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Volta às aulas: por que ainda não é momento de flexibilizar os protocolos

Mesmo com pais e professores vacinados, pediatras reforçam que medidas de segurança precisam ser mantidas, assim como atenção aos possíveis sintomas.

Por Alice Arnoldi
3 ago 2021, 19h20

No segundo ano consecutivo em que vivenciamos a pandemia causada pela covid-19, o retorno presencial à escola ainda divide opiniões entre os pais. Enquanto que, de um lado, adultos repensaram a volta dos pequenos já no primeiro semestre devido a perdas no aprendizado e retorno ao trabalho presencial, há quem diga que os filhos só voltarão quando houver a vacinação em massa do país. Ouvindo os especialistas, a avaliação do cenário é quase um consenso entre a comunidade médica: as instituições deveriam ter sido as primeiras a serem reabertas.

“Independente de vacinação ou não, os danos à educação das crianças são enormes. No Brasil, ficamos discutindo muito a imunização, se as escolas têm ou não condições de reabrirem – e, claro que você deve voltar aos poucos com menos alunos, distanciamento, máscara, ou seja, protocolos -, mas deveríamos ter retornado há muito tempo”, defende o pediatra Renato Kfouri, presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

O mesmo pensamento é defendido pela pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), quem tem acompanhado de perto o funcionamento de 200 escolas no Rio de Janeiro e Niterói durante a pandemia. “O Brasil é o país que ficou mais tempo com as escolas fechadas e os malefícios disso são muito maiores do que o risco da covid-19 para nossas crianças e adolescentes. Então, desde que a escola siga os protocolos, eu recomendo que todos enviem seus filhos”, reforça a especialista.

Isabella ainda explica que a vacinação de pais, professores e da população em geral tem reflexos importantes, como diminuição nos números de óbitos e hospitalizações, mas ainda não é o momento de flexibilizar os protocolos nas escolas. Na verdade, o que os pediatras esclarecem é que o retorno presencial das aulas só é seguro com instituições e familiares seguindo com atenção as recomendações de proteção contra o coronavírus.

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Qualquer sintoma é sinal de alerta!

Francisco Ivanildo Oliveira, infectologista do Sabará Hospital Infantil, pontua que o trabalho entre as escolas e os pais precisa ser em conjunto para garantir tanto a segurança dos próprios filhos quanto das outras crianças que estão frequentando as instituições.

O papel da família é detectar o aparecimento de qualquer sintoma nas crianças ou em outra pessoa que ela tenha tido contato, comunicar a escola de forma precoce e ter um alto grau de suspensão”, alerta o especialista.

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Esse processo pode ser desafiador, visto que a covid-19 em crianças pequenas pode ser confundida com outras doenças recorrentes no inverno, como gripes, viroses e bronquiolite. Isso significa que, diante de qualquer sintoma dúbio, é importante que os pais suspendam a ida dos filhos às atividades presenciais.

“Dor de garganta, coriza, sintomas gastrointestinais como diarreia ou vômito devem fazer com que a criança seja mantida em casa mesmo que o estado geral dela seja bom. Já que, na sequência, ela pode começar a desenvolver outros sinais e o quadro de coronavírus fique mais característico e ela seja diagnosticada”, detalha Francisco.

Além dos sintomas que envolvem diretamente o público infantil, o seu isolamento social também é recomendado caso os pais estejam com suspeita da doença ou a criança tenha tido contato com outra pessoa possivelmente contaminada pela covid-19. Em ambas as circunstâncias, é necessário que a escola seja alertada sobre a situação familiar.

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Máscara e distanciamento continuam sendo essenciais

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(Nicolò Campo / Colaborador/Getty Images)

Já em relação ao que se deve prestar atenção na estrutura escolar, Isabella cita as regras fundamentais de, pelo menos, um metro de distância entre os alunos e a não aglomeração. Para isso, Francisco complementa que é importante as instituições terem repensado a estrutura física dos ambientes, evitarem a circulação de pessoas desnecessárias nos locais e, se possível, manterem as bolhas de estudantes.

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E mesmo diante do maior número de vacinados, as máscaras continuam sendo fundamentais, inclusive para os pequenos a partir de dois anos e que tenham desenvolvimento motor para isso – se o utensílio faz com que as crianças muito pequenas levem ainda mais as mãos até o rosto, pode ser preciso repensá-lo.

Para a variante Delta, a qual já está presente no país e tem se tornado a grande preocupação mundial devido a sua capacidade maior de transmissibilidade, Isabella reforça que as máscaras continuam sendo efetivas na proteção da população. “Só que não é só usá-las, mas utilizá-las adequadamente. Principalmente nas crianças, ela tem que estar muito bem ajustada ao rosto, sem deixar nenhuma fresta”, reforça a pediatra.

“Uma dica, que é do CDC e estou adotando como recomendação para os pais, é o uso de uma máscara de cirúrgica coberta por uma de tecido, com pelo menos de duas a três camadas”, completa a pediatra. Ela ainda pontua que, atualmente, já é possível encontrar no mercado o utensílio cirúrgico específico para o público infantil e o mesmo vale para os de pano.

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Se estiver inseguro, pense com calma… 

Ainda que tenhamos todas as informações em mãos, decidir pelo retorno presencial dos filhos à escola pode ser desafiador. Neste momento, vale lembrar que a volta ainda é opcional e crianças que continuarem no sistema remoto devem ter a mesma qualidade de ensino garantida pelas instituições.

Só que, mais uma vez, literaturas que acompanharam a reabertura das escolas em outros países têm reforçado que a transmissão da doença dificilmente começa nas salas de aula. “Normalmente, nas epidemias domiciliares, quem começa o quadro é o adulto. Isso significa que as crianças participam muito pouco na cadeia da transmissão da doença. Não há como falar que há risco zero, mas não tem sentido shopping, praias, bares e restaurantes estarem abertos e escolas fechadas”, reforça Kfouri.

O mesmo é levantado pelo infectologista. “Estudos no Brasil e fora dele mostraram que a escola não é um fator importante no adoecimento das crianças ou ocorrência de surtos. A maior parte dos casos que acontece dentro das instituições não é de transmissão de crianças para professores ou de uma criança para outra, é mais entre funcionários adultos”, explica o infectologista.

Conforme a idade vai aumentando, o risco de contaminação também fica maior, como acontece entre adolescentes e adultos jovens. “Porque esses grupos costumam ter atividades fora da escola. É muito mais frequente que essa população já tenha uma vida social mais ativa e, nestas circunstâncias, é que ocorre a transmissão”, completa o médico.

“Quando tivermos uma boa cobertura vacinal com duas doses para a população maior de 18 anos e também tivermos um cenário melhor de controle da circulação da doença entre nós, vamos poder diminuir ou relaxar um pouco o protocolo nas escolas. Mas, infelizmente, estamos longe desse momento ainda”, pontua a pediatra.

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