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UNICEF pede que reabertura das escolas seja prioridade em 2021

O órgão defende a importância das escolas no combate à violência doméstica infantil e também à miséria que assola famílias brasileiras.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 8 jan 2021, 12h40 - Publicado em 7 jan 2021, 15h21

Para o controle do coronavírus ao redor do Brasil, o fechamento das escolas foi uma das primeiras medidas de prevenção adotadas pelos governantes. No entanto, com a pandemia ocorrendo há um ano, algumas instituições de proteção à criança e parte da comunidade médica defendem que as aulas presencias voltem a acontecer, visto que os prejuízos psicológicos e do desenvolvimento infantil estão cada vez mais visíveis.

E foi com esta conclusão que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) destinou uma carta aos prefeitos brasileiros que assumirão os cargos em 2021, pedindo que eles priorizem a reabertura segura das escolas.

No documento, Florence Bauer, representante da instituição no Brasil, explica que os locais de ensino são essenciais para que crianças possam começar a explorar o seu potencial acadêmico, preparar-se para suas carreiras, além de serem ambientes de acolhimento.

“As escolas também oferecem oportunidades para o desenvolvimento de competências de interação social e são essenciais à proteção contra diferentes formas de violência – incluindo a violência doméstica, que aumentou na pandemia”, explica a representante.

O problema das subnotificações

Um exemplo claro disso é o que aponta o relatório “Análise de Ocorrências de Estupro de Vulnerável do estado de São Paulo”, também realizado pela UNICEF em parceria com o Instituto Sou da Paz e o Ministério Público de São Paulo, divulgado no mês de dezembro.

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De acordo com o levantamento, os autores perceberam que a violência sexual contra menores de 14 anos não diminuiu no estado paulista. Mas as denúncias retrocederam em 15,7%, especialmente nos primeiros meses do ano em que a quarentena mostrava-se mais restritiva, inclusive com a paralisação completa das escolas.

Essa relação se dá porque o ambiente escolar é um dos principais meios para que educadores consigam observar sinais de que crianças estão sendo vítimas de algum tipo de abuso (principalmente no cenário domiciliar) e possam fazer com que os responsáveis pelo crime sejam denunciados.

Alimentação também está relacionada às escolas

Além do combate à violência doméstica, Florence lembra que escolas também são recursos da luta contra a miséria. Isso porque a merenda oferecida nas instituições acaba sendo a única refeição possível para muitas crianças.

“Por tudo isso, dizemos: as escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir em qualquer emergência ou crise humanitária. É fundamental empreender todos os esforços necessários para que as escolas de educação básica reabram no início deste ano escolar, em segurança. É um momento-chave que não podemos deixar passar”, reforça a representante.

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E como seria o retorno das aulas presenciais?

A UNICEF pontua que, assim como famílias e educadores, há a preocupação de contaminação pela Covid-19 por meio do convívio entre estudantes. Entretanto, a instituição analisa o cenário internacional, em que não se foi observado surtos da doença porque as aulas retornaram presencialmente – ainda mais quando os protocolos de segurança foram seguidos corretamente.

“A forma da reabertura tem de ser adaptada à situação local e pode incluir elementos de educação híbrida, uma mistura de educação presencial e a distância, rodízio de estudantes em grupos pequenos, etc”, explica Florence.

Para isso, a representante ainda esclarece que é necessário estar em contato direto com os profissionais da educação, os alunos e também seus familiares para que todos cheguem a um consenso de qual método é melhor para cada estudante. Por exemplo, para crianças que fazem parte do grupo de risco do coronavírus, o retorno presencial deve ser cauteloso e até mesmo evitado.

E para os pequenos que tiveram dificuldade com as aulas virtuais, Florence reforça que não se pode esquecê-los ou ser negligentes com a perda de desenvolvimento que ocorreu durante os meses de pandemia, porque o resultado disso pode ser o afastamento completo destas crianças em relação a educação.

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“Antes da Covid-19, já estavam fora da escola 1,5 milhão de crianças e adolescentes. Cada dia sem esse vínculo escolar aumenta o risco de abandono permanente. É preciso ir em busca de todas as crianças e todos os adolescentes, sem deixar nenhuma ou nenhum para trás”, finaliza o Florence.

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