está mais aprimorada e é isso que faz com que a criança ande, sente, fale…”, relata a professora da UFTM.

Aliás, o desenvolvimento motor é um dos principais fatores para que o pequeno esteja apto a engolir a papinha. “Para um bebê receber outros alimentos, ele tem que conseguir sentar, sustentar bem a cabecinha, o tronco e, principalmente, perder aquele reflexo de esticar a língua para mamar e acabar, assim, empurrando a colher para fora”, explica a pediatra nutróloga Fabíola Isabel Suano de Souza, do departamento científico de nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). E isso acontece exatamente em torno de 6 meses.

Desenvolvimento cognitivo

Aos 6 meses, o bebê está preparado para interagir com o mundo ao seu redor. “Nessa fase, ele tem curiosidade de abrir a boca e provar as coisas”, conta Fabíola. Está aí, portanto, mais um motivo por que esse é o momento ideal também para a introdução dos sólidos. 

Sistema gastrointestinal

Quando nascemos, alguns órgãos – em especial aqueles do trato digestivo – ainda não funcionam da maneira como deveriam. “O intestino é menos desenvolvido para a absorção de nutrientes; já o pâncreas e o fígado não conseguem liberar enzimas em quantidade adequada”, esclarece a especialista da SPSP. E aos 6 meses, todas essas funções se encontram em ordem.

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“Certas enzimas digestivas começam a ser mais eficazes no sexto mês, devido à quantidade de alimentos que o bebê vai comer”, ensina o pediatra Ary Lopes Cardoso, responsável pela Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. Além disso, a capacidade do intestino de barrar agentes estranhos é maior nesse período. “Aos 6 meses, as bactérias intestinais já estão instaladas e protegem a criança de possíveis infecções”, garante Fabíola Suano.

Maturação renal

Entre as importantes funções exercidas pelos rins estão a filtragem e a eliminação de água e sal, promovendo o equilíbrio desses dois elementos no corpo. Acontece que, antes dos 6 meses, o par de órgãos não está maduro o suficiente para desempenhar esse papel. “Ele não tem capacidade de eliminar grandes quantidades de sódio”, diz Cardoso. E saiba que, embora esse mineral seja famoso por compor o sal de cozinha, ele também está presente em alimentos como verduras e legumes – o que pode sobrecarregar os rins de um bebê de poucos meses.

Sistema imunológico

Um sistema imune mais maduro é capaz de impedir, entre outras coisas, que a criança desenvolva a alergia alimentar. E o momento em que as defesas do corpo estão prontinhas para entrar em contato com novos nutrientes e proteínas é, mais uma vez, em torno dos 6 meses. “Nessa fase, o sistema imune não reconhece esses elementos como estranhos e não dispara, portanto, uma reação alérgica”, justifica Virgínia Weffort, da UFTM. Isso é mais provável de acontecer em um bebê menorzinho.

Os riscos de introduzir os sólidos muito cedo… ou muito tarde!

Introduzir novos alimentos na dieta do pequeno antes do período de 4 a 6 meses pode ser perigoso. A começar pelo fato de que ele vai deixar de receber os benefícios do leite materno muito cedo. Além disso, com um sistema gastrointestinal imaturo, o bebê está mais propenso a desenvolver alergias e contrair infecções. “Qualquer bactéria pode levá-lo a ter diarreia, vômitos e desidratação”, alerta Fabíola Suano, da SPSP.

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Para completar, a má absorção de nutrientes pode levar tanto à chamada fome oculta (que é a carência de vitaminas e minerais) quanto ao excesso de peso. “Ao comer uma batata, por exemplo, a criança pode absorver tudo que tem ali e não eliminar nada. E aí, ela fica obesa”, exemplifica Virgínia Weffort.

Oferecer alimentos diferentes muito tarde também é negativo. É que, com todas essas transformações, a amamentação exclusiva não dá mais conta do recado. “E não é que o leite ficou fraco, a criança é que cresceu”, justifica a docente da UFTM. Por isso, ela precisa de mais nutrientes – que serão recebidos via frutas, verduras, legumes, carnes e cereais. Se não contar com esse aporte extra, o seu desenvolvimento pode ser comprometido.

Bebês que se alimentam por fórmulas

Para eles, a regra é a mesma: a alimentação complementar deve acontecer aos 6 meses. No entanto, dependendo do crescimento da criança, pode ser que o pediatra antecipe a introdução. “É que a fórmula não tem a mesma variedade de fatores imunológicos que o leite materno”, pondera Weffort.

E os prematuros?

A introdução da alimentação complementar daqueles que vieram ao mundo antes dos nove meses deve ser feita com mais cuidado. Isso porque, se o bebê foi um prematuro extremo ou nasceu com muito baixo peso, deve-se levar em conta a idade corrigida, ou seja, considerar o período que ele levaria para completar 40 semanas de gestação. “Essas crianças costumam ser mais imaturas em relação a órgãos, sistemas, enzimas… É um neném mais devagar”, resume Ary Lopes Cardoso, do Instituto da Criança. Já os prematuros que se desenvolvem normalmente e têm um bom crescimento estão aptos para fazer a introdução aos 6 meses.

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